Presidente Lula no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
GERADO EM: 13/09/2024 - 06:22
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O governo Lula enfrenta,nas últimas semanas,um 7 a 1 provocado não pela oposição,mas por gols contra em temas da própria agenda,como meio ambiente e direitos humanos. Justamente nas áreas em que o presidente precisaria,e poderia,se distinguir do governo negacionista de Jair Bolsonaro,os fatos gritam e põem em dúvida a capacidade de colocar o discurso em prática.
Os incêndios que castigam todo o país — e devem afetar,e muito,uma economia que vinha mostrando capacidade de resistir mesmo a fatores como juros altos,inflação pressionada e chuvas no Rio Grande do Sul — evidenciaram que,de novo,Lula não levou a sério a emergência climática como prometera aos eleitores e ao mundo.
Nem a acuidade de Marina Silva em fazer diagnósticos e apontar ferramentas tem o condão de,sozinha,fazer frente a uma situação que demonstra a insuficiência de meios técnicos,orçamentários e políticos para ser combatida.
Um Lula perplexo lançou mão do script de sempre diante da fumaça e do fogo. Reuniu um punhado de ministros — escrete que parece cada vez mais limitado,diga-se — e se despencou para a Amazônia para exibir perplexidade e consternação. Muito pouco diante da emergência por que passamos todos nós que respiramos.
O governo se incomodou com a intervenção do seu ex-integrante Flávio Dino,que arregaçou as mangas e saiu expedindo ordens administrativas para medidas (que deveriam ser) triviais como colocar mais bombeiros para apagar as chamas. Mas onde está o ministro da Justiça,Ricardo Lewandowski,diante dessa e de outras situações que demandam,também,colaboração do aparato de segurança e coordenação com Judiciário e Ministério Público? Há meses não se ouve a voz do sucessor de Dino,enquanto do outro lado da Praça dos Três Poderes o outro segue a todo vapor.
O caso envolvendo as denúncias de assédio sexual e moral contra Silvio Almeida é outro que desnuda como exalar superioridade moral é mais fácil que agir em situações delicadas. Foi pela demora de Lula em apagar (mais esse) incêndio que o caso ganhou as manchetes,com desgastes profundos para todos.
Diante desse quadro,o presidente corre o risco de chegar ao fim de quatro anos com dados piores que Bolsonaro em tópicos como área desmatada em biomas cruciais,caso de Amazônia e Pantanal. E terá anotado um escândalo com consequências para a luta antirracista e feminista que a pasta comandada por Damares Alves não registrou. Tudo isso enquanto a pauta da absolvição do golpismo bolsonarista avança num Congresso que,a exemplo do fogo,o Planalto ainda não sabe como controlar.
O resultado de tudo isso é uma direita que vai trocando a pele do bolsonarismo para algo potencialmente ainda mais virulento,enquanto o lulismo não encontra um caminho para manter coesa a base que derrotou Bolsonaro e deu uma inédita nova chance a Lula.
A estupefação diante dos temas da modernidade — emergência climática,intolerância contra assédios vários que antes poderiam passar batidos,velocidade do meio digital para criar líderes e amplificar crises — mostra um presidente envelhecido,longe de sua melhor forma como articulador e leitor da realidade,qualidades que já foram cantadas em prosa e verso ao longo de sua carreira.
Lula vai se mostrando um padrinho de poderio limitado nas eleições municipais,fato só agravado porque as crises “em casa” diminuem sua possibilidade de fazer o que ainda mais gosta: estar em palanques falando e falando.
O resultado é uma pesquisa recente,do Ipec,que mostra idêntica parcela dos que o consideram ótimo e bom e aqueles que o avaliam como ruim ou péssimo. Os gols contra a própria meta só tendem a engrossar o primeiro bloco e a fazer minguar o segundo.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro