O ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris em primeiro debate — Foto: SAUL LOEB / AFP
GERADO EM: 12/09/2024 - 04:30
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Terça-feira,10 de setembro de 2024,e o peso do mundo está sobre os ombros de Kamala Harris. Dentro de algumas horas aconteceria o debate com Donald Trump,e poucas vezes tanto esteve em jogo num espaço de tempo tão exíguo: não seria um confronto entre duas pessoas com visões diferentes de mundo,um simples embate de ideias,mas um choque entre civilização e barbárie,entre valores que levamos séculos para consolidar,como a importância da verdade e o apreço pelas regras básicas da convivência,e a lei do mais forte.
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Não se trata mais de saber quem é melhor ou pior (embora isso tenha ficado bem claro). Não se trata de saber se Kamala é mais focada,se Trump é mais agressivo,se as políticas de governo que um e outro propõe são mais ou menos viáveis,mais ou menos realistas.
Tudo isso é secundário. E é secundário não só para os Estados Unidos,mas para o mundo todo,sul e norte,longe e perto. Uma possível eleição de Donald Trump normalizará,mais uma vez,e talvez de uma vez por todas,a truculência e a mentira como ferramentas legítimas de governo.
Uma coisa é Maduro roubar as eleições na Venezuela,país que,a essa altura,já viu de tudo,carece de prestígio internacional e se tornou,com anos de ditadura,uma espécie de piada política de mau gosto — um lugar,na inesquecível definição do presidente Lula,“desagradável”.
Os Estados Unidos são tudo menos isso. Com todos os seus defeitos e incongruências,eles são ainda a grande potência mundial,a pátria aspiracional de hordas de imigrantes que atravessam o planeta nas piores condições em busca de mais oportunidades e de uma vida melhor. A maior democracia do mundo,uma terra de liberdade e de justiça para todos; ou,pelo menos,a ilusão disso.
Trump vai na contramão de todos esses pressupostos. A sua candidatura não é um conjunto de propostas,mas um amontoado de ressentimentos e de promessas de vingança — contra os imigrantes,contra as mulheres que acham que podem ocupar todos os espaços,contra as pessoas que pensam e que se comportam fora dos padrões estreitos do patriarcado.
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Eu detesto usar essa palavra,“patriarcado”,que virou arma de batalha e embute tanto rancor e animosidade; mas ela ainda define o mundo em que vivemos.
Kamala e Trump jogam dois jogos diferentes. Ela tem as amarras de uma pessoa que respeita o eleitor e o jogo social; ele não tem limites. São duas categorias,dois pesos diferentes. Ela é o cristão enfrentando um leão no Coliseu — o leão não tem nada a perder,todo mundo conhece a sua natureza e espera apenas que ele cumpra o seu papel no espetáculo.
O grande problema dos países democráticos é que estamos tratando leões e humanos como se fossem animais semelhantes. Entrevistamos o leão a sério,levamos o leão para os debates e damos amplo espaço para o leão,que não só não respeita as regras que seguimos como não entende do que estamos falando. Isso está acontecendo nos Estados Unidos,está acontecendo na Europa,está acontecendo em São Paulo.
Dessa vez o cristão saiu vivo da arena,mas há novos leões se criando no caos.
Ou aprendemos a manter distância,ou em breve seremos todos devorados.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro