Mercado Ver o Peso,em Belém do Pará — Foto: Paulo Amorim
GERADO EM: 21/09/2024 - 00:05
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Nós,brasileiros,não valorizamos a importância das mudanças de capital em nossa história. Tivemos já três: Salvador,de 1549 a 1763; Rio de Janeiro,de 1763 a 1960; Brasília,de 1960 aos dias atuais. São momentos decisivos e mereceriam ser mais estudados.
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Quando comparamos Brasil e Argentina — uma boa referência —,vemos claramente que a troca de capital é um marco na evolução dos países. O Brasil,em termos comparativos com a nação irmã,tem se saído bem nesse quesito,3 x 1 — Salvador,Rio de Janeiro e Brasília x Buenos Aires.
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Euclides da Cunha,ao tratar da Amazônia em “À margem da história”,afirma que “ressalta impressionadoramente a urgência de medidas que salvem a sociedade obscura e abandonada: uma lei do trabalho que nobilite o esforço do homem; uma justiça austera que lhe cerceie os desmandos; e uma forma qualquer do homestead [política governamental que possibilite a apropriação e o usufruto da terra] que o consorcie definitivamente à terra”. Ao olhar o mapa do Brasil e o mapa-múndi,Juscelino Kubitschek veria com clareza a relevância da região da Amazônia. Essa é,sem dúvida,nossa “nova fronteira”.
Aqui vão alguns dos grandes números da Amazônia: área total do Brasil,8.510.417,77 km²; Região Norte (Rondônia,Acre,Amazonas,Roraima,Pará,Amapá e Tocantins),3.850.593,10 km²,equivalente a 45,25% do território nacional. A maior biodiversidade do mundo; enorme armazenamento de carbono; reciclagem de água e de nutrientes muito eficiente; bioma altamente úmido que bloqueia a propagação do fogo.
Ao ver o mapa com as capitais do Brasil de 1549 a 1960,somos levados,com certa naturalidade,a traçar a linha que uniria Brasília a Belém. Por que não mais de uma capital,como já têm Holanda e Alemanha?
Inspirado na citação de Euclides da Cunha,está mais que na hora de o Brasil tomar uma decisão firme e viável de ordem política maior,e não ficar à espera de documentos vagos da ONU,de ONGs ou preso à ilusão de ajudas externas.
Belém existe desde 1616. Quando se pensou em Brasília,surgiu logo o eixo Belém-Brasília,coluna vertebral do país.
Lembre-se,entre outros,do exemplo de Viena,que construiu um bairro da ONU,UN Quarter,onde está a sede da Agência Internacional de Energia Atômica e de outros organismos. A construção desse “bairro” poderia ser feita com recursos do Fundo Amazônia,do BNDES,que já tem a Noruega como principal doadora. A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica poderia ter sua sede nesse local.
Em Belém estão as sedes do Instituto Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará. A inauguração do complexo poderia ser durante a COP 30.
O século XXI é o século da Amazônia e da liderança do Brasil na questão ambiental. Esse projeto tem chances de dar o primeiro Prêmio Nobel da Paz ao nosso país.
A revista Veja de 16 de agosto de 2024 traz na capa a manchete “Amazônia dominada”. Se não houver a integração do bem,pode-se ter certeza de que a integração do mal dominará.
No Seminário Brasil-Argentina sobre a Amazônia e a Patagônia,lembrou-se que o então presidente da Argentina,Raúl Alfonsín,previa uma capital em Viedma,“entrada para a Patagônia”. Belém é nossa entrada para a Amazônia. Cuidado com a vacilação e a nova postergação para não levarmos somente gol da Argentina,e o jogo ficar 3 x 2,com melhor esquema para eles! Vamos para o quarto! Seria bom,também,Brasil 4 x 2 Argentina.
*Carlos Henrique Cardim,sociólogo e embaixador aposentado,foi professor da UnB e é autor do livro “A raiz das coisas — Rui Barbosa: o Brasil no mundo”
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