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Sem pagers: Conheça o sistema de comunicação do líder do Hamas, aliado do Hezbollah, que o tem mantido vivo

Sep 18, 2024 Ai IDOPRESS

Líder militar do Hamas desde 2017,Yahya Sinwar é apontado como o maior responsável pelos ataques de 7 de outubro a Israel — Foto: MAHMUD HAMS / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 18/09/2024 - 04:30

Líder do Hamas usa métodos antigos de comunicação.

Líder do Hamas,Yahya Sinwar,mantém-se vivo usando método de comunicação antigo e complexo para evitar rastreamento de Israel,incluindo mensageiros,códigos e notas manuscritas. Seu sistema já evitou ataques e mortes,demonstrando a eficácia da abordagem de baixa tecnologia em contraste com as sofisticadas tecnologias de vigilância.

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O principal líder do Hamas,poderia estar morto hoje se não fosse pelo sistema de comunicação de baixa tecnologia aperfeiçoado por ele na prisão,publicou o Washington Post na terça-feira. Com olhar atento para a rede de Inteligência de Israel,uma das mais sofisticadas do mundo,ele tem evitado realizar chamadas telefônicas,enviar mensagens de texto ou usar outros meios de contato eletrônicos que o Estado judeu possa rastrear —e que levaram à eliminação de outros membros do grupo terrorista nos últimos meses.

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Em vez disso,Sinwar usa um sistema complexo que inclui mensageiros,códigos e notas manuscritas que lhe permite dirigir as operações do Hamas mesmo enquanto se esconde em túneis subterrâneos,de acordo com relatos de mediadores árabes de cessar-fogo ao jornal americano. O método tem incomodado o Exército israelense,que está determinado a encontrar o homem apontado como arquiteto do ataque terrorista de 7 de outubro,quando mais de 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250 foram sequestradas,das quais 97 ainda permanecem no enclave.

A tarefa,no entanto,não tem se mostrado fácil. Sinwar não foi visto em público desde o início da guerra,e seu primeiro sinal de vida público em 11 meses foi divulgado apenas na semana passada,quando ele parabenizou o presidente argelino Abdelmadjid Tebboune por sua vitória nas eleições em uma postagem no Telegram. Dias depois,o Hezbollah divulgou o que seria uma rara carta escrita por Sinwar direcionada ao grupo xiita libanês. Nela,o líder reafirma o seu compromisso de lutar contra Israel e apoiar as organizações militares financiadas pelo Irã no Oriente Médio,cuja aliança ficou conhecida como Eixo de Resistência.

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Na segunda-feira,Sinwar também afirmou que o grupo palestino está preparado para “uma longa guerra de desgaste” contra Israel. Na mensagem,enviada em formato de carta ao líder dos Houthis no Iêmen,Abdul-Malik al-Houthi,Sinwar também elogiou os rebeldes,que reivindicaram um ataque no domingo contra o território israelense. A investida não deixou mortos,mas intensificou as tensões na região. Segundo Sinwar,os esforços dos rebeldes iemenitas,somados aos dos “nossos bravos irmãos na resistência” no Líbano e no Iraque,“quebrarão a vontade de Israel” e provocarão a derrota do Estado judeu.

“Eu os parabenizo pelo seu sucesso em fazer com que seus mísseis atingissem profundamente a entidade inimiga,ignorando todas as camadas de defesa e proteção”,escreveu,acrescentando que seus combatentes estão “em uma boa posição” e que os relatórios produzidos por Israel fazem parte de uma guerra psicológica. O oficial sênior do grupo,Osama Hamdan,disse à AFP no fim de semana que o Hamas “tem uma grande capacidade de continuar” lutando apesar das perdas,observando “o recrutamento de novas gerações”.

O método de comunicação escolhido por Sinwar o protege inclusive de ataques como o ocorrido na terça-feira,quando uma série de explosões quase simultâneas de pagers,um dispositivo eletrônico usado para a recepção de alertas e mensagens curtas,deixou pelo menos nove mortos e mais de 2.800 feridos no Líbano. O grupo político-militar e integrantes do próprio governo libanês acusaram Israel pelo ataque,embora o Estado judeu não tenha,até agora,se manifestado.

Os métodos de Sinwar

Uma mensagem típica do líder do Hamas agora é manuscrita e primeiro passada a um membro confiável do grupo terrorista,que a encaminha ao longo de uma cadeia de mensageiros,alguns dos quais podem ser civis,disseram os mediadores. Essas mensagens costumam ser codificadas,com códigos diferentes a depender dos destinatários e circunstâncias,com base em um sistema que Sinwar e outros detentos desenvolveram quando estavam em prisões israelenses,nos anos 1980. A carta pode então chegar a um mediador árabe que entrou em Gaza ou a outro integrante do Hamas,que a envia aos demais membros do grupo.

— Estou bastante certo de que esta é uma das razões pelas quais as Forças Armadas de Israel não conseguiram encontrá-lo — disse Michael Milshtein,ex-chefe de assuntos palestinos para a Inteligência militar israelense,ao Washington Post. — Ele realmente mantém todos os seus padrões básicos de comportamento pessoal muito rígidos.

Liderança do grupo terrorista Hamas é dividida entre política e militar; desde o início da guerra contra Israel,o Estado judeu prometeu aniquilar a organização — Foto: Editoria de Arte

Ainda conforme relatos de mediadores,os métodos de comunicação de Sinwar tornaram-se mais cautelosos — e complexos — à medida que Israel conseguiu encontrar e matar seus companheiros de alta patente,em particular após o ataque em Beirute que matou Saleh al-Arouri,o vice-líder político do Hamas e fundador da ala militar do grupo,em janeiro. Foi após a morte dele que Sinwar mudou quase totalmente sua forma de comunicação para notas manuscritas e comunicação oral,por vezes circulando gravações de voz por um pequeno círculo de ajudantes.

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A morte de al-Arouri foi seguida por uma série de outras mortes de altos funcionários do Hamas e do Hezbollah. Em julho,Israel lançou um ataque aéreo que afirmou ter matado o principal líder militar do Hamas,Mohammed Deif. No mesmo mês,o Exército israelense também teria matado Ismail Haniyeh,líder político do grupo terrorista,e eliminou Fuad Shukr,comandante do Hezbollah. Este último foi direcionado para um apartamento após receber uma ligação telefônica que provavelmente foi de alguém que havia violado a rede de comunicação interna do grupo xiita,segundo o The Wall Street Journal.

— Eles sabem que,se usarem qualquer dispositivo eletrônico,serão detectados — disse Azmi Keshawi,pesquisador do International Crisis Group que viveu em Gaza,ao Washington Post,acrescentando que é por isso que Sinwar resolveu retornar aos antigos métodos do Hamas.

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A abordagem de Sinwar para comunicação remete a um sistema que o Hamas usava em seus primeiros anos —e que o líder do grupo terrorista adotou ao ser detido,na década de 1980. Antes de ser encarcerado,Sinwar fundou a polícia de segurança interna do Hamas,chamada Majd,que era ativa nas prisões de Israel. Nas penitenciárias israelenses,agentes conhecidos como “sawa’ed” (apelido derivado da palavra árabe para antebraços) eram recrutados e distribuíam mensagens codificadas de uma seção para a outra,segundo o livro Filho do Hamas,escrito por um antigo integrante do grupo que tornou-se espião para Israel.

Abordagem cautelosa

Israel estima que Sinwar tenha passado anos planejando uma grande guerra com Israel,inclusive com participação na construção de uma vasta rede de túneis. Milshtein,o ex-oficial de Inteligência de Israel,disse que os preparativos provavelmente incluíam a criação de um sistema de comunicação que burlaria a moderna coleta de dados do país. Os métodos são tão eficazes que as forças israelenses não podem descartar a ideia de que ele não esteja em Gaza,embora no mês passado funcionários do Estado judeu tenham dito que suas tropas passaram perto de capturar o líder palestino algumas vezes.

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A abordagem cautelosa de Sinwar por vezes atrasou as negociações para encerrar a guerra,que já causou a morte de mais de 41 mil palestinos,sendo a maioria mulheres e menores de idade,segundo estimativas da ONU. Em pontos cruciais das negociações de cessar-fogo,o líder tornou-se inalcançável. Em outros,ele transmitiu mensagens quase em tempo real (em abril,por exemplo,Sinwar enviou uma carta a Haniyeh horas após a morte de três filhos dele num ataque israelense). Se os atrasos na comunicação são uma tática de negociação ou um reflexo dos protocolos rígidos de Sinwar ainda não está claro,indicou o Washington Post.

Por mais cauteloso que ele tenha sido até aqui,porém,basta um erro para dar a Israel uma oportunidade,disse Thomas Withington,um especialista em guerra eletrônica. O segundo em que a disciplina é esquecida,afirmou,“pode assinar sua sentença de morte”. (Com AFP e New York Times)

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