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Rock in Rio: Por que a primeira edição virou uma festa da democracia?

Sep 15, 2024 Filmes IDOPRESS

Bandeira do Brasil durante o Rock in Rio de 1985 — Foto: Jorge Marinho/Agência O GLOBO

RESUMO

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GERADO EM: 15/09/2024 - 06:00

"Rock in Rio 1985: celebração da democracia em espetáculo imperdível"

Rock in Rio de 1985 marcou a democratização pós-ditadura no Brasil,unindo artistas nacionais e internacionais. O festival desafiou a crise e trouxe bandas icônicas,apesar das dificuldades. A diversidade musical e a celebração da democracia foram os pontos altos,em meio a desafios como a lama e a chuva. A história é revivida em "Sonhos,Lama e Rock and Roll",um espetáculo imperdível no evento.

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A décima edição do Rock in Rio no Brasil começou esse fim de semana com um line up recheado de astros da música pop atual,mas o evento,que celebra seus 40 anos,também promove um mergulho no passado. Em uma arena montada dentro da Cidade do Rock,o público vai poder assistir ao musical "Sonhos,Lama e Rock and Roll",que resgata a trajetória do festival desde a primeira edição,em 1985.

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Naquele ano,o Rock in Rio realizou algo que parecia impossível no Brasil,reunindo em um mesmo festival bandas estrangeiras gigantes como Queen,Iron Maiden e AC/DC,além de estrelas da música nacional,a exemplo de Rita lee,Moraes Moreira,Paralamas do Sucesso e várias outras. Nem a chuva forte que transformou a área do evento em um lamaçal foi capaz de estragar a diversão do público.

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Em 1985,o Brasil estava se livrando da ditadura militar que,depois de 21 anos no poder,tinha deixado o país afundado em grave crise econômica,com inflação nas alturas e um abismo de desigualdade social. Nesse cenário de terra arrasada,ninguém imaginava que fosse possível reunir tantos artistas do olimpo internacional em um mesmo evento de música na capital fluminense.

O guitarrista Matthias Jabs,do Scorpions,com guitarra feita para o Rock in Rio — Foto: Cézar Loureiro/Agência O GLOBO

Mas o empresário Roberto Medina,que já tinha trazido ao Brasil shows de astros como Frank Sinatra e Julio Iglesias,cismou de nadar contra a maré de problemas. No inverno de 1984,ele se reuniu com os gerentes da Rádio Fluminense FM,mais conhecida como "a maldita",e avisou que estava bolando um festival maior que o Woodstock,aquele de 1969,nos EUA,com Jimi Hendrix,The Who e Janes Joplin.

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Medina disse que ainda não tinha um line up e pediu para a Fluminense FM realizar uma enquete com os ouvintes perguntando que bandas eles queriam ver de perto. O resultado da enquete foi uma lista com nomes como Led Zeppeln,Dire Straits,Queen e Iron Maiden. Num texto escrito para O GLOBO,o jornalista Luiz Antonio Mello lembra que Medina respondeu dizendo: "Vamos trazer todas".

No livro "Metendo o pé na lama",o publicitário Cid Castro conta que a equipe do Rock in Rio entrou em contato com mais de cem atrações internacionais e ouviu dezenas de respostas negativas. Muitos agentes gringos do showbiz recusaram porque simplesmente não levavam fé que um evento daquela monta fosse mesmo acontecer no Brasil. O país não estava no mapa das turnês internacionais.

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Mas as coisas começaram a dar certo. Em julho de 1984,seis meses antes do primeiro Rock in Rio,Medina deu uma entrevista ao Jornal O Globo dizendo que estavam garantidas as apresentações de 14 grandes atrações. Entre elas,Queen,Scorpions,Ozzy Osbourne e James Taylor. "Está na hora de os jovens ocuparem o espaço que merecem",disse o empresário de então 36 anos.

A banda Queen em evento para imprensa antes do Rock in Rio — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO

"Os primeiros grupos que contatamos não tiveram a menor fé. Alegavam que o Brasil estava em crise econômica,que não trabalhamos com profissionalismo",contou Medina,recém-chegado da Europa e dos Estados Unidos,para onde tinha ido com a missão de fechar apresentações. "Minha vontade foi voltar para casa,porque o desgaste era imenso. Mas insistimos porque acreditamos na ideia".

A partir de então,o Rock in Rio virou uma febre,e a expectativa cresceu como se fosse uma bola de neve. Em novembro,longas filas se formaram nas agências bancárias que vendiam os ingressos. Nas rodas de conversa,o assunto principal era "você vai?" e "que dias?".

No primeiro dia do festival,11 de janeiro de 1985,quando os portões se abriram,hordas de jovens com roupas coloridas,que eram moda na época,com muito neon e rosa-choque,entraram correndo,dando socos no ar e rolando no gramado da Cidade do Rock. Veio gente de vários estados e até de outros países,muitos de ônibus,de moto e até de carona,sem nem saber onde ia dormir.

O clima de festa foi turbinado,no dia 15 de janeiro daquele ano,pela eleição no Congresso Nacional que escolheu o político mineiro Tancredo Neves (MDB),um opositor da ditadura militar,como o novo presidente da República. Ele recebeu 480 votos dos parlamentares,contra 180 para o paulista Paulo Maluf,candidato apoiado pelo regime dos generais. Era o fim do período autoritário no país.

Bandeira para comemorar eleição de Tancredo Neves no Rock in Rio de 1985 — Foto: Frederico Mendes/Agência O GLOBO

Naquela tarde,a apresentação do Kid Abelha foi anunciada como o primeiro show da democracia. O poeta Cazuza terminou a performance do Barão Vermelho dizendo que acreditava num Brasil novo,"com uma rapaziada esperta". O público inundou a Cidade do Rock com bandeiras e roupas nas cores verde e amarela,em contraste com o preto dos metaleiros que estavam lá pra ver Scorpions e AC/DC.

Os amigos Paulo Roberto Marinho e Marcos Marom estavam entre os mais animados,gritando "Viva a democracia!" e "Viva Tancredo!". O ator Kadu Moliterno,apresentador das bandas brasileiras,subiu no palco e gritou: "Muda,Brasil!". Em seguida,disse que aquele era o primeiro dia da democracia no país. O músico Eduardo Dussek,durante seu show,disse que a eleição de Tancredo era a vitória do povo.

Foram dez dias consecutivos de festival. Queen e Iron Maiden fizeram shows inesquecíveis. Baby Consuelo fez uma apresentação histórica,grávida de cinco meses,ao lado do marido Pepeu Gomes. O Paralamas do Sucesso,Rita Lee,Moraes Moreira e Alceu Valença também fizeram ótimos shows.

Entre os brasileiros,houve uma crítica sobre a forma como o produto nacional estava sendo tratado. Atrações como Ney Matogrosso,por exemplo,apresentaram-se no mesmo dia de bandas de heavy metal. Erasmo Carlos foi bastante vaiado por fãs que estavam perto do palco para ver o Whitesnake. Kid Abelha também passou maus bocados,"abrindo" para os grupos Scorpions e AC/DC.

Frequentadores do Rock in Rio na edição de 1985 — Foto: Jorge Marinho/Agência O GLOBO

No dia 17 de janeiro,uma chuva torrencial transformou a Cidade do Rock em um pântano,mas nem isso afetou a alegria do público. Enquanto algumas pessoas vestiam sacos de lixo para se proteger,outras simplesmente chafurdavam na lama,cantando e dançando. Alceu Valença improvisou um repente pra tentar parar a chuva,enquanto o público pulava descalço na frente do palco.

No fim daquela noite,Roberto Medina estava indo embora quando encontrou uma família coberta de lama. Ele até se preparou para ouvir reclamações,mas recebeu abraços eufóricos de gratidão.

Com produção musical de Zé Ricardo e concepção de Claudio Botelho e Charles Möeller,o espetáculo "Sonhos,Lama e Rock and Roll" narra a história fictícia,mas baseada em fatos reais,de uma produtora que teve a ideia de criar um festival em 1984. Será exibido em quatro sessões de 40 minutos a cada dia de festival,numa arena dentro da Cidade do Rock,entre 15h e 21h. Vale conferir!

Homem com mulher no colo andando na lama do Rock in Rio em 1985 — Foto: Jorge Marinho/Agência O GLOBO

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