Na linha de tiro. Atrás de muro azul com pinturas lúdicas infantis,Escola Municipal Albino Souza Cruz tem marcas de tiros nas paredes: responsáveis por alunos relatam rotina de convívio com o medo — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
GERADO EM: 19/08/2024 - 05:03
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Perto da entrada do Parque União,no Complexo da Maré,uma frase se destaca na lateral de um viaduto da TransBrasil: “Muito tiro,pouca aula; pouca aula,mais bandido”. A região que compreende 17 comunidades tem 50 escolas públicas. E,só nos sete primeiros meses de 2024,segundo a Redes da Maré,teve 22 dias de unidades de ensino fechadas devido a confrontos armados. Os impactos no desempenho dos alunos se multiplicam. Mas,no conjunto de favelas da Zona Norte carioca,também há exemplos de que a mobilização de profissionais de educação e da sociedade pode contrariar o que a realidade da violência parece impor.
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É bem verdade que,de 17 escolas públicas municipais da região que tiveram os anos iniciais do ensino fundamental avaliados no último Ideb,12 tiveram nota inferior a 6 — média da rede da prefeitura para esse segmento do 1º ao 5º ano. Outras cinco,no entanto,superaram esse índice. E,das 17,apenas cinco tiveram desempenho pior em 2023 do que em 2019 (a comparação com o Ideb de 2021 é prejudicada devido aos efeitos da pandemia).
Um dos destaques foi a Escola Municipal IV Centenário,com 6,6 no indicador mais recente,contra 6,2 em 2019. Na Rua Jerusalém,no limite entre a Baixa do Sapateiro e a Nova Holanda,fica próxima de uma espécie de fronteira entre duas facções do tráfico que ocupam a Maré. Porém,afirmam responsáveis por alunos,tem um histórico de persistência pelo aprendizado.
— A gente percebe que é feito um trabalho de formiguinha dos professores. Junta a dedicação deles com a dos alunos,e o resultado vem. As pessoas acham que não existe qualidade na favela. Mas há muitas crianças e muitos adolescentes brilhantes aqui na Maré esperando uma oportunidade. É uma comunidade escolar que resiste à violência,assim como nós moradores resistimos — afirma Ana Júlia Gonçalves,mãe de um aluno do 2° ano do fundamental.
O Ideb 2023 jogou luz ainda sobre escolas que fazem a diferença em outras comunidades do Rio. No ranking das dez melhores da rede pública municipal para os anos iniciais do ensino fundamental,a terceira colocada é a Escola Municipal Haydea Vianna Fiúza de Castro,na Comunidade do Aço,com nota 8. A quarta é a Ayrton Senna da Silva,na Vila Aliança,com nota 7,7. Ambas ficam na Zona Oeste,em comunidades com um histórico recente de confrontos entre grupos criminosos armados.
Diretora da Ayrton Senna da Silva,Vilma Maria Xavier diz que,para alcançar o resultado,é preciso driblar os desafios postos pelo que acontece do lado de fora da unidade.
— Este ano,a escola já precisou fechar mais de dez vezes por causa dos conflitos. A alternativa é optar por atividades virtuais,passadas por aplicativo. Exige ainda muito diálogo permanente com a comunidade e dedicação — diz Vilma.
Já para os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º anos),como mostrou O GLOBO na semana passada,a lista das dez melhores tem a Escola Municipal Ary Barroso (nota 6,6),em Brás de Pina,bairro afetado pelas disputas do crime na região conhecida como Complexo de Israel e em favelas como Quitungo e Tinta. Balanço positivo obtido também pela Escola Municipal Felix Mielli Venerando (nota 6,2),cercada por comunidades no bairro do Caju,na área portuária da cidade.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro