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Obra completa de Harry Potter, 'boa conduta' e recusa a projetos e cursos: a vida do espião russo na cadeia em Brasília

Jul 24, 2024 Ai IDOPRESS

O suposto espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov,preso no Brasil desde 2022 — Foto: Reprodução

RESUMO

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GERADO EM: 24/07/2024 - 04:30

Prisão de espião russo em Brasília: recusa projetos de leitura e tem pedido de visita negado.

Suposto espião russo preso em Brasília recusa projetos de leitura na cadeia,mas empresta 97 livros,incluindo Harry Potter. Com boa conduta,negou cursos e tem amnésia. MP é contra regime aberto. Descoberta farsa de passaporte falso. Pedido de visita virtual da mãe negado por órgão prisional.

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Preso na penitenciária federal de Brasília desde dezembro de 2022,o suposto espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov se recusou a participar do projeto que reduz a pena por leitura,mas já pegou emprestado com a administração 97 obras — dois terços dos livros são de ficção. O GLOBO acessou a lista de livros e nela está a coleção completa de Harry Potter,livros da série literária Witcher,também sobre contos envolvendo bruxos,um livro religioso intitulado “Deus não está morto” e um livro de autoajuda de um autor norte-americano.

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Estão na relação,ainda,o primeiro livro de ficção de Hillary Clinton,o thriller político “Estado de terror”,“Admirável Mundo Novo”,romance distópico do inglês Aldous Huxley,e todos os oito volumes da série de romance Outlander. Sergey também pegou um livro sobre o serviço secreto dos Estados Unidos,"Inimigos – Uma história do FBI",escrito pelo repórter Tim Weiner,que fez uma ampla pesquisa em milhares de documentos e entrevistas registradas por agentes.

Os detentos têm direito ao empréstimo semanal de cinco materiais para leituras,entre livros,revistas,gibis e caça-palavras. Sergey também leu 26 revistas. Segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen),ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública,Sergey não cometeu nenhuma falta disciplinar desde que entrou no sistema e tem em sua ficha anotação de "boa conduta" carcerária.

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Ainda de acordo com a pasta,Sergey não recebe muitos livros e revistas depositados ou doados em seu nome. Por isso,sua leitura se resume ao conteúdo catalogado pelo presídio. A biblioteca da unidade disponibiliza obras já analisadas e liberadas quando o teor "não compromete a segurança pública,a disciplina ou a ordem jurídica",diz a Senappen.

Além de não participar do processo de remição de leitura,o suposto espião não realizou cursos profissionalizantes particulares e nenhuma outra atividade educacional desde que entrou no sistema prisional. Na entrevista de inclusão,ele disse apenas possuir o Ensino Superior Completo.

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Em abril,o espião reclamou do breu em sua cela. Em petição enviada à Justiça,Sergey afirmou que foram colocadas barras de metal na parede,“atravessando e tapando” a única luminária do local,e que,com isso,a sua cela ficou escura,prejudicando a leitura. A medida foi tomada pela direção do presídio após a fuga de dois detentos em Mossoró (RN),em fevereiro.

Cherkasov criou uma identidade brasileira falsa há mais de dez anos,em nome de Victor Müller Ferreira. Com esse documento,ele estudou na Irlanda e nos Estados Unidos e tentou entrar na Holanda para trabalhar no Tribunal Penal Internacional,em Haia,que julga crimes de guerra. Para a Polícia Federal,o objetivo dele era obter informações sensíveis para a Rússia,que está em guerra com a Ucrânia.

A descoberta da farsa ocorreu na tentativa de entrar na Holanda,em abril de 2022. Enviado de volta ao aeroporto de Guarulhos,o estrangeiro foi preso e processado na Justiça Federal em São Paulo por uso de documento falso. Logo após sua condenação em primeira instância,em junho de 2022,a Rússia pediu a extradição do suposto espião.

As autoridades russas sustentaram que Cherkasov não era um espião,mas sim um traficante ligado a um grupo criminoso,liderado por um cidadão do Tadjiquistão,que fornecia heroína da região de Moscou para Lipetsk.

Sergey cumpre pena por uso de documento falso. Ele foi condenado em primeiro instância a 15 anos de prisão,mas teve redução da pena para para 5 anos,2 meses e 15 dias de prisão após decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) de julho do ano passado.

Em janeiro,ele foi indicado pela PF por lavagem de dinheiro e associação criminosa em outra investigação. Nela,a polícia apontou que o estrangeiro recebeu em sua conta depósitos mensais feitos em uma agência bancária do Rio de Janeiro por um funcionário da Embaixada da Rússia.

Em março do ano passado,o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin decidiu que Sergey será extraditado só depois do fim das investigações em curso no Brasil que o envolvem,incluindo apurações da Polícia Federal de possíveis atos de espionagem e corrupção passiva.

Visitação

O GLOBO pediu via Lei de Acesso à Informação a lista de visitantes do suposto espião,mas a Senappen negou sob alegação de que se trata de uma informação pessoal,com acesso restrito pelo prazo máximo de 100 anos. No último dia 2,Sergey pediu,por meio da Defensoria Pública da União (DPU),uma visita virtual internacional da sua mãe. A defensoria explicou que localizou a mãe do espião,e que ela manifestou interesse em conversar com o filho.

A conversa seria acompanhada por um intérprete e por um servidor do sistema prisional. A mãe do preso teria que ir ao consulado ou embaixada brasileira na Rússia para fazer a videochamada. A defensoria solicitou ao Procurador Federal dos Direitos do Cidadão que determine ao presídio federal realizar a visita virtual,ordenando que o Ministério das Relações Exteriores disponibilize a embaixada brasileira em Moscou como ponto no exterior para a mãe do extraditando.

Ainda não houve parecer após o pedido. Antes disso,a Diretoria do Sistema Penitenciário Federal já havia negado a visita virtual,ressaltando que “visitações feitas por meio de outras instituições na Rússia ainda não estão de acordo com os procedimentos estabelecidos”.

O órgão pontuou,que a portaria que trata sobre as visitas ao Sistema Penitenciário Federal tem por fundamento “a efetividade da neutralização de articulações criminosas por parte de presos de alta periculosidade”.

“A concessão de visitas virtuais em desobediência às diretrizes da referida norma prejudica o efetivo monitoramento e controle de pessoas e comunicações com as quais o preso manterá contato,assim como não garante a integralidade,autenticidade e compartimentação dos registros,colocando em risco o isolamento do preso e a proteção das informações tratadas durante a visita virtual”,frisou em documento do dia 27 de junho.

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