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'Cortina de gelo': Sanções contra a Rússia impactam pesquisas climáticas no Ártico sobre aquecimento global

Oct 23, 2024 entretenimento IDOPRESS

Toolik Field Station,no norte do Alasca — Foto: Jacob Judah / New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 23/10/2024 - 04:30

Impacto das sanções na pesquisa climática do Ártico

Sanções contra a Rússia impactam pesquisas climáticas no Ártico,prejudicando estudos sobre aquecimento global. Colaboração cortada entre cientistas ocidentais e russos compromete monitoramento do gelo,essencial para entender mudanças climáticas. Dados cruciais estão sendo perdidos,afetando modelos climáticos e pesquisas de vida selvagem na região. A falta de cooperação gera dilemas éticos e desafios logísticos,com cientistas temendo o isolamento e perdas irreparáveis na pesquisa ártica.

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Cientistas ocidentais que estudam o Ártico estão cada vez mais perdidos na busca por dados,resultado do corte de relações com a Rússia. A ciência climática crucial foi prejudicada enquanto a Rússia,que compõe mais da metade do Ártico,continua sua guerra na Ucrânia há mais de dois anos. O fluxo de dados entre cientistas ocidentais e russos foi reduzido a um fio,devido a sanções impostas pelo Ocidente e outras restrições,interrompendo o trabalho em uma série de projetos.

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A colaboração interrompida está atrasando os esforços para monitorar o encolhimento do Ártico,que está aquecendo quatro vezes mais rápido do que a média global,acelerando o aumento da temperatura do planeta. Isso ameaça deixar governos e formuladores de políticas sem uma visão clara de quão rápido a Terra está aquecendo.

— Pode ser impossível entender como o Ártico está mudando sem a Rússia — disse Alessandro Longhi,um cientista italiano especializado em permafrost,camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada.

Ele falou enquanto caminhava pela neve este mês com um colega próximo à Toolik Field Station,um posto de pesquisa administrado pela Universidade do Alasca Fairbanks,na parte norte do estado. Cientistas ocidentais,excluídos da Rússia,têm recorrido cada vez mais a estações como essa para trabalhar no Ártico.

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Enquanto os pesquisadores saíam para coletar dados sobre como a vegetação interage com os solos vulneráveis de permafrost,suas pegadas na neve se misturavam com rastros de caribus,raposas e arminhos indo em todas as direções. Longhi parou e recuou enquanto seu colega colocava uma câmara plástica sobre uma pequena parte da vasta tundra ártica para testar se os gases liberados do permafrost variavam de acordo com as plantas,como a grama de algodão,enterradas sob os pés.

— Este é o pior cenário do que pode acontecer em outros lugares — ele disse sobre o permafrost em mudança ao redor de Toolik.

Raposa anda em direção à Estação Toolik no norte do Alasca — Foto: Jacob Judah / New York Times

Mas sem dados da Rússia,os pesquisadores estão perdendo informações insubstituíveis sobre o encolhimento do gelo. Estudos recentes sugerem que,sem essas informações de estações de pesquisa russas,muitas das quais foram suspensas de uma importante rede de monitoramento do Ártico,a compreensão dos cientistas ocidentais sobre as mudanças no Ártico está sendo enviesada para a América do Norte e Europa.

— Não faz sentido excluir metade do Ártico — disse Torben Rojle Christensen,professor da Universidade de Aarhus e diretor científico da Zackenberg Research Station,na Groenlândia.

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Esses pontos cegos emergentes importam muito além do Ártico. Dois terços da Rússia são cobertos por permafrost,solo congelado que aprisiona grandes quantidades de carbono,liberado na atmosfera à medida que descongela. Isso pode intensificar ainda mais o aquecimento. Esses perigosos ciclos de retroalimentação do Ártico tornam os dados da Rússia cruciais para os modelos climáticos. Será muito mais difícil fazer projeções precisas sem eles.

Cientistas que estudam a vida selvagem da região também tiveram projetos interrompidos. Paul Aspholm,pesquisador do Instituto Norueguês de Pesquisa em Bioeconomia,mantinha contato quase diário com colegas russos por quase 30 anos. Ele sabe melhor do que a maioria a importância de trabalhar em conjunto. Ele pode observar a fronteira ártica gelada entre a Noruega e a Rússia tanto de seu escritório quanto de sua casa. Ele recebeu apenas três e-mails de pesquisadores russos desde que foi informado de que todo contato deveria parar após a invasão da Ucrânia.

— Temos uma "Cortina de Gelo" agora — disse ele,em referência à Cortina de Ferro,expressão utilizada durante a Guerra Fria para se referir à divisão da Europa em duas partes.

A União Europeia parou de financiar projetos que envolvem a Rússia imediatamente após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Países europeus,como Finlândia e Noruega,encorajaram suas universidades a congelar os laços com instituições russas e suspender projetos existentes. A Rússia impôs seus próprios obstáculos à cooperação com o Ocidente.

Os Estados Unidos também emitiram diretrizes para "encerrar" a colaboração científica. A National Science Foundation,que financia muitos projetos no Ártico nos Estados Unidos,disse aos pesquisadores para não incluírem colaboradores russos em propostas.

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— Eles nos disseram explicitamente: não incluam a Rússia — disse Vladimir Romanovsky,geofísico russo da Universidade do Alasca Fairbanks e que começará a trabalhar com o Canadá em breve.

Isolar a Rússia criou um dilema moral desconfortável para alguns cientistas climáticos.

— É como atirar no próprio pé — disse Syndonia Bret-Harte,diretora científica de Toolik e professora da Universidade do Alasca Fairbanks,que teve o lado russo de seu próprio projeto relacionado ao clima suspenso no ano passado,quando a National Science Foundation retirou o financiamento.

Embora alguns trabalhos de campo perdidos possam ser compensados ao se mudar para outros locais ou ao observar a Rússia por satélites,há muito que exige olhos no terreno.

— Estamos fazendo o melhor que podemos,mas isso é uma crise — disse Bret-Harte.

A pesquisa no Ártico havia sido uma rara história de sucesso nas relações com a Rússia desde a Guerra Fria,mesmo enquanto a Rússia,produtora de petróleo,desacelerava os esforços ocidentais para enfrentar as mudanças climáticas. Mas as redes que impulsionavam essa pesquisa estão se desfazendo. Muitos cientistas russos estão assustados de que lidar com colegas ocidentais possa marcá-los como suspeitos.

— É muito semelhante ao que era na União Soviética — disse Romanovsky. — Eles precisam ser cuidadosos.

Romanovsky supervisiona uma rede de estações de monitoramento de permafrost tanto na Rússia quanto no Alasca. Ele disse que seus colegas russos estão cada vez mais nervosos em receber fundos dos Estados Unidos que lhes são devidos e pediram que ele parasse de enviá-los. Muitos também pararam de enviar dados em troca. Ele não espera mais receber nenhuma informação de suas 130 estações espalhadas pela Rússia.

A falta de financiamento pode ter os efeitos mais duradouros. Muitas estações de dados russas dependem de projetos ocidentais,não apenas para tecnologia,mas também para o dinheiro que mantém tudo funcionando. Manter a pesquisa no Ártico,que exige o envio de equipamentos e pessoas para alguns dos lugares mais remotos da Terra,é caro. Há sinais de que a Rússia está se voltando para a China para tentar preencher as lacunas. Uma nova estação de pesquisa que Moscou pretendia como vitrine para a cooperação científica internacional no Ártico agora parece destinada a receber principalmente projetos chineses.

Alguns cientistas se juntaram ao fluxo de russos educados tentando deixar o país. Mas a Rússia pode estar perdendo seus melhores e mais brilhantes de outras maneiras. Colin Edgar,técnico de pesquisa em Toolik,descreveu com crescente resignação como ex-colegas de uma estação de pesquisa foram enviados para lutar na Ucrânia.

— Pelo menos um foi morto — acrescentou. — É simplesmente horrível.

Enquanto Edgar falava,as luzes fantasmagóricas da aurora boreal começaram a dançar sobre Toolik.

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