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Movidos pela guerra em Gaza, jovens da Cisjordânia se voltam para facções radicais contra assentamentos israelenses

Jul 2, 2024 Filmes IDOPRESS

Combatentes palestinos no mês passado em Tulkarm,na Cisjordânia. Campos de refugiados na Cisjordânia têm sido focos de militância por anos,bem antes da guerra em Gaza — Foto: Sergey Ponomarev / NYT

Os becos se espreitam entre sombras permanentes,cobertos por lonas de nylon pretas para esconder os combatentes palestinos dos drones israelenses no alto. Bandeiras e faixas verdes do Hamas homenageando os "mártires" estão penduradas nos prédios,muitos deles seriamente danificados durante ataques aéreos israelenses para tentar conter uma militância crescente no território,alimentada pela guerra em Gaza. Mas ali não é Gaza ou um reduto tradicional do Hamas. É um campo de refugiados em Tulkarm,uma cidade na Cisjordânia ocupada por Israel,onde a facção palestina relativamente moderada do Fatah há muito tempo dominava.

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Conheci recentemente um comandante local destes jovens combatentes,Muhammad Jaber,25 anos,num daqueles becos empoeirados e destruídos. Um dos homens mais procurados de Israel,ele e outros combatentes dizem que mudaram de alianças do Fatah,que domina a Cisjordânia ocupada por Israel,para grupos mais radicais como o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina desde o ataque liderado pelo Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.

Questionado sobre a lição que tirou da guerra em Gaza,Jaber parou por um momento para pensar.

— Paciência — ele disse. — E força. E coragem.

Os campos de refugiados no norte da Cisjordânia,como o de Tulkarm,têm sido focos de militância por anos,bem antes da guerra em Gaza,enquanto os combatentes revidavam contra a atividade de assentamento israelense cada vez maior e o fracasso do processo de paz em produzir um Estado palestino. Depois de 7 de outubro,o Hamas pediu aos palestinos que se juntassem à sua revolta contra Israel,um chamado que parece ter sido atendido por alguns nesses campos.

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Combatentes como Jaber querem expulsar os israelenses da Cisjordânia,que Israel ocupou após a guerra de 1967,e alguns,como o Hamas,querem expulsar os israelenses completamente da região.

Mais armas e explosivos estão sendo fabricados na Cisjordânia,segundo os próprios combatentes e oficiais militares israelenses. Dizem que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) dominada pelo Fatah,que administra partes da Cisjordânia,está perdendo terreno para as facções palestinas mais radicais,que lutam ativamente contra Israel e ganham mais apoio do Irã sob a forma de dinheiro e armas contrabandeadas para o território.

Fatah reconhece o direito de Israel de existir e coopera com seu Exército. Mas alguns dos combatentes afiliados ao Fatah,parte das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa,cruciais para a segunda intifada do início dos anos 2000,nunca respeitaram a Autoridade Nacional Palestina e seus compromissos com Israel e a ocupação. Alguns,como Jaber,simplesmente declararam sua nova lealdade às facções islamistas mais linha-dura.

Jaber,amplamente conhecido por seu nome de guerra,Abu Shujaa,que significa Pai dos Bravos,comanda a filial local da Jihad Islâmica,que domina o campo de Tulkarm. Ele também lidera um coletivo de todas as facções combatentes naquela área,incluindo a Brigada dos Mártires de al-Aqsa,conhecida como Khatiba. Ele mudou do Fatah,segundo ele,porque era a Jihad Islâmica e o Hamas que estavam levando a luta a Israel para acabar com a ocupação e criar a Palestina pela força das armas.

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Ele ganhou um tipo de status de culto na primavera,quando o Exército israelense anunciou que o havia matado durante uma incursão no campo de Tulkarm. Três dias depois,ele apareceu vivo no funeral de outros palestinos mortos durante a mesma incursão,sob gritos de alegria dos moradores do campo.

Nos encontramos em um beco com ruas reduzidas a areia por escavadeiras israelenses,antes de nos abrigarmos em uma loja para evitar sermos vistos por drones. Magro e barbudo,usando uma camiseta preta da Hugo Boss e uma pistola Sig Sauer na cintura,Jaber era vigiado por seis guarda-costas. Alguns estavam armados com rifles M16 e M4 com carregadores cheios e miras ópticas.

O dia estava extremamente quente,com poeira cobrindo tudo,acumulando-se em camadas nas folhas das poucas árvores. A área foi fortemente danificada por ataques de drones israelenses e escavadeiras blindadas,que arrancaram muitos quilômetros de pavimentação em um esforço que o Exército disse ser para descobrir bombas à beira da estrada e outros explosivos.

A atmosfera estava sufocante,misturada com desconfiança,enquanto observadores e guarda-costas procuravam soldados israelenses disfarçados,que às vezes chegam vestidos como trabalhadores da cidade,coletores de lixo ou vendedores ambulantes empurrando carrinhos com frutas e verduras.

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Mesmo antes de 7 de outubro,Israel estava combatendo a crescente ameaça de combatentes palestinos como Jaber em campos de refugiados nas cidades do norte da Cisjordânia,como Tulkarm,Jenin e Nablus. Grupos combatentes estavam estabelecendo bases nos campos,que originalmente foram criados para refugiados da guerra árabe-israelense de 1948-49,mas que mais tarde se tornaram assentamentos urbanos empobrecidos.

Nos meses que antecederam a guerra em Gaza,as tropas israelenses estavam invadindo os campos da Cisjordânia para erradicar armas,encontrar fábricas de explosivos e prender ou matar líderes como Jaber. Houve uma grande incursão israelense em Jenin quase um ano atrás,entre outras operações.

A ANP e a polícia não controlam mais esses campos de refugiados,onde os combatentes ameaçam atirar nos oficiais se tentarem entrar,de acordo com os combatentes,oficiais militares israelenses e autoridades palestinas,incluindo o governador de Jenin,Kamal Abu al-Rub.

As ações israelenses visam combater o que um oficial sênior do Exército israelense chamou de infraestrutura terrorista — centros de comando,laboratórios de explosivos e instalações subterrâneas — que os combatentes estavam tentando estabelecer lá com a ajuda de dinheiro e armas iranianas.

Nos últimos dois anos,os campos da Cisjordânia se tornaram refúgios seguros,observou o oficial,porque a Autoridade Palestina não opera mais lá. O oficial pediu anonimato de acordo com as regras do Exército israelense.

Quando o Exército israelense ataca Tulkarm ou Jenin,dizem os moradores,as forças de segurança da ANP ficam em seus quartéis nos centros das cidades e não os enfrentam.

Embora Jaber insistisse que não tinha guerra com a ANP,ele condenou aqueles "que têm armas e ficam na frente de Israel e não fazem nada".

— A libertação de nossas terras é nossa religião — disse ele. — Este não é meu conflito,mas o conflito do povo,uma guerra por terra,liberdade e dignidade.

No domingo,um ataque de drone israelense a uma casa no campo matou um parente,Saeed Jaber,25,um combatente procurado que também havia mudado do Fatah para a Jihad Islâmica.

Abu al-Rub,o governador,não nega que as forças de segurança da ANP ficam fora dos campos de refugiados,mas culpa Israel.

— Se Israel não vier,não há problemas — disse ele. — Israel está constantemente trabalhando para criar divisões entre nós,porque se eles matarem as pessoas,eles podem tomar a terra.

É Israel,disse ele,"que causa o caos,que entra em nossos campos de refugiados sem motivo,matando nossos jovens,para enfraquecer a ANP e garantir que as pessoas percam o respeito por seu governo.

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