Lula na feira de produtores em frente ao Planalto — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
GERADO EM: 24/07/2024 - 04:30
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Mesmo com a popularidade de Lula mais alta no Nordeste do que no resto do país,o PT vem encontrando dificuldades para emplacar candidaturas a prefeito de afilhados políticos do presidente em capitais da região. A situação preocupa o partido,que não governa nenhuma capital e tem o chefe do Executivo como principal cabo eleitoral na tentativa de reverter a situação.
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Em cinco das nove capitais nordestinas,o PT nunca elegeu um prefeito desde a redemocratização. Desde o começo do ano,Lula visitou 14 cidades da região,com destaque para três idas ao Recife,além de duas a Salvador e a Fortaleza. O presidente já afirmou que terá cautela para não entrar em campanhas que oponham nomes de sua base,mas que vai se dedicar a palanques contra a “extrema-direita”. Pesquisa Ipec divulgada neste mês mostra que os eleitores do Nordeste que avaliam o governo Lula como ótimo ou bom subiu de 43% para 53% — índice que não ultrapassa a barreira dos 37% em outras regiões do país.
Avaliação do governo Lula por região — Foto: Editoria de Arte
A capital baiana é considerada pelo PT o cenário mais adverso no Nordeste. O partido apoia o pré-candidato do MDB,Geraldo Júnior,que disputa contra o prefeito Bruno Reis (União Brasil),que vai concorrer à reeleição. O partido de Lula nunca esteve à frente da administração em Salvador,apesar de governar o estado ininterruptamente desde 2007 — a legenda tem o receio de um revés em primeiro turno agora. Reis está bem avaliado e tem aparecido nas pesquisas com chances de vencer sem necessidade de segundo turno.
Xadrez petista — Foto: Editoria de Arte
O emedebista espera ter presença mais contundente do ministro Rui Costa (Casa Civil),que governou o estado por oito anos,mas o entorno do ministro avalia os passos com cautela e já disse que não conseguirá se engajar com força na campanha.
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No caso do Recife,o PT abriu mão de duelar com o PSB após uma disputa tensa com a legenda em 2020,com troca de ofensas entre o atual prefeito João Campos (PSB) e a então candidata petista,Marília Arraes. Também pesa a vantagem de Campos para reeleição,com chances de vitória já no primeiro turno — pesquisa Datafolha apontou o prefeito com 75% das intenções de voto.
— Não queremos provocar nova divisão nem com isso fortalecer a oposição e a direita — afirma o presidente do PT em Pernambuco,Doriel Barros.
Coordenador do grupo do PT dedicado às eleições,o senador Humberto Costa (PE) reconhece que há dificuldades em capitais da região:
— O fenômeno da extrema direita é muito forte nas regiões urbanas (do Nordeste) e onde tem mais peso o pentecostalismo. Já no Sul,é o inverso (com apelo dessas forças no interior).
A cientista política Luciana Santana,professora da Universidade Federal de Alagoas,acrescenta que o eleitorado petista está mais concentrado no interior desses estados do que nas regiões metropolitanas:
— As capitais do Nordeste são mais aderentes ao cenário nacional e absorvem mais o conservadorismo do que o interior dos estados.
Em São Luís,assim como no Recife,o PT decidiu apoiar o nome do PSB e estará na aliança do deputado federal Duarte Jr. Lideranças petistas afirmam que o partido está em processo de amadurecimento na cidade e que o melhor é dar força a aliados de esquerda neste momento. Já em Fortaleza,o PT vai enfrentar o PDT,aliado no plano nacional. A pré-candidatura do petista Evandro Leitão,em oposição ao prefeito José Sarto (PDT),já vem gerando rusgas.
— Se Lula comparecer ao palanque de Evandro,será uma afronta — disse o deputado federal André Figueiredo,presidente do PDT.
Como mostrou O GLOBO na segunda-feira,Lula planeja participar da convenção que vai homologar a candidatura do petista. O presidente,que no fim de semana esteve no evento que alçou o nome de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo,vê a capital cearense como uma das cidades prioritárias para deixar para trás a marca de não governar capitais,retrato que saiu das urnas em 2020 e até então era inédito para o partido.
Em Maceió,embora o PT ainda mantenha a pré-candidatura de Ricardo Barbosa,há chance de entendimento com o MDB,que vai lançar o deputado Rafael Brito,para enfrentar a tentativa de reeleição de João Henrique Caldas (JHC),do PL. A cidade foi a única capital nordestina em que Lula perdeu para Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
Em Natal,a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) aparece em pesquisas internas com chances de ir ao segundo turno,situação semelhante à do ex-prefeito Luciano Cartaxo (PT) em João Pessoa. Já em Aracaju,a pré-candidata do partido é Candisse Carvalho,ainda desconhecida da população. Ela enfrentará a candidata do PL,Emília Corrêa,até agora mais bem posicionada na disputa.
Internamente,a maior aposta está em Teresina,com o deputado estadual Fábio Novo — Lula já disse que participará ativamente da campanha do aliado. A cidade,atualmente comandada por Dr. Pessoa (PRD),que vai tentar a reeleição,tem um histórico de prefeitos tucanos e nunca teve um gestor de esquerda.
O próprio Fábio Novo foi filiado ao PSDB antes de migrar para o PT. O candidato à prefeitura de Teresina conseguiu atrair 12 partidos para sua base eleitoral,entre eles,PSDB,Cidadania,MDB,e parte do PP.
O partido de Ciro Nogueira rachou depois que Bárbara Firmino (PP-PI),herdeira política do pai Firmino Filho,escolheu apoiar Fábio Novo. De acordo com aliados,o movimento ocorreu por causa de um desentendimento com o ex-ministro de Bolsonaro.
— Temos afinidades com o PSDB. Eu tenho um perfil de diálogo,todo diálogo sai dos extremos,formamos uma frente ampla. Você pode ter um perfil político,mas com um histórico técnico — disse Fábio Novo.
Dos 11 mandatos de prefeitos em Teresina desde a redemocratização,8 foram do PSDB,3 do MDB e 1 do PTB,um cenário desfavorável em um estado lulista em pleitos nacionais.
Para a cientista política Juliana Fratini,mudanças propostas pelo PT ainda encontram pouca aderência em grandes centros urbanos da região:
— Do ponto de vista do eleitorado das capitais nordestinas,a tradição do voto em clãs e a novidade conservadora ainda parecem mais atrativas do que a proposta de uma guinada que o PT propõe enquanto política pública.
Já o cientista político Cláudio Couto acrescenta outro elemento: a influência menor dos governadores nas eleições das capitais. O PT está à frente de quatro estados,todos na região: Bahia,Ceará,Piauí e Rio Grande do Norte.
— A popularidade do PT no Nordeste decorre da forma com que o PT se coloca na disputa nacional e nas estaduais,e os governadores costumam ter um peso maior nas cidades do interior do estado. Nas cidades maiores,as sociedades civis são mais organizadas e você tem uma dinâmica do jogo político mais autônomo.
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