Registro de baile em 1976,no Rio — Foto: Athayde dos Santos
GERADO EM: 04/09/2024 - 04:30
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O Brasil seria um país bem diferente,não fosse o Black Rio,movimento cultural e político surgido na década 1970. “Eles construíram toda a tecnologia de bailes,como conhecemos hoje com o funk. Não haveria Anitta nem Ludmilla. O rap também seria outro”,afirma Emílio Domingos,diretor do documentário “Black Rio! Black Power!”,que chega aos cinemas nesta quinta.
Por meio de depoimentos e imagens de arquivo,o longa esmiúça o alcance das festas que se espalharam pelo subúrbio carioca,embaladas pela soul music e os ditames do orgulho negro americano. Eventos onde nada,vale frisar,se restringia a música e diversão: foram fortes o suficiente para mexer também nas estruturas políticas e sociais do país. “O próprio movimento negro passa por lá. Afinal,muitos intelectuais frequentavam os bailes”,acrescenta Emílio.
Uma história que toca também na autoestima e na afirmação estética das pessoas negras,fortemente inspiradas,naquele momento,pelo visual retratado nas capas de discos de astros como James Brown e os quenianos do grupo Matata. “Não existiam as redes de fast fashion como hoje. Tudo era customizado,a partir do que era encontrado na época”,comenta o diretor. E assim o cabelo virou black power,as costureiras começaram a trabalhar como nunca para criar roupas especiais para os bailes e as lojas de artigos religiosos ganharam novos clientes em busca de cachimbos estilosos.
Mas a grande estrela fashion dessa cena era mesmo o “cavalo de aço”,nome dado ao sapato produzido artesanalmente em lojas da cidade e objeto de desejo para quem riscava os chãos dos salões. Entrevistado no doc,o DJ Nennem,um dos fundadores da equipe de bailes Soul CurtSoul e filho de sapateiro,guarda boas recordações dos calçados. “Custavam caro e podiam ter dois ou três ‘andares’ de sola”,descreve,contando que quem ostentava os modelos mais altos saía melhor na fita. “Em seguida,a roupa acompanhava os sapatos,com calças justas e camisas de seda ou jersey.”
E os guarda-roupas nunca mais foram os mesmos.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro