Mãeana — Foto: Divulgação
GERADO EM: 13/09/2024 - 04:30
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
LEIA AQUI
Tudo começou com a mudança do Rio para Salvador,em 2022. Ana Cláudia Lomelino,vocalista da extinta Banda Tono,virou Mãeana em carreira solo,e passou a fazer shows toda segunda-feira no Centro Cultural Casa da Mãe,na capital baiana. Foi lá que conquistou os primeiros fãs do estilo musical batizado de “pisa nova”,uma mistura dançante entre bossa nova e piseiro,repertório que combina sucessos de João Gilberto e João Gomes. “Sempre quis cantar forró,mas tinha receio de cair em apropriação cultural. Sou uma carioca da Tijuca. Então,precisei colocar algo que me representasse para justificar esse trabalho. Por isso a escolha pelo mix com a bossa nova”,diz a artista,de 38 anos.
A julgar pelos 22 milhões de streams do álbum “Mãeana canta JG”,lançado há menos de um mês,e a lotação no show de lançamento no Circo Voador,no último dia 23,a fórmula deu certo. Assim como tem sido a parceria no palco e na vida com o marido,Bem Gil,filho de Gilberto Gil e pai de seus dois filhos,Sereno e Dom,de 12 e 8 anos,após uma crise que os separou por seis meses. “Expus o cara ao constrangimento geral,fomos ao fundo do poço. Mas ainda sobrou amor. Não teve jeito”,diz.
Em entrevista de uma hora por chamada de vídeo,Mãeana mergulha nas dores e delícias de ascender profissionalmente cantando o amor romântico,na maternidade e na decisão de um casamento não-monogâmico. Confira,a seguir,os melhores trechos da conversa.
O GLOBO: Ano passado,você disse,em uma entrevista ao GLOBO,que não pensava em cantar o amor romântico,e agora está fazendo sucesso com o gênero. O que a fez recalcular a rota?
Mãeana: Acredito que tenha sido uma espécie de cura para mim e para as mulheres da minha família,que sofreram muito com os parceiros. Minha avó materna foi abandonada. Acho importante a gente enaltecer o amor que as mulheres merecem viver. Sempre falei muito sobre matriarcado,menstruação e outras pautas femininas. Mas houve quem já tivesse distorcido minhas colocações,acusando-me até de transfobia,em 2016. Fiquei muito chateada,porque prezo pelo respeito às identidades de gênero.
O GLOBO: A que outras pautas você se refere?
Mãeana: Ao aborto,por exemplo. A mulher deveria ter o direito de abortar por livre e espontânea vontade,em condições seguras e sem retaliações. Engravidei acidentalmente três vezes e abortei. É muito escroto fazer um aborto ilegal no Brasil. Apesar de eu ser uma mulher privilegiada,foi muito humilhante,sem respeito,o médico era um babaca,cobrou R$ 2 mil e tudo foi conduzido sem anestesia. Não tive amparo.
O GLOBO: Hoje,você é mãe de dois meninos. Como equilibra a maternidade com a rotina de shows?
Mãeana: Difícil,porque agora estou trabalhando muito mais do que antes. Sinto que não estou dando conta,Sereno está com piolho,e só eu posso mexer na cabeça dele,uma loucura. Fico com uma saudade que chega a me machucar,mas me alivia saber que os dois fazem terapia,e o Bem também é um ótimo pai,muito presente. Isso pesou para voltarmos.
Mãeana e Bem Gil — Foto: Reprodução/Instagram
O GLOBO: Em 2021,você expôs traições do Bem nas redes sociais. Houve um arrependimento depois de reatarem o casamento? Essa reviravolta mudou a forma como você lida com exposição?
Mãeana: Tenho vergonha da situação,de ter exposto outra mulher (à época,ela alfinetou a cantora Roberta Sá),mas não sinto um pingo de arrependimento. Sou uma pessoa com dificuldade de impor limites,então precisei desse momento de mostrar que sou louca mesmo,capaz de expor os podres de todo mundo que me faz mal. Acho que faria de novo,mas de uma forma mais madura. Tinha muita coisa engasgada naquele período.
O GLOBO: Na volta,vocês optaram por não serem monogâmicos. Foi uma forma de salvar o relacionamento? Há regras?
Mãeana: Sim. Falei com ele que iríamos abrir a relação porque eu não suportava mais ser traída,era nossa única chance de dar certo. Só exijo que eu não saiba. Não fico procurando. Rolam umas piadinhas,mas o assunto é logo encerrado. Claro,às vezes,dá merda,a gente sente ciúme. Ir para Salvador nos fortaleceu bastante também,foi uma fuga das tretas no Rio.
O GLOBO: Sua relação com a família Gil foi abalada?
Mãeana: O que posso dizer é que reconheço minha coragem de falar nas redes o que ninguém falaria. Tenho enorme carinho por eles,que representam muito para mim e meus filhos. Claro que na época rolaram indisposições,mas agora está tudo bem. No mais,vida que segue.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro