Fake news — Foto: Helmut Fohringer/APA-PictureDesk/AFP
GERADO EM: 14/07/2024 - 04:30
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Um estudo interessante foi publicado recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): a Truth Quest Survey,ou pesquisa da “Busca pela verdade”. Ela traz informações que permitem entender melhor os mecanismos da desinformação e sua difusão,um problema crescente com imensos impactos negativos no mundo de hoje.
A pesquisa mostra que os brasileiros estão em último lugar entre 21 países na capacidade de discernir se uma notícia na internet é verdadeira ou não. Em média,os entrevistados foram capazes de diferenciar conteúdo verdadeiro e falso em apenas cerca de 60% das vezes.
Uma outra pesquisa,do Instituto Locomotiva,mostra que quase 90% da população brasileira admite ter acreditado em conteúdos falsos. Mesmo assim,62% confiam na própria capacidade de distinguir fatos de fake news.
As mídias sociais são uma fonte de notícias popular no mundo todo,sendo que,segundo a OCDE,os brasileiros são os que mais usam e mais confiam nessas plataformas para se informar. Talvez por isso nos deixamos enganar mais facilmente.
Um giro rápido pelas redes mostra bem o alcance estupendo da desinformação online. Um “coach” que já foi condenado por assalto a bancos e vende cursos de autoajuda com um réu por tráfico de drogas tem 11 milhões de seguidores; milhares de blogueiros vendem suplementos inúteis,que podem fazer mal à saúde; centenas de médicos afirmam que vacinas que salvaram milhões de vidas podem matar; políticos negam que o aquecimento global seja causado pela ação humana.
Na época das eleições,milhões acreditaram nas mentiras difundidas em massa pelos canais,perfis e robôs do bolsonarismo. O uso estratégico das redes sociais pela extrema direita provocou a disseminação do ódio,e a brutal polarização que dividiu nossa sociedade e criou um efeito de seita onde muitos acreditaram que piscando seus celulares para o céu salvariam nosso país das garras do comunismo.
Com o aumento da sofisticação da IA,a capacidade de gerar falsificações de pessoas e suas vozes será muito aperfeiçoada. Empresas ou grupos poderão criar oráculos capazes de simular emoções e estabelecer conosco relações de afeto e intimidade,as armas mais eficazes para manipular corações e mentes.
Um artigo na Nature de junho alertou sobre o mau uso da IA e os riscos graves da desinformação. O Fórum Econômico Mundial a classificou como o maior perigo global no momento,à frente de eventos climáticos extremos ou guerras. Em 2024 mais de 50 países realizarão eleições decisivas.
Ameaças tão graves nos remetem a duas questões urgentes. A primeira é a regulamentação e responsabilização das redes sociais. Já há um quase consenso de sua necessidade absoluta. Quem ainda afirma que se trata de censura é porque tem interesse em continuar produzindo desinformação para benefício próprio. Diversos países já implementam leis e medidas nesse sentido. Precisamos voltar a essa discussão.
A segunda é a educação midiática,fundamental para a defesa da democracia e enfrentamento da desinformação. Em 2017 a BNCC já estabelecia que todos os estudantes devem ser capazes de “compreender,utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica,significativa,reflexiva e ética”. Em 2023,o Brasil criou a Secretaria de Políticas Digitais,que elaborou,após uma consulta pública,a Estratégia Brasileira de Educação Midiática,que inclui a formação 700 mil profissionais da educação e saúde,e a criação da primeira Olimpíada Brasileira com o tema.
Por sua vez,a Secretaria de Comunicação da Presidência criou um Grupo de Trabalho,do qual faço parte,que vai lançar em poucos meses um Guia de Orientação para o Uso Consciente de Telas por Crianças e Adolescentes. Estamos avançando num campo de vital importância para nosso futuro,mas cujo terreno minado exige muita atenção.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro