Dólar está acima dos R$ 5 desde o fim de março — Foto: Agência O Globo
GERADO EM: 16/07/2024 - 00:00
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No primeiro dia de negociações nos mercados financeiros no mundo depois do atentado sofrido por Donald Trump,a segunda-feira registrou avanço nas bolsas nova-iorquinas,no valor do dólar e nas taxas de juros negociadas nos EUA.
O movimento da tríade é apelidado pelos agentes de mercado de “Trade Trump”,refletindo as teses baseadas em uma vitória do candidato republicano e a implementação da política econômica que defende. Essa hipótese parece ter ficado mais próxima da realidade após o atentado.
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Em todo o mundo,moedas de economias fortes e emergentes depreciaram frente à divisa americana. Por aqui,o dólar,que chegou a alcançar os R$ 5,47 assim que abriu,reduziu seu avanço para R$ 5,44 ao fim do dia,com valorização de 0,26%.
Para Alexandre Schwartsman,ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central,uma maior probabilidade de vitória de Trump faz com que dois pontos prometidos pelo republicano drenem os ativos globais em direção à maior economia do mundo.
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Trump ergue o punho logo após ser baleado durante comício na Pensilvânia — Foto: Rebecca Droke/AFP
— O Trump muito provavelmente deve renovar os cortes de impostos que ele fez enquanto presidente,e aumentar as tarifas de importação,em particular sobre a China. Isso impacta a inflação,com bens importados mais caros. E é uma pressão adicional sobre juros nos EUA e,portanto,um dólar mais forte — diz o economista.
Para André Duarte,responsável pela análise de macroeconomia internacional da Occam,há no mercado uma memória do primeiro ano do governo Trump,quando houve um desempenho positivo dos papéis listados.
Por lá,nesta segunda,os títulos do Tesouro americano de dois,cinco e dez anos avançaram,além das bolsas de Nova York. Nasdaq ampliou os ganhos em 0,4%; o S&P500 subiu 0,28% e o índice Dow Jones 0,53%. Este último ampliou sua máxima histórica,acima dos 40 mil pontos,atingida recentemente graças ao frenesi da inteligência artificial e a expectativa de cortes dos juros em setembro nos EUA.
Até mesmo uma das empresas que Trump possui maioria do capital registrou avanço significativo: a Trump Media & Technology,que é dona da Social Truth Social — onde Trump fez sua primeira manifestação depois do atentado sofrido — valorizou 31,35% só nesta segunda-feira,cotada a US$ 40,58.
E não foi só o real que perdeu diante da divisa. O dólar valorizou frente a moedas de economias fortes,como a japonesa,europeia e sul-coreana: o iene perdeu 0,05%; o euro,08% e a libra,15%. Já os emergentes sofreram ainda mais. Além do real,o peso mexicano perdeu 0,81%,enquanto o rand sul-africano desvalorizou 1,41%.
Até o Bitcoin,que começou a sexta-feira passada valendo US$ 60 mil,já ultrapassava os US$ 63 mil nesta segunda,avançando mais de 5% num único dia.
—Trump,assim como Milei,disse ser pró-Bitcoin em campanha — afirma Courtnay Guimarães,cientista-chefe da Avanade,sobre o avanço da cripto no dia.
Há alguns dias,a maior conferência sobre a criptomoeda no país,que acontece no fim da semana que vem,anunciou um discurso de Trump in loco. Ainda não há informações se a presença do candidato segue confirmada.
Também nesta segunda-feira,Jerome Powell,presidente do banco central americano (Fed),afirmou num evento que as leituras de inflação recentes aumentaram a confiança de que a inflação está caminhando para a meta de 2%. Apesar disso,ele não sinalizou sobre o momento dos cortes nas taxas,mas o mercado já precifica um corte para setembro.
Depois de rondar o dia na estabilidade,o principal índice da Bolsa de São Paulo,a B3,fechou em alta de 0,33%,a 129.485 pontos. Foi a décima alta seguida do índice. Para os agentes,o Ibovespa acompanhou o rali nos EUA:
— A Bolsa hoje acabou reagindo à dinâmica dos índices futuros do mercado norte-americano,que tem ligação direta com o movimento Trump. E houve também o Boletim Focus,com diminuição da projeção de inflação para 2025,mesmo que curta — afirma Sidney Lima,da Ouro Preto Investimentos.
Divulgado nesta segunda,o relatório do Banco Central sobre as expectativas de mercado mostrou que a mediana da inflação para este ano caiu para 4%,ante 4,02%.
Analistas enxergam que a adoção de uma política econômica protecionista pode provocar inflação e,com isso,ser necessária uma taxa de juro mais alta para conter o aumento de preços. Com isso,a tendência é que o dólar migre de economias mais fracas em direção aos EUA.
— Trump defende impostos menores,e tem defendido que eles cairão. Mesmo assim,ele quer subir os impostos de importação de forma generalizada em 10%. E isso pressionaria o custo de vida das famílias,pressionando o Fed a adotar política monetária mais restritiva — diz Duarte.
Além do fator externo,o câmbio pode seguir sendo pressionado no Brasil por fatores domésticos. Para Schwartsman,a condução da política fiscal segue fazendo preço na divisa,que está acima de R$ 5 desde o fim de março:
— Uma pressão maior sobre dólar é uma pressão maior sobre juro,e fica mais difícil de equilibrar. Só que o governo brasileiro não vai aprender por causa disso. E,com um Banco Central futuramente menos comprometido com a meta,a gente teria inflação um pouco mais alta aqui também — afirma o ex-diretor da autoridade monetária.
Para ele,o ajuste fiscal anunciado no início do mês pelo governo,em que prevê a economia de R$ 25,9 bilhões advindos de pente-finos em benefícios sociais,é “uma proposta oca”,e que o receio do mercado permanecerá aparecendo nos juros futuros e no câmbio:
— É um “me engana que eu gosto”. A ideia de que se conseguirá esse valor por controle mais apurado dos benefícios sociais é risível. Você precisaria retirar 1,05 milhão de beneficiários para chegar a esse valor. Você consegue ver o governo tirando todo esse número da lista de beneficiários? Não há nem força de trabalho para isso — afirmou,dizendo que escolhas políticas para ajustar as contas públicas de forma efetiva são “dolorosas e devem colocar o governo em situação complicada”.
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