vape — Foto: Freepik
GERADO EM: 23/07/2024 - 04:30
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"Análise encontra anfetamina em cigarros eletrônicos em SC". "Vape: irmãs britânicas de 19 e 17 anos têm colapso no pulmão por uso de cigarro eletrônico". Essas notícias saíram nos jornais com intervalo de apenas uma semana nos últimos dias.
A comercialização de cigarros eletrônicos,os vapes,é proibida no Brasil. Mas não há fiscalização. Resultado: qualquer um pode comprar vape em lojas online,bancas de jornal,delivery e aplicativos. Os jovens são o público alvo e há uma falsa informação disseminada,em especial na internet e redes sociais,de que o vape é menos prejudicial que o cigarro e é uma opção para ajudar quem quer parar de fumar. Mentira.
— O vape não só é um perigo de saúde pública como algo que está sendo disfarçado de seguro. Dizem que não tem problema porque é vapor,não tem combustão nem fumaça. Mas isso ofusca a informação médica de que a nicotina causa grande dependência,de que o cérebro dos jovens é mais propenso a dependência e que muitos deles vão ficar presos a esse vício pelo resto das suas vidas —,diz o pneumologista Gabriel Rozin,de São Paulo. E tem os efeitos dos solventes: não sabemos o que que vai acontecer com os pulmões das pessoas daqui a 20 anos,depois de inalar solvente todo dia.
Ele explica a diferença entre o vape e o cigarro: quando se fuma um cigarro ocorre combustão,que é a queima do tabaco,liberando fumaça. No vape há formação de um vapor que é o veículo da nicotina e dos sabores (menta,chocolate,caramelo,morango).
— O tabaco,por si só,é uma planta tóxica. Quando ele queima,há liberação de substâncias como a nicotina e o alcatrão,altamente nocivas.
Rozin conta que o vape é um processo de vaporização: basicamente um vapor de água com fluido solvente,do tipo propilenoglicol,glicerol,e outras substâncias que são uma espécie de glicerina,para dar a sensação na boca de um vapor viscoso semelhante à fumaça do cigarro.
— O dano pulmonar do vape ocorre pelas substâncias presentes no fluido: os veículos e os sabores. Cada sabor tem uma substância química diferente,então,há uma diversidade de substâncias com efeitos ainda imprevisíveis na saúde.
Não se sabe direito o que tem dentro desses vapes,pois cada empresa coloca substâncias diferentes para dar sabor e espessantes diferentes para dar viscosidade ao fluido,entre elas a vitamina E acetato,suspeita de ser a causadora da Evali,sigla em inlglês para Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico. É uma insuficiência respiratória grave,com necessidade de internação em UTI,intubação e oxigênio em alto fluxo. A doença é perigosa e potencialmente letal.
— E tem a nicotina,para viciar. Ela não causa lesão pulmonar,mas gera dependência: a pessoa não consegue parar. As empresas desenvolveram uma espécie de cristal de nicotina,uma nicotina sintetizada em laboratório muito mais concentrada do que a nicotina do tabaco e facilmente diluída nesse fluido do vape.
— Por conta disso,os vapes hoje têm uma concentração de nicotina altíssima,muito maior da que o que você consumiria em um cigarro. O que um adolescente está fumando hoje às vezes equivale a dois maços de cigarro por dia,sem perceber.
O complicador é que,quando ele está inalando o vape,ele não tem a náusea,o gosto amargo da fumaça e o cheiro desagradável do cigarro,então rapidamente,em poucos dias,poucas semanas,ele tolera uma quantidade muito grande de nicotina e fica dependente muito mais rápido.
— Estamos vendo no consultório jovens e adolescentes com dependência de nicotina igual à de adultos. No passado,quem começava a fumar,levava um bom tempo para chegar a um maço por dia. Muitas vezes nem chegava a tanto. Demorava até fumar virar hábito. Agora não: com cheirinho de pêssego,de blueberry,o adolescente fuma o equivalente a dois maços por dia facilmente.
Além da dependência da nicotina e do risco de Evali,outros danos à saúde causados pelo vape são tosse crônica persistente pela exposição aos solventes e redução das defesas naturais do pulmão,predispondo a infecções e aumentando o risco de pneumonia.
— Há ainda o risco de inalação de metais presentes nos circuitos eletrônicos de aquecimento do fluido. Parte desses metais,extremamente tóxicos,podem evaporar em quantidades micro e acabar absorvidos pelo organismo. Há também registros de casos de explosão da bateria do vape,causando perda de dentes e fratura mandíbula.
Nesse cenário,são urgentes tanto a fiscalização da proibição de comercialização dos vapes como campanhas de esclarecimento por parte do Ministério da Saúde,como foi feito em relação ao cigarro,com participação das sociedades médicas. E cabe a nós,pais,acompanhar mais de perto nossos filhos,compartilhando as informações sobre os riscos do cigarro eletrônico.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro