Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem em lançamento de pré-candidatura à prefeitura do Rio — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP
Integrantes do PL afirmam que Jair Bolsonaro ficou "irritado" com o fato de o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) ter guardado um áudio com conversa da qual participou o ex-presidente sobre uma possível "blindagem" ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Durante a investigação sobre a "Abin paralela",a Polícia Federal (PF) recuperou um arquivo no celular do ex-diretor da agência com a gravação de uma reunião em que foi debatida uma estratégia contra auditores da Receita que atuaram no caso da rachadinha do filho do ex-presidente.
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Após a operação da PF,a candidatura de Ramagem à Prefeitura do Rio passou a ser contestada dentro do partido,já que ele não descartou,até o momento,a possibilidade de que a mídia pode ter potencial de incriminar Bolsonaro. O episódio já é visto por aliados do ex-presidente como uma espécie de "traição".
Flávio Bolsonaro,por sua vez,afirma que a boa relação com o aliado está mantida. O senador teria participado da reunião registrada pelo áudio,que ainda contou com diálogo do próprio Ramagem,de uma advogada de Flávio e do então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),general Augusto Heleno.
O senador e filho 01 do ex-presidente nega uma possível ruptura de Ramagem com a família Bolsonaro e reforça o discurso de "perseguição",com objetivo de minar o pré-candidato às vésperas da eleição. Flávio indica,porém,que haverá mudança de estratégia na campanha. Internamente,o consenso é de que haverá desgaste eleitoral.
Segundo a PF,Bolsonaro,Ramagem e Heleno estavam discutindo a participação de auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que originou o inquérito contra o "01". O arquivo de gravação da reunião tem duração de 1h e 8 minutos e é datado de 25 de agosto de 2020. O suposto desvio de verba pública — a chamada "rachadinha" — teria ocorrido no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Na gravação,Ramagem disse na gravação que "seria necessário a instauração de procedimento administrativo" contra os auditores da Receita "com o objetivo de anular a investigação,bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos". O filho do ex-presidente voltou a dirigir críticas ao ministro Alexandre de Moraes,do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com ele,é Moraes quem move delegados da PF para que as investigações atinjam o bolsonarismo.
De acordo com integrantes da campanha de Ramagem ouvidos pelo GLOBO,os bolsonaristas já receberam ordens para evitar generalizações em críticas à PF,já que o próprio Ramagem é um delegado da Polícia Federal,que pretende ter como mote de campanha o discurso da "inteligência a serviço da ordem,em parceria com o governo do Rio".
— O ex-presidente recebeu com surpresa todas as notícias sobre este áudio. Esperávamos que a PF investigasse o tema,não que houvesse este tipo de vazamento às vésperas das eleições,para minar o Ramagem. Mas,é isso o que esperamos do Moraes,que é quem escolhe delegados estrategicamente,para que prejudiquem o bolsonarismo e impactem nas eleições. Infelizmente,um pequeno grupo de policiais está sendo mobilizado para isso. As atividades de campanha do Ramagem estão mantidas,segue sendo candidato à prefeitura — afirmou Flávio ao GLOBO.
Atualmente,a campanha de Ramagem discute se o nome de urna do candidato deve ser "Delegado Ramagem",como foi usado por ele em 2022,quando foi eleito deputado federal.
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Algumas das primeiras peças de campanha já foram gravadas apenas com o nome "Ramagem". Oficialmente,a campanha informa que a discussão se dá pelo fato de ser necessário realizar atividades de campanha em regiões conflagradas do Rio,onde um delegado não seria bem visto por parte da população. Entretanto,a vinculação à PF,que tem apresentado denúncias contra Bolsonaro,também teria entrado nesta conta.
Procurado,Ramagem não se manifestou.
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