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Câncer: Einstein vai testar 1º tratamento para leucemia com células imunes derivadas de cordão umbilical no Brasil; entenda

Jul 23, 2024 Música IDOPRESS

Célula Natural Killer (NK) do sistema imune. — Foto: NIAID

RESUMO

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GERADO EM: 23/07/2024 - 04:30

Terapia inovadora de células NK: esperança contra leucemia.

Einstein conduzirá inovador tratamento para leucemia com células NK de cordão umbilical,aprovado pela Anvisa. Estudo busca eficácia em casos resistentes. Terapia promissora em fase inicial,pode oferecer alternativa a pacientes sem opções. Outras terapias celulares como CAR-T Cell também avançam contra o câncer. Futuro com possibilidade de CAR-NK,com menor custo e potencial eficácia.

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O Hospital Israelita Albert Einstein,em São Paulo,vai conduzir o 1º estudo do país de um tratamento inovador que utiliza células do sistema imune chamadas de Natural Killer (NK) extraídas de cordões umbilicais para casos de leucemia mieloide aguda (LMA),o tipo mais comum e agressivo desse câncer,que sejam resistentes às terapias tradicionais.

A unidade recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para dar início à primeira das três etapas dos testes clínicos no último mês. A iniciativa é realizada no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS),parceria do Ministério da Saúde com hospitais privados de referência para o desenvolvimento de tratamentos voltados para o SUS.

A técnica que será estudada é uma terapia celular que envolve a extração de células NK de amostras de cordão umbilical que estão em estoque de bancos públicos do país,e que tenham aval para uso em pesquisas científicas. Em seguida,os pesquisadores cultivam essas células para que elas cresçam em quantidade,em mais de mil vezes,e,depois,sejam inseridas no paciente.

— As NK são um tipo de célula de defesa que todos temos no nosso corpo e que tem a capacidade de atacar tumores. O estudo é para pegar pacientes com LMA que já não têm mais nenhuma esperança de tratamento,como casos em que fizeram quimioterapia sem resposta ou porque a doença voltou após um transplante,e utilizar essas células para saber se são efetivas em tratar o tumor,ou se ao menos levam a doença em partes à remissão para que o paciente consiga ser submetido a um outro transplante — explica Nelson Hamerschlak,hematologista e coordenador do Programa de Hematologia e Transplantes de Medula Óssea do Einstein.

O público-alvo dos testes é pacientes com 18 anos ou mais que não tenham obtido sucesso em pelo menos duas linhas de tratamento prévio. Para realizar o procedimento,o paciente precisará ser internado. Antes da infusão das células NK,o indivíduo passa por uma sessão de quimioterapia Flag (associação de fludarabina,citarabina e G-CSF). Nessa primeira etapa,o principal objetivo do estudo é garantir que o método é seguro.

O desenvolvimento de novas alternativas para o LMA é importante,já que as chances de cura são baixas quando as opções tradicionais não funcionam,lembra Lucila Kerbauy,hematologista do Einstein que participa do estudo. Além disso,o uso das NK extraídas de cordão umbilical é promissor já que um cordão umbilical sozinho é suficiente para tratar,no mínimo,10 pessoas,destaca a pesquisadora.

— Nosso objetivo é criar um banco de células NK que possa ser usado de prontidão,porque a grande maioria dos trabalhos com elas depende da coleta do doador individualmente naquele momento. E para isso utilizar as células dos bancos de cordão umbilical,que são cada vez menos utilizados,é uma boa fonte. Isso já é feito nos Estados Unidos,mas é algo original no Brasil — conta Hamerschlak.

O caminho para que a terapia se mostre eficaz e eventualmente seja aprovada para uso na prática pela Anvisa é longo – o hematologista estima que apenas a primeira etapa dure de 1 a 2 anos. Porém,ele destaca que oferecer o tratamento em âmbito experimental já é algo importante:

— O caminho é longo,mas tendo isso em caráter de pesquisa você já oferece uma alternativa para pessoas que estavam sem opções. Mesmo antes de começarmos,já estamos com fila de espera. Há uma demanda muito grande de pacientes nessa condição.

O estudo do Einstein estava há seis anos no estágio pré-clínico,que envolve testes em laboratório e com animais. Agora,com o aval da Anvisa,ele passa à avaliação em humanos. Para o futuro próximo,há ainda um outro uso das NK que deve avançar para estudos clínicos na unidade.

— Temos uma segunda iniciativa também com células NK mas para pacientes que vão receber transplante de medula óssea. Nossa hipótese é que em pacientes com doença muito agressiva,em que a doença costuma voltar,as células podem levar a uma melhor sobrevida — diz Hamerschlak.

Avanço de terapias celulares contra o câncer

O tratamento com as células NK é um dos muitos que hoje envolvem novas terapias celulares para atacar o câncer. Nesse primeiro momento,são voltados para tumores no sangue,os chamados hematológicos,como leucemias e linfomas. Porém,os resultados têm sido animadores,e a expectativa é que avance para casos em órgãos sólidos.

A mais famosa dessas terapias é a CAR-T Cell,que já recebeu algumas aprovações até mesmo no Brasil,ainda que o acesso seja limitado devido ao alto custo. Enquanto isso,centros como o próprio Einstein,o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto conduzem testes com versões nacionais que,se receberem o sinal verde,poderão ser incorporadas ao SUS.

O CAR-T Cell utiliza outras células do sistema imune para atacar o câncer,os chamados linfócitos T. Ele usa engenharia genética para “ensinar” essas células a reconhecerem o tumor,que tem mecanismos biológicos para escapar das defesas tradicionais. A estratégia tem levado muitos casos de leucemia que antes não tinham alternativa à remissão.

No entanto,com os linfócitos T há um risco de que o paciente rejeite as células,ou que as próprias células T rejeitem o hospedeiro. Por isso,não é possível usar unidades disponíveis em cordões umbilicais,como no novo estudo. São utilizados os linfócitos T do próprio paciente,num processo que se assemelha a um autotransplante: eles são retirados,editados geneticamente e reintroduzidos.

— O nosso estudo com as NK,ao contrário do CAR-T Cell,não tem um alvo específico,nós só aumentamos a quantidade de NK que estão a disposição extraídas dos cordões umbilicais. Teoricamente você poderia usar para uma gama de outros tumores,nossa prova de conceito é com LMA. Mas existem estudos com outros tumores,até sólidos — diz o coordenador do estudo no Einstein.

No entanto,essa falta de direcionamento para um alvo pode afetar a capacidade de as células conseguirem reconhecer e eliminar os tumores de modo tão eficaz quanto o CAR-T Cell. Por isso,Hamerschlak conta que há estudos com o chamado CAR-NK,que utilizam a engenharia genética nas células NK,em vez dos linfócitos T:

— No CAR-T,que você precisa colher do próprio paciente,ela não está na “prateleira”. Já um ponto positivo do CAR-NK é que poderia ser feito com células disponíveis em banco de cordão. Ela também precisa de um preparo no paciente para ele aceitar essa célula,mas não tem o mesmo risco da rejeição.

Além disso,ele conta que o custo de desenvolvimento com as células NK é menor,o que é outra vantagem. A técnica está sendo estudada no Einstein,no entanto,ainda está em estágios muito preliminares,afirma Hamerschlak:

— Nós trabalhamos com o CAR-NK aqui,mas ainda em nível pré-clínico. Estamos em fase de bancada,ainda não fomos nem para fase animal. Mas outros grupos,como do MD Anderson,nos EUA,já estão com testes em humanos,com resultados que mostram que funciona.

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