Incêndio atinge área próxima à rodovia estadual SP-215,em São Carlos,São Paulo,na sexta-feira (23) — Foto: Lourival Izaque / AFP
GERADO EM: 26/08/2024 - 00:01
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Até o domingo,a onda de queimadas em São Paulo já acumulava mais de 3,4 mil focos detectados por satélite neste mês: segundo a MetSul Meteorologia,os dados mostram um quadro "absolutamente fora do normal e extraordinário". Ontem,a ministra do Meio Ambiente,Marina Silva,em declaração sobre a situação,relembrou o Dia do Fogo,cadeia de incêndios ocorridos no Pará em 2019,durante o governo de Jair Bolsonaro.
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A ministra e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram com funcionários do Ibama em Brasília,neste domingo,para discutir e anunciar medidas para combater os incêndios no interior de São Paulo e em outros estados. Segundo Marina,a Polícia Federal já abriu 31 inquéritos entre Amazônia e Pantanal,além de dois em São Paulo.
— Do mesmo jeito que nós tivemos o 'dia do fogo',há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo — disse.
Ela completou:
— É uma verdadeira guerra contra o fogo e criminalidade — disse Marina: — Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana,praticamente em dois dias,vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência nesses anos de trabalho com fogo.
Nesta sexta-feira,São Paulo registrou 1.886 focos de incêndios,e superou até mesmo a Amazônia,que contabilizou 1.659 focos no mesmo período. No Brasil inteiro,foram registrados 4.928 focos de calor neste dia. Isso significa que apenas o estado de São Paulo representou 38% de todas as queimadas do país.
Na declaração,a ministra referiu-se ao dia 10 de agosto de 2019,quando produtores rurais do interior do Pará em uma ação coordenada,combinada em grupos de WhatsApp,ateou fogo em áreas de Floresta Amazônica,principalmente a partir das margens da BR-163.
Dados compilados pelo Greenpeace Brasil mostram que os 478 imóveis rurais envolvidos no "Dia do Fogo" seguem com altos índices de desmatamento e queimadas recorrentes. Apesar das ilegalidades,29 dessas propriedades foram financiadas pelo crédito rural - instrumento da política agrícola brasileira.
Dos 478 imóveis avaliados pelo Greenpeace Brasil,29 possuem um histórico de financiamento via crédito rural,totalizando 127 transações e um montante de R$ 201.418.002,16. A maior parte dessas operações,74%,tiveram a finalidade de aquisição,criação e manutenção de bovinos,uma soma de R$ 134.473.688,80.
Entre os anos de 2008 e 2023 da série histórica de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),os 478 imóveis rurais catalogados concentraram 206.083 hectares de destruição. O ápice desse desmatamento registrado no interior dos imóveis foi justamente o ano de referência de 2019,onde,dias depois,se efetivou o episódio do “Dia do Fogo” na região.
O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da UFRJ,que dimensiona a área queimada através das cicatrizes que ficam após o fogo,aponta que,entre 2019 e 2023,nessas propriedades houve anualmente uma devastação superior a 140 mil hectares. A maior área de queimadas foi registrada em 2020,275 mil hectares.
“É importante ressaltar que parte do desmatamento registrado nestes 478 imóveis ocorreu em cima de floresta pública sem destinação,ou seja,de florestas da propriedade da União. Mesmo com toda a repercussão do Dia do Fogo em 2019,os índices de desmatamento nessas mesmas propriedades mantiveram seu ritmo até 2021,tendo queda nos anos seguintes,mas ainda assim registrando um desmatamento anual acima dos 9 mil hectares”,explica a porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil,Thais Bannwart.
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