O ex-presidente Donald Trump,o provável candidato republicano à presidência,durante uma entrevista em Mar-a-Lago,seu clube privado e residência em Palm Beach,Flórida — Foto: Doug Mills/The New York Times
GERADO EM: 12/07/2024 - 04:30
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O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump tem feito um grande esforço para se distanciar do Projeto 2025,um conjunto de propostas políticas conservadoras para uma possível nova administração republicana. Ele afirmou falsamente não saber nada sobre o projeto — ou sobre as pessoas envolvidas na sua criação,embora alguns de seus fortes aliados tenham participado ativamente do processo. O documento,suas origens e a relação entre ele e a campanha de Trump tornaram-se algumas das questões mais debatidas da corrida de 2024. Veja,abaixo,o que saber sobre o Projeto 2025 e quem esteve envolvido com ele.
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O Projeto 2025 foi liderado pela Fundação Heritage e por grupos conservadores com ideias semelhantes antes de Trump entrar oficialmente na corrida de 2024. A instituição é um centro de estudos que moldou a equipe e as políticas das administrações republicanas desde a Presidência de Ronald Reagan (1981-1989).
A proposta foi concebida como uma lista de opções para o governo Trump ou qualquer outra Presidência republicana. É a mais recente edição da série Mandato para a Liderança da Fundação Heritage,que tem compilado propostas políticas conservadoras de tempos em tempos desde 1981. No entanto,nenhum estudo anterior foi tão abrangente em suas recomendações — ou tão amplamente discutido.
Kevin Roberts,chefe da instituição,que começou a elaborar o último documento em 2022,disse acreditar que o governo americano abraçaria uma era mais conservadora,uma que ele esperava que os republicanos inaugurassem. Ao Real America’s Voice,um canal de direta,ele disse este mês que “estamos no processo da segunda Revolução Americana” — e que a revolta “permanecerá sem sangue se a esquerda permitir”.
Kevin Roberts,presidente da Heritage Foundation,durante uma entrevista coletiva em Washington,em março de 2022 — Foto: T.J. Kirkpatrick/The New York Times
Um representante do Projeto 2025 disse que não falava em nome de nenhum candidato,acrescentando que,“em última análise,cabe ao presidente,que acreditamos que será o presidente Donald Trump,decidir quais recomendações implementar”.
Grande parte das quase 900 páginas do plano detalham reformas extremas na administração executiva. Entre muitas recomendações,o Projeto 2025 apresenta planos para criminalizar a pornografia,desmantelar os departamentos de Comércio e Educação,rejeitar a ideia de aborto como cuidado de saúde e eliminar proteções climáticas.
Ele aponta a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica,que inclui o Serviço Nacional de Meteorologia,como “um dos principais motores da indústria de alarme sobre mudanças climáticas” e apoia o uso do Exército “para auxiliar em operações de prisão” na fronteira entre os Estados Unidos e o México. O nome de Trump — e o termo “administração Trump” — aparecem repetidamente no documento.
O Projeto 2025 é liderado pela Fundação Heritage e não vem diretamente de Trump. Mas isso é apenas parte da história. Alguns ex-conselheiros de alto nível do republicano durante o primeiro mandato dele — e que provavelmente poderão ocupar cargos importantes caso ele vença em novembro — impulsionaram partes do plano.
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Russell Vought,antigo diretor de orçamento de Trump,liderou uma seção do Projeto 2025 que tratava de decretos. Vought é o diretor político da Convenção Nacional Republicana,e o partido nacional é controlado por aliados de Trump. John McEntee,ex-chefe de pessoal da Casa Branca,que iniciou a tentativa sistemática de Trump de eliminar funcionários considerados desleais em 2020,também está envolvido na elaboração do documento conservador.
Recentemente,Trump fez um grande esforço para se distanciar do projeto,chegando até mesmo a afirmar falsamente que não sabe nada sobre ele ou sobre as pessoas envolvidas nele. O ex-presidente escreveu em sua rede social na última sexta-feira que discordava de partes da proposta. E,sem especificar sobre quais partes ele falava,disse: “Algumas das coisas que eles dizem são absolutamente ridículas”.
O ex-presidente tem historicamente se mostrado desinteressado,e até mesmo hostil,em relação a qualquer tipo de planejamento de transição para um possível segundo mandato. Mas ele não fez segredo sobre seus planos de eliminar proteções dos funcionários públicos,conduzir o maior esforço de deportação em massa da História,impor tarifas abrangentes e atacar seus inimigos usando poderes presidenciais.
Donald Trump discursa em seu primeiro evento de campanha desde que ele se tornou o primeiro ex-presidente americano condenado por acusações criminais — Foto: Ash Ponders/The New York Times
Parte disso,embora não tudo,pode ser encontrado na própria plataforma de políticas da campanha de Trump,chamada Agenda47. Ela é mais sucinta que o Projeto 2025. E mesmo que Agenda47 seja a lista oficial de prioridades políticas de sua campanha,Trump raramente menciona a Agenda47 pelo nome na campanha.
O republicano venceu as eleições presidenciais de 2016 em parte por ter dito uma série de coisas,algumas delas contraditórias,sobre política,deixando que diferentes pessoas ouvissem o que queriam em suas palavras. Mantendo a abordagem,a plataforma do Partido Republicano lançada nesta segunda-feira apresenta uma agenda menos específica,que reflete um abrandamento sobre o aborto – questão que Trump vê como sua maior vulnerabilidade – e sobre união homoafetiva.
Há algumas diferenças entre os dois planos. Uma delas é em relação ao aborto. O Projeto 2025 propõe restringir esse direito,afirmando que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos federal “deveria voltar a ser conhecido como o Departamento da Vida” (embora o órgão nunca tenha sido conhecido por este nome),e que o próximo presidente conservador tem “a responsabilidade moral de liderar a nação na restauração de uma cultura da vida na América novamente”.
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A Agenda47,por sua vez,não menciona o aborto. A posição pública de Trump sobre o assunto tem mudado regularmente. Quando concorreu em 2016,ele prometeu nomear juízes que derrubariam a histórica Roe v. Wade – e,com ela,a proteção federal do direito ao aborto. No debate presidencial deste ano,o republicano chamou a decisão que a anulou “uma coisa ótima”. Mas também pontuou que os direitos ao aborto deveriam ser decididos estado por estado.
Ainda assim,há muitas semelhanças entre os dois documentos. Uma delas sobre a erosão da independência do Departamento de Justiça. Trump frequentemente criticou a legitimidade da investigação do órgão sobre suas tentativas de anular os resultados da eleição de 2020. O Projeto 2025 argumenta que o departamento sofre de “inchaço burocrático” e deve ser controlado. Diz,ainda,que ele está repleto de funcionários comprometidos com uma “agenda liberal radical”.
A campanha e o Projeto 2025 ainda compartilham demandas para acabar com programas de diversidade,equidade e inclusão,mencionando a “normalização tóxica da transgenerismo”,como o Projeto 2025 chama. Trump afirma que vai “manter homens fora dos esportes femininos”. Já na política internacional,ambos enfatizam a perspectiva protecionista. Seções no Projeto 2025 e na Agenda47 sugerem tarifas mais altas sobre os concorrentes e o aumento da concorrência com a China.
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Outra proposta do Projeto 2025 é entregar mais cargos federais a pessoas nomeadas leais ao presidente. Durante a Presidência de Trump,ele emitiu um decreto tornando mais fácil demitir funcionários de carreira e substituí-los por pessoas de “confiança”. O atual presidente dos EUA,Joe Biden,rescindiu a ordem,conhecida como Schedule F,mas Trump disse que a reemitiria se ganhasse um segundo mandato.
A campanha do presidente Biden e seus apoiadores vincularam o Projeto 2025 a Trump,alertando repetidamente que esta é uma evidência de uma agenda extrema para um segundo mandato do republicano. Eles chamam a proposta de “um plano autoritário” nos comunicados de imprensa,postagens nas redes sociais e aparições na televisão.
O presidente Joe Biden faz um discurso durante o evento de 75º aniversário da OTAN em Washington — Foto: Doug Mills/The New York Times
O Projeto 2025 chegou ao público em geral atraindo condenações em programas noturnos,podcasts e programas de premiação. Os esforços da campanha de Biden para comentar o assunto recebem mais engajamento do que a maioria das demais postagens das contas oficiais do presidente,de acordo com um funcionário da campanha democrata. Biden já mencionou que “o Projeto 2025 deveria assustar todos os americanos” porque “daria a Trump poder ilimitado sobre nossas vidas diárias”.
No ano passado,após o Projeto 2025 ganhar força na mídia e a campanha de Biden incorporá-lo como parte central de sua mensagem,os principais assessores da campanha de Trump emitiram um comunicado. Em dezembro,Susie Wiles e Chris LaCivita disseram em nota que,a menos que indicado pela equipe de campanha ou pelo próprio ex-presidente,“nenhum aspecto da futura equipe presidencial ou anúncios de políticas deve ser considerado oficial”.
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Wiles e LaCivita têm se frustrado continuamente com a cobertura da imprensa sobre o Projeto 2025. Eles veem grande parte dela como prejudicial em uma eleição geral — e estão especialmente ansiosos com qualquer coisa que tenha a ver com restrições ao aborto,um sinal de que Trump está tentando parecer mais moderado na questão. Após a derrubada de Roe,decisão tomada por juízes conservadores que ele nomeou,Trump está cada vez mais convencido de que restrições rigorosas ao aborto são uma espécie de “veneno eleitoral”.
Além da questão do aborto,muitos conservadores não contestam a natureza radical do Projeto 2025 e abraçam as propostas. Steve Bannon,um aliado próximo de Trump,disse à ABC News no final de junho,antes de se apresentar à prisão federal para começar uma sentença de quatro meses por desacato ao Congresso,que o Projeto 2025 “desmontaria o estado administrativo tijolo por tijolo”.
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