Presidente da Venezuela,Nicolás Maduro,durante reunião dos Brics em Kazan,na Rússia — Foto: MARCELO GARCIA / Presidência da Venezuela / AFP
GERADO EM: 31/10/2024 - 20:41
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Tanto os assessores internacionais do presidente como os diplomatas que trabalham na relação entre Brasil e Venezuela sabiam,há muito tempo,da irritação de Lula com a ditadura de Nicolás Maduro. Desde o final do ano passado,as sinalizações de Lula foram permanentes. A eleição presidencial de 28 de julho foi a última chance dada ao chavismo para mostrar que estava disposto a contribuir — em maior ou menor medida — com um processo de recuperação da democracia no país.
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Apesar da tentativa do Palácio de Miraflores de evitar que o assessor internacional da Presidência,Celso Amorim,presenciasse a eleição in loco,o embaixador e ex-chanceler bateu o pé e foi até Caracas. O resultado já é de público conhecimento: o processo apresentou tantas irregularidades que foi impossível para o Brasil reconhecer o resultado do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Num último salva-vidas lançado pelo Brasil ao chavismo,Amorim pediu pessoalmente a apresentação das atas eleitorais a Maduro. As atas nunca apareceram. Mas,por alguma razão ainda difícil de entender,a ditadura venezuelana acreditou que o Brasil continuaria tolerando a ausência total de democracia,violação dos direitos humanos e descumprimento dos compromissos assumidos em conversas bilaterais.
Maduro subestimou a paciência estratégica de Lula,que começou a esgotar-se no final do ano passado,quando o ditador venezuelano lançou uma campanha nacional para recuperar o território do Essequibo,na Guiana. Num telefonema entre os dois chefes de Estado,o brasileiro expressou seu mal-estar e,desde então,a relação entrou num processo de estremecimento que parece incontornável.
Engana-se quem pensa que Lula deu a ordem explícita de vetar uma eventual entrada da Venezuela no Brics na cúpula de líderes de Kazan,na Rússia. Não foi necessário. A irritação de Lula com Maduro já era tão clara que,no momento em que a Venezuela apareceu na lista de candidatos a se tornarem parceiros do grupo,o representante brasileiro no Brics,embaixador Eduardo Saboia,sabia exatamente o que devia fazer.
Os russos,principais promotores do ingresso da Venezuela,foram informados do incômodo que essa possibilidade representava para o Brasil e o país saiu da lista. Não se chegou a um veto,formalmente. Quando Maduro desembarcou em Kazan,na noite em que foi realizado o jantar de chefes de líderes,a decisão de excluir a Venezuela já fora tomada no mais alto nível. A tentativa de rever essa decisão fracassou,pela posição do Brasil.
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Para a Venezuela foi uma humilhação e,após ela,impôs-se ao chavismo a necessidade de construir uma estratégia para vitimizar Maduro. Começou,então,o ataque ao Brasil,chegando,na última quarta-feira,até Amorim. No Palácio do Planalto,reina a tranquilidade. A convocação do embaixador venezuelano em Brasília,Manuel Vadell,é vista,segundo fontes,como “parte do endurecimento do regime,que ficou sem alternativa”.
Até onde chegará a crise? A pergunta que não quer calar. Em consultas informais,membros da oposição venezuelana recomendam a diplomatas brasileiros que a embaixadora Glivânia Maria de Oliveira vá preparando as malas. A partir de 10 de janeiro,quando Maduro assumirá seu terceiro mandato e não contará com o reconhecimento do Brasil,a tensão poderá chegar à máxima potência.
Depois de ter subestimado Lula e perdido uma batalha crucial no Brics,Maduro,cada dia mais isolado,parece disposto a tudo.
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