Juliana Alves é sucesso com sua personagem Cida,na novela 'Volta por cima' — Foto: Ronald Cruz
GERADO EM: 07/11/2024 - 15:25
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Sucesso como a motorista de ônibus Cida na novela “Volta por cima”,da TV Globo,Juliana Alves admira a força da personagem. “A Cida tem uma história de superação. É inspiradora a forma como ela enfrenta as dificuldades”,analisa.
Atualmente,a atriz carioca,de 42 anos,anda conciliando as gravações da trama com o retorno para a Unidos da Tijuca — ela estava afastada da escola desde 2018,quando deixou o posto de rainha de bateria. “Estar de volta ao dia a dia da escola é algo que amo e me faz muito feliz. Adoro frequentar os ensaios,me sinto como uma grande artista no samba”,afirma Juliana.
Atriz vai desfilar na Unidos da Tijuca,no ano que vem — Foto: Ronald Cruz
Na entrevista a seguir,ela fala sobre a sua relação com o carnaval e comenta a sua relação com a chave da sensualidade,tão presente no carnaval: “Ser sexy é ser livre,política,ter autoestima e autonomia nas escolhas.”
ELA - "Volta por cima" tem sido um sucesso. O que a Cida tem representado para você?
JULIANA ALVES - Já estava feliz pelo texto,pela direção,pelos colegas que estou encontrando,trabalhando com pessoas incríveis,personagens maravilhosos,enredos,temas e manifestações culturais que amo. Então,é muito bom saber que o público também está gostando como eu. Há uma resposta maravilhosa da audiência. E a Cida representa uma personagem que sempre quis fazer. Uma mulher do bem,alto-astral. A vida dela não é um mar de rosas,e isso é ótimo para o nosso trabalho como atriz. É uma pessoa que sabe dar a volta por cima,literalmente,está superando o luto e cuidando de um filho de 10 anos. Adoro trabalhar com o Kaique,que faz o meu filho. É uma personagem que,certamente,é um marco na minha carreira.
Tem sido uma experiência reveladora em algum sentido?
A Cida me ajudou a perceber outros pontos de vista,principalmente em relação ao trabalho dela,a realidade dos motoristas de ônibus. Sempre tive muita experiência como passageira,e sei que não é fácil. A gente vem de um período de melhorias significativas,mas ainda não representa o ideal para trazer mais dignidade para a população. E a Cida me trouxe o ponto de vista desses profissionais,que,do outro lado,têm tantas responsabilidades e enfrentamentos. Ela também tem uma história de superação de um luto,e observo a forma como ela lida com isso. É uma mulher que compreendo muito a maneira como lida com as dificuldades. Por isso,ela tem me ensinado a olhar para mim com um olhar mais generoso,porque,quando admiro a Cida,vejo que tenho muitos pontos de identificação com ela. Tem a ver com a forma como lido com os meus amigos,cuido da minha maternidade e enfrento as inseguranças nas minhas relações. Muitas vezes,a personagem é como se fosse uma pessoa com quem convivemos e nos ensina muitas coisas.
Atriz iniciou uma jornada de cura,após separação — Foto: Ronald Cruz
Quando anunciou o fim do casamento com Ernani Nunes,escreveu que era "hora de cuidar de mim". Como colocou isso em prática?
Tenho feito isso no tempo que a natureza permite. A natureza não dá saltos,mas eu tenho buscado,cada vez mais,me cuidar e olhar para todos os meus relacionamentos de amizade,profissionais e afetivos da forma que eu me sinto bem,com esse olhar afetuoso que sempre tive. Não pretendo mudar a forma de me relacionar com as pessoas,mas sim mudar a forma de me relacionar comigo nessas relações. Falo de me priorizar e priorizar tudo o que sei que é fundamental até para ser quem eu sou. É muito importante não nos perdermos da nossa essência e,muitas vezes,tem certas situações que fazem a gente se perder. Tenho feito bastante terapia,terapias diferentes,tenho cuidado da minha autoestima,buscado ressignificar certos olhares. É importante entender o que realmente importa,e tenho sido mais gentil comigo. Na sociedade em que vivemos,a gente se culpa muito. Tenho me curado de algumas culpas e procurado viver com a responsabilidade que eu quero,para a minha filha,a minha vida,de maneira mais equilibrada e saudável.
A maternidade tornou-se mais desafiadora,por algum motivo? Como se organizou nesse sentido?
A maternidade é desafiadora por si só,inclusive quando você busca uma educação que supere padrões,tenha escuta e atenção,sem abrir mão do rigor necessário para a criança se fortalecer. É algo que requer atenção,tempo e uma dose de paciência. Amo a função de ser mãe e todas as dificuldades envolvidas nisso. Talvez,com a separação,o que mais ficou desafiador foi a questão do tempo com minha filha ficar reduzido. Tem uma presença física que acaba diminuindo um pouco. Por mais que eu trabalhe muito,quando chegava em casa,sempre encontrava a minha filha. Então,quando ela vai para a casa do pai,nesse dia vou dormir sem ela. Dei esse exemplo para mostrar que,como mãe,gosto muito de estar com a minha filha e aproveitar o tempo com ela. Mas essa realidade da separação é algo com o que vamos nos acostumando. E,mais importante,a criança se adapta muito bem a essas circunstâncias,quando você faz como temos feito: com cuidado,para ela entender que sempre seremos uma família e faremos coisas juntos
Você estará de volta à Unidos da Tijuca no ano que vem. O que isso representa para você?
Representa voltar a uma rotina que eu amo,frequentando os ensaios,estando mais próxima do dia a dia da escola. Fiquei afastada desse cotidiano desde 2018,quando deixei de ser rainha de bateria. Estive pontualmente com a escola,desfilando de camisa e,quando fui convidada para vir como comissão de frente,no carnaval do ano passado,optei por fazer sigilo,para fazer uma surpresa na Avenida. Foi uma das maiores honras que tive,ali pude vivenciar todo esse amor que tenho pela escola de samba e pelo que o carnaval representa para mim. Esse dia a dia com a escola me faz me sentir como uma grande artista no samba.
Para Juliana,a sensualidade também pode ser um posicionamento político — Foto: Ronald Cruz
Nos últimos anos,começamos a ver o crescimento do debate sobre a sexualização do corpo das mulheres,inclusive,no carnaval. O que você pensa sobre isso?
O corpo da mulher tem que ser tratado com respeito,tanto no carnaval quanto no restante do ano. Sou artista,fui bailarina,e o corpo exposto em si faz parte da nossa cultura. O corpo estar exposto não é um problema,e sim a forma que ele é apresentado e visto. A questão da sexualização dos corpos das mulheres no carnaval,passa,por um recorte racial. Acho que,no Brasil,a gente tem uma questão que vem antes,que é a questão racial,que vê os corpos das mulheres negras de maneira sexualizada,mas no sentido de desvalorizar todas as outras qualidades que aquela mulher tem,de ser pertencente a uma cultura muito rica e ancestral e base dessa festa.
Sente que precisa se proteger,de alguma forma?
Preciso me proteger pelo fato de ser mulher e negra. Infelizmente,ainda temos sempre nossos corpos objetificados. A sexualidade está no corpo feminino,é bonito ser sexy,acho importante e faz parte da minha vida naturalmente. Ser sexy é ser livre,política e ter autonomia nas minhas escolhas,ter autoestima. Ao longo dos anos,tenho buscado o equilíbrio entre me proteger e ser uma pessoa livre,com coragem para ser múltipla como eu sou.
Exercer a sensualidade é importante para você?
A sensualidade não é algo que busco ao longo da vida. Pela minha personalidade,não tenho essa característica de querer imprimir uma sensualidade,de ter essa preocupação. Acho que a sensualidade faz parte do meu dia a dia,porque pode vir de maneira muito natural. Acho que isso pode ter a ver muito com a forma de como as pessoas veem as outras. A minha sensualidade vem muito de uma conexão com o poder feminino,a minha autoestima,personalidade e jeito de encarar a vida. E é óbvio que,para as minhas personagens,também tive que trabalhar e emprestar minha sensualidade.
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