O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa o Hospital Sírio Libanês,em São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
GERADO EM: 19/12/2024 - 22:31
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O retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Brasília,depois de cirurgia e recuperação em São Paulo,reaqueceu as negociações para a troca de integrantes da Esplanada dos Ministérios. Lula deve bater o martelo nos próximos dias sobre a indicação do marqueteiro Sidônio Palmeira para o comando da Secretaria de Comunicação Social (Secom),que já sofreu mudanças no segundo escalão nos últimos dias. O presidente terá que resolver ainda o que fará com o comando da Defesa,depois de José Múcio Monteiro sinalizar a vontade de sair do cargo.
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Após ser submetido a uma cirurgia para conter uma hemorragia no cérebro,a expectativa é que Lula dedique o fim deste ano e o início de 2025 para estruturar uma reforma ainda maior. Partidos políticos de centro que integram a base no Congresso,como PSD,MDB,União,PP e Republicanos,podem ampliar o número de pastas.
Dois anos após ser escolhido como chefe das Forças Armadas,José Múcio indicou recentemente a Lula a intenção de deixar o governo. Sua indicação ao cargo,ainda durante o período de transição,teve como objetivo buscar uma pacificação com os militares.
Ao ser indagado se pretende sair,Múcio brinca e diz que “depende do presidente”. Segundo auxiliares próximos,contudo,o ministro tem se queixado de que precisa cuidar da saúde. Com 76 anos,ele tem sido cobrado pela família a se cuidar mais e ter uma rotina de trabalho mais leve.
Em conversas reservadas,o ministro tem dito que o presidente precisa encontrar alguém com perfil “paciente” para substitui-lo no posto. Um dos nomes cotados é o do vice-presidente Geraldo Alckmin,que hoje acumula o comando do Ministério do Desenvolvimento,Indústria,Comércio e Serviço.
A avaliação de interlocutores do ministro da Defesa é que o cargo precisa ter um nome de peso,uma vez que necessita ter o respeito das tropas. Ao assumir o cargo,Múcio precisou contornar desconfianças mútuas diante da suspeita de envolvimento de militares em tentativa de golpe.
Com o avanço das investigações e a prisão de oficiais das Forças Armadas,o ministro costuma repetir que as práticas ilícitas foram cometidas por indivíduos,em uma tentativa de blindar a instituição da vinculação com atos antidemocráticos. O governo e os militares convivem bem no momento,mas não são amigos,costuma dizer Múcio reservadamente.
De acordo com a jornalista Bela Megale,do GLOBO,Múcio e Lula falaram sobre a saída na conversa de quase duas horas que tiveram na última terça-feira,em São Paulo. Quando aceitou o posto,o ministro disse ao presidente que não permaneceria até o fim de seu mandato e já havia sinalizado que pretendia ficar por um prazo de dois anos. A agenda pesada nos últimos meses à frente da pasta colaborou para que ele se movimentasse no sentido de deixar o cargo,avaliam integrantes da cúpula militar.
Membros das Forças Armadas avaliam ainda que o vídeo publicado pela Marinha com críticas ao pacote fiscal do governo (leia mais na página 6) teve peso nesta sinalização de Múcio.
Essa troca e a da Secom podem ser oficializadas antes de janeiro. Sidônio,que pode assumir a comunicação,foi o responsável pela campanha eleitoral de 2022 que deu ao petista o seu terceiro mandato.
De acordo com aliados,a possibilidade de que o marqueteiro assuma um outro posto no governo que não o de ministro,como o de assessor especial,não é cogitada. Para integrantes do governo,só faria sentido Sidônio deixar os seus negócios para comandar a pasta.
Com a troca,Lula busca melhorar a comunicação do governo,que ele mesmo criticou em discurso durante encerramento de um seminário do PT no último dia 6. A mudança também visa preparar o terreno para a campanha presidencial de 2026,seja com Lula ou outro nome indicado pelo presidente à frente da chapa.
A Secom tem outra mudança já definida com a saída do secretário de Imprensa,José Chrispiniano. Seu lugar será ocupado por Laércio Portela,que foi ministro interino no período em que Pimenta esteve à frente da pasta dedicada à reconstrução do Rio Grande do Sul,entre maio e setembro. Atualmente,Laércio é secretário de Comunicação Institucional,responsável pela articulação da Secom com outros ministérios.
Chrispiniano é assessor de Lula desde que o petista deixou a Presidência da República,em 2011. Estava ao seu lado durante a Lava-Jato,a prisão e a campanha presidencial de 2022.
Sidônio e Laércio participaram da produção do pronunciamento que o ministro da Fazenda,Fernando Haddad,fez sobre o pacote de corte de gastos e aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil em 27 de novembro.
Uma outra pasta que pode passar por mudança é o Desenvolvimento Social,comandado por Wellington Dias. Responsável pelo Bolsa Família,o ministério,que já foi alvo de cobiça do Centrão,é criticado por aliados do presidente por não conseguir propagar as ações positivas do governo. Dias tem proximidade com Lula. O Palácio do Planalto chegou a avaliar a divisão do ministério em dois: manter Bolsa Família e combate à fome com Dias e ceder a assistência social aos aliados. Dias rejeita esse modelo.
Há ainda possibilidade de troca na Secretaria-Geral. O ministério,que funciona dentro do Palácio do Planalto,pode inclusive ser usado para acomodar Paulo Pimenta. O titular da pasta,Márcio Macêdo,foi bombardeado por causa da baixa adesão a um ato do Dia do Trabalho,em maio,que teve a presença de Lula. A Secretaria-Geral é responsável pela articulação do governo com os movimentos sociais.
Mas a organização do G-20 Social,evento com participação de entidades governamentais realizado no Rio antes da cúpula dos chefes de Estado,sob a responsabilidade Macêdo,foi bem vista e melhorou o cacife do ministro responsável pela Secretaria-Geral.
Hoje,está prevista uma reunião ministerial. Lula chamou os seus 39 ministros para conversar no Alvorada. O encontro deve ser em um modelo “compacto”,mais curto,com falas do presidente e de ministros palaciados,como o chefe da Casa Civil,Rui Costa. A orientação de auxiliares é de que não seja uma reunião longa — em junho de 2023,Lula fez uma reunião de nove horas com seu ministério. Lula vai usar essa agenda para fazer um balanço de 2024 e uma série de cobranças para 2025.
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