Pesquisa 'A Cara da Democracia' mediu como os brasileiros reagem a apoios de Lula e de Bolsonaro a candidatos às prefeituras em 2024 — Foto: Editoria de Arte
GERADO EM: 14/07/2024 - 04:30
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Às vésperas das eleições municipais,na primeira vez em que os brasileiros irão às urnas desde a disputa presidencial mais acirrada do pós-redemocratização,os dois protagonistas deste último ciclo — o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — serão cabos eleitorais com alcance limitado e rejeições significativas. Na média nacional,a cada dez eleitores,de quatro a cinco dizem não votar “de jeito nenhum” em candidatos a prefeituras apoiados ou por um,ou por outro,segundo dados da pesquisa “A Cara da Democracia”. Os índices superam,numericamente,os registrados pelos governadores.
A pesquisa foi feita entre os dias 26 de junho e 3 de julho pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT),que reúne pesquisadores da UFMG,Unicamp,UnB e Uerj. O financiamento é do CNPq,Capes e Fapemig. Houve mais de 2,5 mil entrevistas presenciais em 188 cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos.
Os dados apontam que o apoio de Lula ajuda mais e atrapalha menos do que o de Bolsonaro. Em relação ao atual presidente,40% dos entrevistados rechaçaram votar em um aliado do petista,enquanto 53% ao menos consideram esta hipótese — apenas metade desses,porém,dizem que votariam “com certeza” no indicado.
Pesquisa 'A Cara da Democracia',edição de 2024 — Foto: Editoria de Arte
No caso do ex-presidente,49% rejeitam votar em um candidato que receba seu apoio. Os que ao menos consideram votar em um aliado de Bolsonaro são 46%,mas apenas dois em cada dez eleitores dizem que o apoio garantiria seu voto. Os governadores são rejeitados como “padrinhos” por 36% dos entrevistados,enquanto 21% garantem votar em alguém com seu apoio.
O diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp,Oswaldo Amaral,avalia que as rejeições às figuras nacionais contribuem para afastá-las dos pleitos. Ele avalia também que os governadores atraem menor rejeição porque “escapam da polarização”,o que não necessariamente significa “capacidade de influenciar” no pleito.
— Na maioria das disputas,o que dá o tom é a questão local,se a emenda parlamentar chegou aos prefeitos e se os serviços básicos estão bem avaliados. A nacionalização costuma ocorrer em grandes cidades desde que haja uma vinculação muito clara,como a que Lula está tentando fazer com Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo,o que é diferente do movimento do (atual prefeito) Ricardo Nunes (MDB) em relação ao Bolsonaro — diz Amaral.
Pesquisa 'A Cara da Democracia',edição de 2024 — Foto: Editoria de Arte
Apesar dos obstáculos na campanha municipal,Lula e Bolsonaro despontam com maior protagonismo do que outras figuras de alcance nacional. Os governadores de São Paulo,Tarcísio de Freitas (Republicanos),e de Minas,Romeu Zema (Novo),e o presidente da Câmara,Arthur Lira (PP-AL),têm taxas de desconhecimento beirando um terço dos entrevistados. Os índices dos que dizem não gostar de Tarcísio e de Zema também ficam nesse patamar,superior ao dos que gostam de cada um. No caso de Lira,a rejeição chega a 40%,a mesma de Lula.
O petista,por outro lado,atrai a estima de 35% dos entrevistados. Quem mais se aproxima deste índice é Bolsonaro,com 28%,embora outros 49% digam não gostar do ex-presidente,a maior taxa.
Para o cientista político João Féres,professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj,a ascensão de Bolsonaro,trazendo consigo uma rejeição significativa,pode ter contribuído para a imagem de Lula.
— A série histórica mostra que o pico do antipetismo ocorreu em 2018,e que desde então houve um refluxo disto — avaliou Féres.
Para os pesquisadores,os dados captam ainda uma possível transferência de rejeições de Lula e de Bolsonaro para nomes mais atrelados às suas imagens,respectivamente,o ministro da Fazenda,Fernando Haddad (PT),e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro,cotada como sucessora do marido.
Segundo a pesquisa,há uma percepção maior de melhora do que de piora da economia no governo Lula — embora o índice dos que consideram que a situação “piorou muito” tenha avançado em 2024. A sensação de maior corrupção também avançou neste ano.
Pesquisa 'A Cara da Democracia',edição de 2024 — Foto: Editoria de Arte
Os dados também sugerem um avanço da agenda da segurança pública. Questionados sobre o “problema mais grave do país”,um total de 9% dos entrevistados citam temas correlatos. Em 2022,eram 3%.
De olho em maior protagonismo na área,o governo Lula prepara uma Proposta de Emenda à Constituição para ampliar a atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado. Na pesquisa,os entrevistados atribuíram a tarefa de “cuidar da segurança” mais ao governo federal,citado por 27%,do que aos governadores,com 24%. Os prefeitos foram citados por 16%.
Amaral,do Cesop,lembra que a função de policiamento é dos estados,e não das prefeituras,mas avalia que o eleitor tem “dificuldade de entender quem é responsável pelo quê”.
— Essa confusão abre espaço para que o tema da segurança ganhe ressonância nas campanhas municipais.
Pesquisa 'A Cara da Democracia',edição de 2024 — Foto: Editoria de Arte
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