Barco visita geleiras no Parque Nacional Vatnajokull,na Islândia — Foto: Marcel Mochet/AFP
GERADO EM: 05/09/2024 - 04:31
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Um turista americano estava visitando uma caverna de gelo em um dos maiores parques nacionais da Europa no mês passado quando um arco congelado desabou,matando-o e ferindo sua namorada. Embora o acidente na Islândia não possa não estar diretamente relacionado às mudanças climáticas,especialistas afirmam que,com o aumento das temperaturas,a redução e até mesmo o desaparecimento das geleiras popularizaram uma nova forma de viagem de aventura conhecida como “turismo da última chance”,ou "turismo do fim do mundo".
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À medida que mais pessoas correm para ver as geleiras antes que elas derretam,lugares como a Islândia têm se beneficiado economicamente com o turismo em expansão. Meio milhão de pessoas visitam o país para conhecer suas geleiras todos os anos,de acordo com Elin Sigurveig Sigurdardottir,chefe de operações da Icelandic Mountain Guides,uma agência que lidera passeios em uma das geleiras dentro do Parque Nacional Vatnajokull,onde ocorreu o acidente.
O casal americano estava em uma excursão aos pés da geleira Breidamerkurjokull,que tem cavernas de gelo,formadas por água derretida,conhecidas por suas paredes azuis brilhantes. Elas são mais mais fáceis de acessar a partir da base das geleiras — que nada mais são do que enormes rios congelados de gelo comprimido e neve que descem lentamente pelas encostas das montanhas.
O serviço de parques da Islândia suspendeu temporariamente as excursões às cavernas de gelo enquanto as autoridades analisam o episódio e atualizam os procedimentos de emergência.
— É um bom exemplo da consequência que a mudança climática pode ter sobre o turismo nas geleiras — disse Emmanuel Salim,professor assistente de geografia da Universidade de Toulouse,na França,sobre o acidente.
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Agora,dizem os especialistas,conforme o turismo em geleiras ganha popularidade,ele também pode exigir mais barreiras de proteção.
Isso porque o recuo das geleiras traz riscos. O aumento da água de degelo pode tornar essas formações mais propensas a desabamentos. A morena de uma geleira,isto é,o conjunto de rochas e solo que ela deixa para trás à medida que se move,também pode se tornar instável com o derretimento do gelo,causando perigosos deslizamentos de rochas ou de terra.
As agências de turismo estão trabalhando em estratégias de adaptação para manter o turismo em geleiras aberto,de acordo com Salim,como maior manutenção das trilhas de caminhada,pontes,escadas e corrimãos que dão acesso às geleiras. Às vezes,cobertores isolantes são colocados na superfície de uma geleira para diminuir a taxa de derretimento,especialmente perto de cavernas de gelo.
Essas cavernas,que se tornaram populares graças às imagens de outro mundo publicadas por fotógrafos nas redes sociais,foram apelidadas de “minas de ouro” pelos guias na Islândia,mas o calor extremo pode desestabilizar as suas características. Agora,passeios que costumavam ser mais comuns no inverno se expandiram para o verão. No entanto,as temperaturas do verão islandês estão aumentando devido ao aquecimento global,em grande parte por causa da queima de combustíveis fósseis.
E com mais pessoas entrando nas cavernas,o risco de acidentes aumenta.
— Há mais entusiastas de atividades ao ar livre,mas as geleiras também estão mais instáveis do que costumavam ser — disse Trevor Kreznar,gerente geral da agência Exit Glacier Guides no Parque Nacional Kenai Fjords,no Alasca. — Se houvesse mais entusiastas e as geleiras permanecessem as mesmas da década de 1980,não seria um problema tão grande.
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Os guias normalmente avaliam o estado das geleiras com base na sua própria experiência,mas como a mudança climática afeta o ambiente dinâmico do local,essas decisões se tornam mais complicadas,explica Johannes Theodorus Welling,pesquisador de pós-doutorado em turismo de geleiras na Universidade da Islândia.
— Podem ocorrer eventos emergentes que nunca aconteceram no passado — afirma Welling.
Esses riscos podem exigir sistemas de alerta antecipado para colapso glacial e planos de contingência para operadores e equipes de emergência,acrescentou o pesquisador.
— Eu sempre digo aos meus clientes: As pessoas não morrem na geleira,elas morrem embaixo da geleira — afirma Kreznar sobre as cavernas.
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Corin Lohmann,proprietário da IceWalks,uma operadora de turismo na Geleira Athabasca,parte do Campo de Gelo Columbia no Parque Nacional Jasper,em Alberta,disse que sua empresa já teve que redirecionar a trilha para o pé da geleira duas ou três vezes a cada temporada devido ao derretimento glacial. Suas rotas também foram afetadas por incêndios florestais nos últimos anos,inclusive um que fechou o acesso às geleiras neste verão [no Hemisfério Norte,atual inverno no Brasil]. Se não fosse por esses fechamentos,2024 teria sido o ano com maior movimento já registrado desde que a empresa foi fundada em 1985,disse Lohmann. Mas esse crescimento provavelmente não durará muito.
— Essa tendência provavelmente tem uma data de validade que pode ser de 30 a 50 anos,se não antes — disse Lohmann.
Embora não capitalize em cima do chamado turismo da última chance,ele diz que fala sobre os efeitos da mudança climática nas geleiras durante as visitas. Muitas vezes,os turistas acham importante trazer seus filhos,pois é uma mensagem muito forte pensar: “Vocês podem ser a última geração a estar nesta geleira”,explica Lohmann.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro