Vice-presidente dos EUA,Kamala Harris,em discurso em Washington — Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
GERADO EM: 23/07/2024 - 04:30
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Perto de ser oficializada candidata democrata à Presidência dos EUA,Kamala Harris já é alvo de ataques da campanha republicana,e não apenas por suas ideias e por seu retrospecto no Senado e como vice-presidente: Donald Trump e seus aliados multiplicam comentários com tons de misoginia e de racismo,repetindo uma estratégia adotada em 2016 contra Hillary Clinton.
— Eu a chamo de Kamala risonha. Vocês já a viram rindo? Ela é maluca,você consegue dizer muita coisa em uma risada. Ela é maluca,ela é doida — disse Trump,durante comício no sábado,um dia antes da desistência de Biden.
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A risada de Kamala é uma velha conhecida dos republicanos — em 2021,o ex-deputado Jason Chaffetz disse que as gargalhadas faziam as demais pessoas no ambiente “ficarem embaraçadas”. Mas no atual ciclo eleitoral,os comentários sobre os risos podem ser considerados até inocentes diante do que tem sido dito sobre a vice-presidente.
— [Kamala Harris] representa o espírito de Jezebel de uma forma que será ainda mais sinistra do que Hillary porque ela trará um componente racial e é mais jovem — disse,durante um podcast,Lance Wallnau,um autor nacionalista alinhado ao trumpismo. Ele se referia a uma personagem da Bíblia frequentemente citada em ataques misóginos vindos da extrema direita americana.
Além do fato de ser mulher,a origem de Harris — filha de mãe indiana e pai jamaicano — é citada em argumentos racistas e para retomar teorias da conspiração.
“De acordo com o acadêmico constitucional John Eastman,do Instituto Claremont (uma opinião com a qual concordo,ao lado de vários profissionais legais),Kamala Harris não pode ser eleita presidente,de acordo com a 12ª Emenda [da Constituição]. Então Kamala deve se afastar e dar lugar a outro canididato que seja um cidadão nato”,disse no X Paul Ingrassia,jornalista e autor que se apresenta como próximo de Trump.
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Ingrassia se referia a um artigo publicado pelo jurista John Eastman na revista Newsweek,em 2020,no qual afirmava que Kamala,por ter pais nascidos no exterior,não poderia ser considerada americana nata,um dos requisitos para exercer a Presidência. Anos depois,diante do uso do texto como uma arma dos trumpistas para atacar Kamala,a revista incluiu uma nota explicativa,apontando que a tese do jurista é incorreta. Em 2008,o então candidato democrata à Casa Branca,Barack Obama,foi alvo de teorias conspiracionistas sobre seu local de nascimento,mesmo após mostrar documentos provando que nasceu no Havaí.
Os republicanos também dizem que a escolha de Harris foi uma tentativa do Partido Democrata para mostrar “diversidade” em suas linhas.
— Aparentemente,eles sentem,ou muitos democratas sentem,que têm de ficar ao lado dela por causa da sua origem étnica — disse,em entrevista à rede CBS,o deputado republicano Glenn Grothman,nesta segunda-feira.
Nova identidade visual da campanha de Kamala Harris — Foto: Reprodução/X
Outros foram mais agressivos,e usam um termo corporativo,DEI,sigla para “Diversidade,Equidade,Inclusão”,de forma racista ao se referirem a Kamala.
— Ela é uma contratação DEI,certo? É mulher. É de cor. Entao ela deve ser boa — disse,durante um debate,Sebastian Gorka,que trabalhou na Casa Branca de Donald Trump e já foi acusado de ser simpatizante de ideias nazistas.
No domingo,em entrevista ao canal britânico GB News,Gorka foi repreendido pelo apresentador ao afirmar que a única qualificação de Kamala “é ter uma vagina e a cor de pele certa”.
— Essa é uma linguagem bastante cruel sobre a vice-presidente. Ela é uma advogada talentosa,uma política experiente e é vice-presidente do seu país. Deseja retirar essa observação bastante sexista? — perguntou o apresentador Mark Dolan.
Gorka não se retratou.
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Em entrevista à CNN,Tim Burchett,deputado pelo Tennessee,afirmou que Kamala “foi uma contratação DEI”,e criticou a escolha dela como vice de Biden.
— Quando você vai por esse caminho,colhe mediocridade — declarou o deputado nesta segunda-feira.
O roteiro de ataques misóginos,com a inclusão do racismo,repete o roteiro da eleição de 2016,quando Trump enfrentou a ex-senadora Hillary Clinton,e abusou das ofensas em discursos e debates. O republicano dizia com frequência que se fosse um homem “ela não receberia nem 5% dos votos”. Em um dos debates na TV,a interrompeu de forma recorrente,se referiu à ex-senadora como “ela” e como “uma mulher desagradável”.
—É uma maneira bastante conhecida de falarmos sobre mulheres em posições de poder; [que] elas não poderiam ter chegado lá sozinhas — disse,em entrevista à rede australiana ABC,Nina Jankowicz,especialista em desinformação. — Eles [os republicanos] vão alegar que são [os democratas] que escolheram essa mulher porque têm de estar vinculados à diversidade,à equidade e à inclusão.
Um ano depois de sua derrota nas urnas em 2016,Hillary Clinton creditou o resultado ao sexismo e aos “padrões duplos” na política,e declarou que a única forma de mudar esse cenário era eleger mais mulheres para cargos públicos. Kamala não se pronunciou sobre os mais recentes ataques.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro