Governo de SP usará drones para estimar número de morte de peixes após contaminação de rios — Foto: Reprodução/TV Globo
Resíduos da produção de açúcar da Usina São José foram os responsáveis pela mortandade de peixes no Rio Piracicaba,que começou entre os dias 4 e 7 de julho,segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb),que deve divulgar o laudo final do acidente hoje. No fim de semana,foram descobertos milhares de peixes mortos na Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã Rio Piracicaba,criada em 2018 para proteger o que é chamado de “pantanal paulista”.
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Os resíduos teriam atingido o Ribeirão Tijuco Preto,afluente do Piracicaba,e alcançado a APA,a cerca de 60 km,onde vivem animais ameaçados de extinção,como a onça-parda,o lobo-guará,a jaguatirica e o jacaré-de-papo-amarelo. Drones estão sendo usados para avaliar a dimensão do estrago. Ontem,chegou à região um hidrotrator para retirar as toneladas de peixes mortos.
— O extravasamento deste tipo de produto não é usual. A carga orgânica no rio,associada à produção de açúcar,é 20 vezes maior se comparada ao esgoto normal — disse Adriano Queiroz,diretor de Controle e Licenciamento da Cetesb.
Queiroz explica que os resíduos foram decompostos por microrganismos que passaram a consumir muito oxigênio da água,asfixiando os peixes.
— Foi criado um círculo vicioso. Os peixes mortos também são decompostos por microrganismos que consomem ainda mais oxigênio,causando mais mortandade — acrescentou o diretor.
A Cetesb vai aplicar uma multa à Usina São José que pode alcançar R$ 50 milhões. A usina,que está com licenciamento ambiental vigente,teria de alertar as autoridades diante de qualquer situação atípica. Outro agravante,segundo a Cetesb,é que os danos alcançaram uma área de proteção ambiental. O Ministério Público abriu inquérito para investigar a responsabilidade pelo acidente. O vazamento pode ser qualificado como crime ambiental,além de administrativo.
A São José fica no município de Rio das Pedras,vizinho a Piracicaba. Pertence ao Grupo Farias,que atua também em Goiás e no Rio Grande do Norte. A usina estava parada desde 2020,mas o grupo anunciou que retomaria as operações da unidade em maio.
A empresa informou que acompanha a investigação e colabora com a Cetesb “para que as causas do incidente sejam esclarecidas”. Notificada a retirar os peixes mortos do rio,a usina afirmou que,embora não haja um documento oficial que ligue a sua operação à mortandade,começou a negociar com uma empresa especializada em limpeza de cursos d’água.
Os responsáveis pela usina lembraram que houve mais de 15 ocorrências deste tipo na região nos últimos 10 anos. A Cetesb reconheceu que o trecho urbano do rio é poluído,mas em nenhum nível que se compare ao que foi detectado.
A última vez que milhares de peixes morreram no trecho do Piracicaba atingido pelos resíduos foi durante a seca de 2014,a maior dos últimos 50 anos na região. Foram três episódios num único ano. Na época,a explicação foi que a baixa vazão do rio reduzia o oxigênio. Agora,a tragédia é ainda maior.
— A extensão é inigualável. Estamos navegando o rio e a quantidade de peixes mortos é a perder de vista — afirma Tássia Espego,secretária de Administração de Piracicaba,que coordena a limpeza.
Helena Dutra Lutgens,presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo,afirma que um desastre ambiental como esse revela a enorme falha no sistema ambiental no estado.
— Multar não recompõe o ecossistema destruído. Não recupera o desastre causado — afirma a especialista.
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