Cristiano Girão,ex-vereador e ex-chefe da milícia de Gardênia Azul — Foto: Fabiano Rocha
GERADO EM: 12/09/2024 - 04:30
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Menos de 24 horas após a Justiça expedir um mandado de busca e apreensão contra o ex-bombeiro e ex-vereador Cristiano Girão Matias,em 24 de agosto de 2020,ele compareceu à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) sem ter sido convocado oficialmente e durante a madrugada. Na época,Girão estava sendo investigado como um dos suspeitos de ser o mandante da morte da vereadora Marielle Franco e pela execução de um miliciano rival,o ex-policial André Henrique da Silva,conhecido como André Zóio. Fontes envolvidas nas investigações da fase do mando,em âmbito federal,confirmaram a ida de Girão à DHC após a análise de seu celular. O aparelho havia sido utilizado pela última vez na delegacia,quando o ex-bombeiro se conectou ao Wi-Fi da própria polícia.
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A descoberta só foi possível porque investigadores da Polícia Federal,ao rastrear os passos de todos os suspeitos de serem os mandantes,apuraram que Girão acessou o Wi-Fi da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) em 25 de agosto de 2020,às 0h47,usando a senha da delegacia: "dhcapital2019". Segundo o relatório dos peritos,a senha de acesso ficou registrada no aparelho do suspeito.
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Somente em 9 de setembro,duas semanas após a expedição do mandado assinado pelo juiz do 3º Tribunal do Júri,Alexandre Abrahão,as buscas foram realizadas na casa de Girão. O celular foi apreendido,mas,de acordo com os investigadores,após o episódio na DHC,o ex-bombeiro não utilizou mais o aparelho. Nenhum dado relevante foi encontrado no dispositivo.
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Além de celulares,o magistrado autorizou a apreensão de agendas,cadernos de anotações,notebooks,computadores,HDs externos,cartões de memória,armas,munições e acessórios. O pedido foi feito pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) e pela DHC,como parte da operação denominada Déjà Vu. Como Girão possuía residências no Rio de Janeiro e em São Paulo,as buscas ocorreram em ambos os locais. No entanto,apesar das investigações da Polícia Federal,que começaram em fevereiro do ano passado,nada foi encontrado contra Girão.
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No ano passado,após as delações dos assassinos confessos,os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz,Girão deixou de ser considerado suspeito de ser o mandante da morte de Marielle. Segundo Lessa,os verdadeiros mandantes do crime são os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão — conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e deputado federal,respectivamente —,além do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. Os três estão presos em presídios federais.
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Em 2008,Girão foi denunciado pela CPI das Milícias,presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ),por supostamente chefiar uma organização criminosa na Gardênia Azul,Zona Oeste do Rio. Após ser condenado por formação de quadrilha,ele ficou preso por oito anos,cumprindo a maior parte da pena em presídios federais de Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO),até ser beneficiado por um indulto em agosto de 2017.
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Em 2021,Girão voltou a ser preso,acusado da morte de André Zóio e sua companheira,Juliana Sales de Oliveira,ocorrida em 14 de junho de 2014,na Gardênia Azul. O casal foi morto dentro de um Honda Civic prata,dirigido por Zóio,que foi cercado por uma Fiat Doblo prata,ocupada por três homens,em frente à sede da Associação de Moradores da Gardênia. Miliciano da região,Zóio estava levando Juliana para o trabalho quando ambos foram fuzilados com 40 tiros. O crime estaria relacionado à disputa pelo controle da Gardênia.
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Lessa teria confessado sua participação no crime,conforme consta em um dos anexos de sua delação premiada,ainda sob sigilo,e isentou Girão de ser o mandante do homicídio do casal. Com base na colaboração premiada de Lessa,o advogado de Girão,Zoser Hardman,solicitou a revogação de sua prisão,mas o pedido foi negado pela Justiça. A defesa planeja impetrar um habeas corpus no Tribunal de Justiça para reverter a decisão.
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— O Cristiano (Girão) está preso pelo caso do Zóio,mas o próprio Lessa já afirmou que não conhece meu cliente. As provas nos processos,tanto do caso de Zóio quanto do de Marielle,confirmam isso. Não há nada contra Cristiano. Sobre o caso do telefone,ele só esteve na Delegacia de Homicídios em duas ocasiões: quando prestou depoimento e ao ser preso,em 2021. Ele morava em São Paulo e não viria ao Rio sem ser formalmente intimado. Cristiano não tem amigos na DH — afirmou a defesa do ex-vereador.
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