Gil Greco Rugai,de 41 anos: preso pela morte do pai e da madastra — Foto: SBT/Tá na Hora
GERADO EM: 23/07/2024 - 04:30
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Classificado pelo teste de Rorschach como impulsivo,imaturo,agressivo,egocêntrico,inconstante e frustrado,o ex-seminarista Gil Rugai,de 41 anos,teve parecer negativo no exame psicológico anexado na semana passada ao seu processo de execução penal. Com isso,o Ministério Público paulista pediu à Justiça que ele continue cumprindo sua pena de 33 anos na Penitenciária de Tremembé,onde está recluso há mais de uma década por ter assassinado o pai e a madrasta com nove tiros,em 2004. Ele havia pedido para cumprir o resto da pena em liberdade,como fazem hoje Suzane von Richthofen,Daniel Cravinhos,Elize Matsunaga,Anna Carolina Jatobá e,mais recentemente,Alexandre Nardoni.
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Segundo o promotor Gustavo José Pedroza Silva,do Departamento Estadual de Execuções Criminais da 9ª Região de São José dos Campos,o laudo de Rorschach levantou dúvidas significativas sobre a maturidade emocional e o controle dos impulsos de Gil Rugai. “O teste oferece um panorama mais detalhado e complexo do estado psicológico do reeducando,impondo sérias reflexões sobre sua capacidade de reintegração à sociedade”,argumentou o promotor.
O ex-seminarista cumpre pena no regime semiaberto desde 2021,o que lhe permite deixar a penitenciária cinco vezes por ano nas saídas temporárias,passando sete dias em casa com o namorado,o ex-guarda civil metropolitano (GCM) Marcos Rocha da Silva,de 43 anos,também integrante do regime semiaberto. O casal também sai junto todos os dias da penitenciária usando uma tornozeleira eletrônica para estudar Arquitetura e Urbanismo numa universidade particular em Taubaté.
Marcos Rocha da Silva e Gil Rugai durante saída da prisão — Foto: G1
Na Justiça de São Paulo,o teste é utilizado na execução penal de presos que cometeram crimes hediondos,pedófilos e parricidas para avaliar o arrependimento e o potencial de reincidência. O laudo de Rorschach costuma revelar verdades que o indivíduo tenta esconder,além de avaliar a relação entre os componentes da sua inteligência e os bloqueios emocionais.
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De acordo com o laudo psicológico baseado no teste de Rorschach,Gil Rugai “apresenta conflitos afetivo-emocionais e impulsividade latente que se manifestam especialmente em momentos de maior ansiedade e estresse,provocando oscilações de humor”. A imaturidade em sua expressão afetiva é um ponto crucial destacado pela psicóloga-perita. “Gil tem mudanças intempestivas de humor e labilidade dos sentimentos,além de uma baixa tolerância à frustração. Essas características,somadas à presença de fantasias imaturas,facilitam reações mais impulsivas e contribuem consideravelmente para a sua desadaptação no relacionamento interpessoal”,escreveu a psicóloga Mônica Evelyn Thiago.
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As imagens do teste de Rorschach — Foto: Reprodução
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Publicidade Laudo decorrente da avaliação,elaborado por um psicólogo,é fundamental para que o juiz decida se o preso está ou não apto a retornar às ruas
O parecer enfatiza que,no aspecto de processamento das informações – elaboração e organização das experiências na memória –,as associações formadas por Gil Rugai são baseadas em uma lógica mais pessoal e pouco objetiva. Predominam em seu pensamento concepções imaturas que interferem no entendimento mais objetivo da realidade,prejudicando suas capacidades de atenção e concentração,fundamentais para um julgamento mais preciso da realidade.
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“No que tange às funções conativas,aquelas que antecedem e possibilitam o comportamento explícito de natureza intelectual e afetivo-emocional,registrou-se que o reeducando tem dificuldade em iniciativa e tomada de decisões,em virtude de um julgamento pouco objetivo. Além disso,ele apresenta fracasso nas situações mais afetivas devido à presença de fantasias imaturas que promovem a perda de controle sobre seus impulsos motores”,argumentou o promotor com base no resultado do Rorschach de Gil Rugai.
Gil Rugai e Marcos Rocha da Silva na universidade — Foto: g1
Outro ponto relevante destacado no laudo é a característica do ex-seminarista que favorece reações mais intensas,podendo apresentar mudanças intempestivas de humor,labilidade dos sentimentos e agressividade com consideração precária das circunstâncias externas. A perita concluiu que eventuais falhas em suas defesas,seja por motivo de estresse ou impacto afetivo mais intenso,podem ocasionar a liberação de seus impulsos mais básicos e egocêntricos.
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Embora Gil Rugai possua condições de exercer sua autonomia e autoafirmação,a psicóloga afirma que sua capacidade de adaptação social é frequentemente influenciada por emoções e fantasias imaturas. Isso resulta em sentimentos de impotência e inadequação que o levam a priorizar seu ponto de vista,pautado por um autoritarismo infantil e mostrando resistência a mudanças. Essas mesmas fantasias imaturas prejudicam o comportamento manifesto e dificultam o desenvolvimento de uma adaptação autônoma e amadurecida às situações da vida.
Para manter Gil Rugai na cadeia por mais tempo,o Ministério Público argumentou que ele cometeu um crime “muito grave” (homicídio qualificado com duas vítimas) e que ele só cumpriu aproximadamente um terço da pena. Ou seja,ele só estará quite com a Justiça em 2044. “O tempo proporcional de cumprimento é considerado diminuto,e a exposição de motivos da Lei de Execuções Penais sustenta que a progressão deve ser uma conquista do condenado pelo seu mérito”,argumentou o promotor.
Luiz Carlos Rugai,de 40 anos,e Alessandra de Fátima Troitin,de 33: mortos em 2004 — Foto: Reprodução
No final do parecer encaminhado à Justiça,está escrito: “O Ministério Público conclui que Gil Rugai ainda não reúne os requisitos necessários para a progressão de regime. O reeducando é imaturo e isso afeta suas funções afetivas,conativas e intelectuais. O elevado grau de subjetividade em seu julgamento dos fatos,o desinteresse pelo externo e as preocupações de âmbito apenas pessoal,a atitude de oposição e teimosia,com tendência a impulsos primários e agressivos,permitem a suposição de que Gil Rugai ainda necessita de melhorias no âmbito interno. Ele precisa ter uma melhor apreensão sobre sua conduta,objetivamente considerada,para que possa retornar ao seio da sociedade”.
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Gil Rugai nunca assumiu o crime pelo qual foi condenado. Esse fator dificulta sua liberdade,já que lidar com o delito é uma das questões básicas para provar arrependimento. O ex-seminarista tentou escapar do teste de Rorschach durante quatro anos,recorrendo até ao Superior Tribunal de Justiça (STJ),mas perdeu todos os recursos.
O laudo anexado agora em seu processo de execução penal não é o único a comprometer a progressão de pena do ex-seminarista. Em seu exame criminológico consta que ele apresenta comportamento egocêntrico,com traços de impulsividade,imaturidade e fantasias ligadas às suas necessidades pessoais. A perícia aponta ainda que Gil foi diagnosticado com transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo (TPOC),um distúrbio caracterizado pelo padrão persistente de preocupação com a ordem,perfeição e controle.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro