O deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ),à esq.,e Eduardo Paes (PSD) — Foto: Marcia Foletto/O Globo
A possibilidade de o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ) desistir de ser vice de Eduardo Paes (PSD) na disputa pela reeleição no Rio por causa de um vídeo íntimo que está circulando entre adversários pegou o meio político de surpresa. Mas,nos bastidores,interlocutores do prefeito carioca afirmam que a revelação da gravação foi uma estratégia destinada a testar logo de uma vez os efeitos que a divulgação do material provocaria e tentar mitigar os eventuais estragos a tempo de manter Pedro Paulo como vice.
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Um dos políticos próximos ouvidos pela equipe da coluna relata,inclusive,que a decisão de Pedro Paulo de informar alguns jornalistas sobre a ideia de renunciar foi tomada em comum acordo com Paes e visa testar a reação de aliados e adversários ao “balão de ensaio”.
Isso porque o vídeo já circulava há mais de um mês entre opositores de Paes,como a campanha do pré-candidato bolsonarista Alexandre Ramagem (PL),conforme publicou o colunista Lauro Jardim.
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O deputado e o prefeito,que já teria conhecimento do registro de cunho sexual entre o aliado e uma mulher há semanas,concluíram que o melhor seria antecipar o assunto – nas palavras de um político aliado,"jogar o assunto na mesa" – a tempo de tomar uma decisão final. Pouco antes da eleição de 2016,quando era candidato à sucessão de Paes,veio à tona que Pedro Paulo foi acusado pela ex-mulher de agressão seis anos antes.
A quem pergunta sobre o futuro vice,o prefeito responde que não está nada decidido ainda.
O próprio Pedro Paulo tem dito que o vídeo foi gravado num momento em que ele e a atual mulher estavam separados.
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O prazo final para a inscrição do vice em sua chapa é o dia 5 de agosto. Paes já foi formalizado candidato à reeleição no último sábado (20).
A divulgação da renúncia de Pedro Paulo na última segunda garantiu ao prefeito exatamente duas semanas para que a controvérsia do vídeo íntimo fosse digerida pela política carioca e seus aliados do PSD medissem o quão danosa seria,de fato,a existência da gravação para uma eventual chapa com o aliado de décadas.
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Por enquanto,a estratégia parece estar funcionando. Aliados de diversos partidos e até adversários,como o pré-candidato do PP Marcelo Queiroz,têm dito em público e por meio de telefonemas e mensagens indicando que o vídeo não seria um impeditivo para a chapa Pedro Paulo ocupar a vice.
Alguns,consideram que,a esta altura,seria uma sinalização ruim para os partidos que formam a coalizão de Paes para a reeleição.
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"Todo mundo está sujeito a um vídeo desses. Mas deixar para trás um aliado de 40 anos por isso pode ser complicado,passa uma mensagem ruim",diz o político de um dos partidos que vai apoiar Paes na campanha – "com ou sem Pedro Paulo".
Segundo apurou a equipe do blog,os deputados federais Benedita da Silva e Washington Quaquá,do PT,e a vereadora Tainá de Paula (PT-RJ),que foi secretária de Paes e se desligou da gestão para disputar um novo mandato na Câmara,já manifestaram apoio a Pedro Paulo nos bastidores.
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Já Queiroz,que pretende disputar a prefeitura contra Paes com o apoio do PSDB,disse lamentar que o preferido de Paes para a vice,a quem chamou de “um dos quadros mais preparados do Rio”,sofra “esse tipo de pressão por problemas pessoais”,e defendeu que a disputa municipal não vire “uma baixaria”,segundo informou a jornalista Berenice Seara no portal Tempo Real.
Entre os aliados ainda hesitantes em relação ao caso está deputada estadual Martha Rocha (PDT-RJ),que já rivalizou com o atual prefeito em 2020.
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O que a equipe de Paes ainda tenta avaliar,sem uma conclusão final,é qual seria o ânimo dos candidatos adversários para ainda usar o vídeo na campanha caso Pedro Paulo seja confirmado na vice. Outro aspecto ainda está em análise é o efeito sobre o eleitorado,que deve ser testado em pesquisas qualitativas.
Além de tratar o vídeo como uma questão de foro íntimo,o movimento dos aliados é ainda mais representativo levando em conta que a vice de Paes foi intensamente disputada entre os partidos que o apoiam – em especial o PT.
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Isso porque,caso reeleito para um quarto mandato,Paes é cotado para disputar o governo estadual em 2026,o que o obrigaria a renunciar o cargo e entregá-lo ao companheiro de chapa para completar os dois anos restantes de mandato.
Nesse caso,a gravação poderia se tornar uma munição poderosa para as legendas pressionarem o prefeito contra Pedro Paulo – o que não está acontecendo,pelo menos por ora.
Vem contando a favor de Pedro Paulo,também,a avaliação de parte da classe política carioca de que seu nome seria melhor recebido pelos eleitores do que o dos outros cotados para a vice,como os deputados estaduais Eduardo Cavaliere e Guilherme Schleder,ambos do PSD.
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Como mostrou O GLOBO,Cavaliere,de apenas 29 anos,é visto como um político “duro” e com pouca interlocução com vereadores,embora tenha comandado a Casa Civil da prefeitura. Já Schleder,apesar de ser aliado do prefeito há décadas,está no seu primeiro mandato político. Pedro Paulo é parlamentar há quase 20 anos.
Se por um lado a revelação do vídeo íntimo deve manter o mistério sobre a vice e empurrar a definição até o limite do calendário eleitoral,os aliados de Paes não têm qualquer dúvida sobre um fator: seu companheiro de chapa será do PSD,o que garantiria que a cidade permaneça sob o controle de seu grupo político até o fim do mandato caso o prefeito renuncie ao cargo para disputar o Palácio Guanabara.
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