Moradores vizinhos ao 16º BPM (Olaria) afirmam que fios de operadoras formais foram cortados por milícia. PM diz que perda de conexão no batalhão foi causada por problema técnico — Foto: Agência O Globo / Fabiano Rocha
GERADO EM: 03/09/2024 - 04:31
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Uma prática que nasceu em áreas controladas pelo crime organizado está se espalhando para bairros formais e de diferentes perfis. Bandidos estão cortando os cabos de transmissão de sinais de internet,telefonia e TV a cabo para forçar a contratação de serviços clandestinos. Ontem,moradores de Olaria e Guadalupe,na Zona Norte do Rio,e de São Francisco,em Niterói,na Região Metropolitana,relataram estar sem conexão.
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Não se trata de uma onda de furtos de cabos. Segundo moradores desses locais,após o corte,representantes de provedores ligados a grupos criminosos estão oferecendo o serviço alternativo. Em Olaria,por exemplo,o corte teria sido ordenado por uma milícia. O problema afetava ontem quem mora num conjunto habitacional próximo à Avenida Darcy Bittencourt Costa. Segundo o Bom Dia Rio,da TV Globo,até o 16º BPM (Olaria),que fica a menos de 250 metros de distância,perdeu o sinal de internet por um período.
Mesmo quem tem um serviço formal contratado não conseguiu restabelecer o sinal porque as operadores não enviam mais seus técnicos a determinadas áreas. É que esses funcionários encarregados de fazer a manutenção teriam sido ameaçados e proibidos de realizar consertos pelos criminosos.
— Estão tirando tudo que é fio e colocando a “gatonet” (sinais clandestinos de internet e TV a cabo) deles,cobrando R$ 100 para instalar. Reclamei cinco vezes com a operadora,mas eles dizem que é um problema de segurança pública e nada é resolvido. Eu não gosto de coisa errada e preferi ficar sem internet. Não quis aceitar a “gatonet”. Estou há cinco dias sem internet em casa — contou um aposentado.
Moradores vizinhos ao 16º BPM (Olaria) afirmam que fios de operadoras formais foram cortados por milícia. PM diz que perda de conexão no batalhão foi causada por problema técnico — Foto: Agência O Globo / Fabiano Rocha
Ele não é o único a reclamar no bairro. Uma moradora,que pediu para não ser identificada,confirmou o problema.
— Estou sem telefone e sem internet. A rua toda está assim. Há uma semana nesta situação — disse.
Em outro ponto da cidade,em Guadalupe,moradores da Favela Palmeirinha,da comunidade Melhoral e de ruas que ficam nos fundos de um shopping sofrem com cobranças feitas pelo tráfico,que também retirou o cabeamento de operadoras regulares.
— O serviço da Claro sumiu e não foi restaurado porque o tráfico cortou o cabeamento da internet da entrada do bairro até a parte interna. Toda vez que a operadora enviava um técnico,eles (traficantes) diziam que ele iria morrer se voltasse. Tem mais de um mês que estamos sem internet. Estão oferecendo outra internet aqui por preços que variam de R$ 100 a R$ 160 — disse uma moradora.
Em São Francisco,um bairro de classe média de Niterói,uma moradora abordada pela equipe do GLOBO responde em voz baixa,enquanto olha ao redor na rua deserta. Ela contou que está sem internet há meses e que depende do serviço do tráfico para se conectar.
— Você só tem internet se for a deles. Custa R$ 180 para instalar e R$ 120 por mês. A Claro foi a primeira a sumir daqui. A Vivo,a gente conseguia até um mês atrás. Hoje em dia,é a mesma coisa,se botar a Vivo aqui num dia,no outro eles arrebentam os cabos. Em todos os postes você vai ver cabos cortados. É tudo deles. Agora quando você chama a Vivo,eles dizem que é área de risco. Tem muita gente que eu conheço que mora na favela e não contrata a internet do tráfico. Não querem dar dinheiro para comprar uma bala que vai te matar amanhã — diz a moradora.
O discurso é corroborado por mais uma vizinha,que também pediu para não ser identificada:
— Aqui não pode entrar. Ninguém pode usar a outra internet,só a da boca de fumo. Mais de 90% dos bares e estabelecimentos aqui precisam de internet e acabam contratando a deles — disse.
Procurada,a Polícia Civil disse que a 31ª DP (Ricardo de Albuquerque) recebeu denúncias de caso semelhantes ocorridos em Guadalupe e que busca junto às operadoras de internet informações para identificar os responsáveis. Sobre os incidentes em Olaria,a 22ª DP (Penha) informou que recebeu denúncias feitas por prestadoras de serviço e que as investigações estão em andamento. Já a 79ª DP (Jurujuba),responsável pelo bairro de São Francisco,declarou que não foram recebidas denúncias sobre esses fatos,mas investiga a ação de criminosos na região.
Procurada,a Polícia Militar observou que houve uma oscilação da internet apenas um dia na semana passada no 16º BPM (Olaria) e que a questão foi sanada na mesma data. Segundo a corporação,não há indícios de ato criminoso e sim de falha técnica. Sobre o relato dos moradores,acrescentou que o comando do 16° BPM está trabalhando em conjunto com a delegacia da área para identificar e prender os envolvidos.
Já a Conexis,sindicato que responde pelas operadoras de telecomunicações,divulgou,em nota,que “o furto,o roubo,o vandalismo e a receptação de cabos e equipamentos causam prejuízo direto a milhões de consumidores todos os anos,que ficam sem acesso a serviços de utilidade pública como polícia,bombeiros e emergências médicas”. A entidade citou que ocorre ainda “o bloqueio de acesso das equipes das prestadoras para a manutenção de seus equipamentos”. O setor,diz o texto,“defende uma ação coordenada de segurança pública” para combater essas ações criminosas”.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro