Da esquerda para a direita: Scott Poteet,Sarah Gillis,Jared Isaacman e Anna Menon: equipe vai passar cinco dias em órbita — Foto: John Kraus/Programa Polaris
GERADO EM: 26/08/2024 - 04:31
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Doze minutos de caminhada e conectado por um fino cabo de 5,35 metros. Foi assim que o cosmonauta soviético Alexei Leonov se tornou,em 18 de março de 1965,o primeiro homem a “andar” no espaço,um marco significativo durante a corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética. Quase 60 anos depois de Leonov,a equipe de quatro pessoas da Polaris Dawn será enviada à órbita da Terra com o mesmo objetivo,marcando a primeira caminhada espacial (chamada oficialmente de atividade extraveicular,ou EVA) da História realizada por uma empresa privada — no caso,a SpaceX,do bilionário Elon Musk.
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Após ser adiada quatro vezes devido à sua complexidade (sobretudo em relação ao desenvolvimento de um modelo de traje espacial totalmente novo e adaptado),a missão foi finalmente programada para decolar: sairá nesta terça-feira às 4h38 (horário de Brasília),do Kennedy Space Center,na Flórida.
Comandada pelo empresário bilionário filantropo Jared Isaacman,que financia o Programa Polaris,a missão também conta com o piloto Scott “Kidd” Poteet,tenente-coronel aposentado da Força Aérea dos EUA,e as especialistas Sarah Gillis e Anna Menon,ambas engenheiras de operações espaciais da SpaceX.
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Tripulação da Crew Dragon usa novo traje para EVA,feito pela SpaceX — Foto: Divulgação / SpaceX
O quarteto passará cinco dias a bordo da cápsula Crew Dragon,sem um destino final estipulado. Além da primeira caminhada comercial,que é o principal objetivo da missão,outras metas incluem testes de comunicação com os satélites Starlink e o estudo dos efeitos da radiação no corpo humano em órbitas superiores.
— É uma oportunidade incrível para nós obtermos alguns dados,mas na verdade é sobre ir além da nossa zona de conforto e de onde estivemos pelos últimos 20 e poucos anos em um laboratório orbital incrível,a estação espacial — disse Isaacman durante uma roda de discussão no Spaces da rede social X,em 4 de maio. — Mas,se vamos chegar à Lua,Marte e além,temos que começar a nos aventurar um pouco mais longe.
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Parte do Programa Polaris,essa será a primeira de três missões tripuladas ao espaço,todas elas com a SpaceX e comandadas por Isaacman. O bilionário — piloto de jatos e fundador da empresa de serviços de pagamento Shift4 —,inclusive,já esteve no espaço em 2021,quando comandou a Inspiration4,primeira missão espacial totalmente civil.
Segundo Isacmann,o terceiro e último objetivo do programa é realizar a primeira missão tripulada da nave Starship da SpaceX,atualmente em desenvolvimento para missões à Lua e Marte. O custo dessas missões não foi revelado.
— Nomeamos o programa Polaris em homenagem à nossa Estrela do Norte,que na verdade é uma constelação de três estrelas. E a Polaris é considerada uma missão com três missões — disse Isaacman.
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Mas antes de qualquer objetivo maior,é preciso fazer essa primeira missão dar certo. E os riscos são altos desde o primeiro dia,a começar pela rota.
Ao ser lançada ao espaço,a espaçonave atingirá uma órbita altamente elíptica,com um apogeu (ponto mais distante da Terra) inicial de 1.200 quilômetros,e depois elevado para 1.400 quilômetros,o mais alto do que qualquer ser humano alcançou desde o fim do programa Apollo,da Nasa,na década de 1970.
Nesse momento,a nave atravessará o Cinturão de Radiação de Van Allen — formado por partículas solares altamente energéticas e presas pelo campo magnético terrestre —,onde a tripulação conduzirá a maior parte de suas pesquisas (em torno de 40 experimentos no total). A região,segundo a Nasa,é importante para proteger o planeta de partículas cósmicas e do vento solar,mas também representa um desafio significativo para missões espaciais,pois as partículas de alta energia podem danificar eletrônicos a bordo e representar riscos à saúde dos astronautas. E é justamente o resultado dessa exposição que a equipe da Polaris quer testar.
A esperada caminhada espacial,entretanto,só acontecerá no terceiro dia da missão (agora num apogeu de 700 quilômetros),sendo Isaacman e Gillis os únicos a fazê-la. A ideia é que dure em torno de duas horas a partir da saída da escotilha e que seja transmitida ao vivo pela SpaceX.
Uma das diferenças entre a Polaris Dawn e outras missões similares é que a Crew Dragon não tem uma câmara de descompressão,onde os tripulantes passam por um protocolo rigidamente controlado para garantir uma transição segura para o exterior. Sendo assim,toda a cabine será exposta ao espaço,modificando os procedimentos pré-EVA e a rotina de pré-respiração.
Para que tudo funcione como o planejado,todo o interior da cabine foi projetado para suportar a despressurização,que será realizada gradualmente ao longo dos dias da missão. Também foi desenvolvido um novo traje EVA a partir do modelo já utilizado pela SpaceX para atividades intraveiculares (IVA). Foram dois anos de trabalho,com centenas de horas de testes em diferentes materiais,para garantir que o modelo fosse adequado.
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Representação artística da Polaris Dawn mostra um membro da tripulação flutuando fora da cápsula Crew Dragon,preso por um cordão umbilical de suporte de vida — Foto: Dvulgação
Diferentemente do volumoso traje da Nasa,o EMU (sigla em inglês para Extravehicular Mobility Unit),o da SpaceX não tem um um sistema de suporte portátil para fornecer oxigênio durante a missão externa. Em vez disso,Isaacman e Gillis permanecerão conectados à nave por um cabo de cerca de 3,6 metros,de forma que essas funções sejam controladas internamente,o que torna o traje mais flexível e confortável.
Há outras diferenças entre as missões conhecidas até então e a Polaris Dawn,como o treinamento da tripulação. Enquanto astronautas da Nasa e de outras agências espaciais se familiarizam com seus trajes em simulações subaquáticas — em um ambiente que simula a microgravidade —,os tripulantes da Crew Dragon o fizeram em um simulador próprio da SpaceX,fora d’água e por meio de um sistema de cordas e polias.
Além do conforto do traje,a vida a bordo dos tripulantes da Polaris Dawn será relativamente suave: estarão em um espaço com um volume de 9,3 metros cúbicos para quatro pessoas (maior que na Apollo) e com comida mais fresca do que as comumente fornecidas a astronautas (com sanduíches e fatias de pizza nos dois primeiros dias,e depois barras de cereal e carne seca). A tripulação também terá café gelado,que será usado inicialmente para manter os alimentos frescos e depois consumido quando descongelar.
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A diferença é gritante quando comparada à inaugural missão soviética. Quando Leonov flutuou no vazio do espaço,conectado à nave Voskhod 2,ele sabia que aquela seria uma tarefa perigosa (afinal,ninguém nunca havia realizado tal feito antes),e mesmo assim,enfrentou dificuldades inesperadas. O primeiro problema veio quando seu traje inflou no vácuo,tornando o retorno ao módulo uma tarefa quase impossível.
No retorno à Terra,a missão passou por mais desafios,com o sistema de controle de voo e a necessidade de um pouso manual de emergência,acarretando em um pouso forçado na Sibéria,muito longe do planejado. Ainda assim,foi um marco histórico e suficiente para solidificar a liderança na URSS naquele momento.
A resposta americana veio menos de três meses depois,enviando o astronauta Ed White ao espaço em 3 de junho do mesmo ano,com a missão Gemini 4. Em contraste com a missão soviética,White utilizou uma pistola de gás para se movimentar pelo vazio,com uma caminhada de 23 minutos.
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Nas décadas seguintes — sem esquecer da histórica missão Apollo 11 da Nasa,que levou os americanos Neil Armstrong e Buzz Aldrin a se tornarem os primeiros a caminharem na superfície lunar —,o espaço se transformou em um terreno conhecido para outros astronautas,mas até então reservado apenas a homens. Foi somente em 1984 que a primeira mulher realizou tal façanha,a cosmonauta soviética Svetlana Savitskaya,durante sua missão de reparação da estação espacial Salyut 7,que durou três horas.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro