O presidente dos Estados Unidos,Donald Trump,anuncia o tarifaço — Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
Com os mercados financeiros globais mais um dia em chamas — houve queda na Ásia,na Europa,nos Estados Unidos e no Brasil —,na Casa Branca só faltou a harpa. Enquanto Donald Trump não dá o menor sinal de ceder em seu tarifaço incendiário,uma palavra expressa o temor que tem derrubado as Bolsas de Valores mundo afora: recessão.
O banco de investimento Goldman Sachs divulgou nota afirmando que a chance de recessão nos Estados Unidos já é de 45%. Em carta,o presidente do banco JPMorgan Chase,Jamie Dimon,também alertou sobre a probabilidade de contração econômica. Analistas de todas as instituições estão alarmados com os riscos trazidos pela guerra comercial deflagrada por Trump.
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Seu protecionismo tem duas características fora do comum,que o tornam potencialmente recessivo. A primeira é o alcance. Na avaliação do Nobel de Economia Paul Krugman,o tarifaço foi o maior choque comercial da História dos Estados Unidos. A tarifa média americana subiu para 22,5%,acima do patamar atingido na última onda protecionista,logo depois da crise de 1929. Como hoje o volume de comércio exterior é maior em relação ao Produto Interno Bruto (PIB),o impacto será muito superior.
A segunda característica é a imprevisibilidade. A incerteza sobre o mundo que emergirá das disputas comerciais alimenta os temores de recessão. Os executivos à frente de empresas dependentes dos Estados Unidos estão diante de dilemas não triviais. Não sabem se as tarifas se manterão altas tempo suficiente para justificar investimentos em produção no território americano. Não sabem como as cadeias de suprimento serão afetadas pelo encarecimento das mercadorias e serviços importados. E não sabem se conseguirão novos mercados para suprir as perdas nos Estados Unidos. Com tantas incógnitas,é natural haver redução no apetite por investimentos — portanto um freio na economia.
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Outra consequência inevitável do tarifaço será a inflação. Consumidores terão de pagar mais pelos mesmos produtos,mesmo nos setores em que a substituição das importações for imediata (já que o preço de mercado subirá). Mais inflação significa maior necessidade de subir juros,portanto maior risco de recessão.
É sintomático que,no pacote econômico mirabolante elaborado pelos artífices das tarifas,haja pressão para o Fed,o banco central americano,reduzir os juros pagos àqueles de quem toma dólares emprestados — ou alongar os perfis das dívidas dos credores. Essa política monetária menos restritiva num momento de escalada de preços e paralisia de investimentos poderá ser fatal e repetir o cenário que assombrou o mundo depois da crise do petróleo nos anos 1970,conhecido como “estagflação”.
Por natureza,a volatilidade é uma das marcas do mercado acionário. Analisadas em retrospecto,algumas reações dos pregões se revelam exageradas. Desta vez,porém,há motivos abundantes para justificar a preocupação. Trump está disposto a acabar com a ordem mundial que prevaleceu desde o fim da Segunda Guerra e a jogar fora as regras do comércio global. Em vez de esboçar concessões diante do choque dos mercados,anunciou nova tarifa de 50% depois da retaliação da China à primeira rodada do tarifaço. Até agora,não dá sinal de entender o estrago do fogo que continua a alastrar.
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