pesquisa rápida
Hoje:

Alimentação saudável está cada vez mais cara e distante da mesa dos brasileiros

Mar 5, 2024 estilo de vida saudável

Enquanto batemos recordes de exportação de alimentos, 33 milhões de brasileiros passam fome, 125 milhões de pessoas não se sentem seguras quanto à capacidade de se alimentar no futuro, 6 em cada 10 adultos e 1 a cada 3 crianças apresentam excesso de peso e 57 mil mortes prematuras foram atribuíveis ao consumo de produtos ultraprocessados, em 2019.

Os dados constam no inquérito Olhe para a Fome e no estudo Premature Deaths Attributable to the Consumption of Ultraprocessed Foods in Brazil e foram debatidos por pesquisadores  na mesa temática Tributação de Alimentos e Saúde, durante a 344ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde (CNS), nesta quarta (19/07), em Brasília.

A cada etapa da cadeia produtiva a comida de verdade vai ficando mais cara, uma vez que a carga tributária incide em todas as etapas da produção, beneficiamento e comercialização, enquanto os ultraprocessados recebem crédito tributário e se tornam cada vez mais baratos e acessíveis.

Enquanto achocolatados e macarrão instantâneo têm alíquota zero de PIS/Cofins, por exemplo, um suco de frutas integral incide 9,25%. O refrigerante apresenta uma alíquota de IPI em torno de 2,6%, a mesma de uma água mineral. Em São Paulo, a salsicha é um item presenta na cesta básica e tem a mesma alíquota de ICMS do arroz e feijão, que é de 7%, o mesmo ocorre com o macarrão instantâneo na Bahia. Enquanto uma lata de refrigerante recebe subsídio, uma abóbora orgânica chega no fim da cadeia produtiva pagando 18% de imposto.

No país de contrastes e insegurança alimentar, quem mais sofre com esta realidade são as minorias étnicas e de baixa renda. 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com restrição de alimentos, enquanto o aumento do consumo de ultraprocessados, nos últimos dez anos, foi mais expressivo entre a população negra, indígenas, moradores da área rural e das regiões norte e nordeste.

“É fato que a comida saudável está cada vez mais distante da mesa dos brasileiros, o tipo de alimentação está mudando. Em 2022, os alimentos ultraprocessados se tornaram mais baratos do que a comida de verdade no Brasil e isso é uma situação gravíssima e está colocado no centro das discussões e das controvérsias em torno da reforma tributária”, afirma Paula Johns, conselheira nacional de saúde e representante da Associação de Controle do Tabagismo, Promoção da Saúde e dos Direitos Humanos (ACT).

Impacto na saúde

A alimentação não-saudável causa grandes impactos na saúde pública e o SUS vive uma sobrecarga no tratamento de obesidade, doenças cardíacas, câncer, diabetes, doenças renais, cerebrovasculares e osteomusculares. Somente o consumo de bebidas açucaradas impactam o SUS em R$ 3 bilhões ao ano, com o cuidado e tratamento das doenças provocadas.

Segundo Paula Johns, as políticas fiscais e econômicas no Brasil não são desenhadas para promover o acesso à alimentação saudável, mas sim para estimular a produção de commodities, alimentos industrializados ultraprocessados e formação de oligopólios. “Quando olhamos para a cadeia produtiva da soja o tamanho do “bolsa-soja” no Brasil é algo inacreditável. Não faz mais sentido esse tipo de incentivo, temos todas as condições de olhar o que a gente quer incentivar para garantir uma alimentação adequada para todos, sem exceção”, avalia.

Propostas

Os pesquisadores defendem uma reforma tributária a favor da saúde, que seja saudável, sustentável e solidária, com isenção de ICMS para frutas, ovos, alimentos da sociobiodiversidade, arroz, feijão e demais alimentos in natura. Assim como um imposto seletivo para produtos nocivos, especialmente bebidas açucaradas, tabaco, álcool e combustíveis fósseis, com mecanismo de arrecadação pública para a promoção da saúde da população e preservação do meio ambiente.

As propostas também incluem o aumento da alíquota do IPI, PIS/Cofins e ICMS para ultraprocessados, a retirada de subsídios dos refrigerantes e das bebidas açucaradas e a criação e um tributo seletivo para os ultraprocessados de, pelo menos, 20% como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para o presidente do Instituto Justiça Fiscal e membro do Sindfisco, Dão Real Pereira dos Santos, a fome no país poderia ser erradicada com uma ou duas medidas tributárias. “Em 2020, tivemos distribuídos mais de R$ 513 bilhões de reais de rendimentos de lucros e dividendos para pessoas físicas, sem cobrança de imposto de renda. Se a gente aplicasse sobre esse rendimento a mesma alíquota que nós pagamos poderia se arrecadar R$ 130 bilhões a mais”, afirma.

“Mais do que tributação a gente tem de começar a discutir como a gente constrói mercados efetivos onde os pobres do país produzam para os pobres comerem. Hoje isso está invertido, quem vai na feira agroecológica não é o cidadão que mora na favela, é a classe média e classe alta, que consome produto sem açúcar e sem sal”, completa o integrante da Comissão Intersetorial de Alimentação e Nutrição (Cian) Marcos Roshinsky, ao destacar a importância de se olhar para o modelo estrutural de desenvolvimento e produção do Brasil.

Pesquisa rápida

Reportagem diária do entretenimento brasileiro:Receba todas as últimas notícias e atualizações de entretenimento - sua melhor fonte de todas as coisas da cultura pop! De resenhas de filmes a notícias musicais, nós ajudamos você. Mantenha-se informado e nunca perca as últimas novidades do mundo do entretenimento. Por favor, siga-nos a qualquer momento!

© Reportagem diária do entretenimento brasileiro