Othon Bastos em cena do filme 'O voo do anjo' — Foto: Beto Gerolineto/Divulgação
GERADO EM: 25/10/2024 - 03:30
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Othon Bastos não gasta muito tempo esquentando o assento de sofás. Se está de folga e vê que não há uma nuvem no céu,o ator trata logo de sair de casa para tomar sol. Não é raro encontrá-lo em caminhadas — de “três,quatro,cinco,seis ou,sei lá,sete quilômetros”,como ele enumera — entre a orla dos bairros de Copacabana e Leblon,na Zona Sul do Rio de Janeiro.
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— Não disputo maratona nenhuma,né? Só se existisse uma maratona para velhíssimos! — gargalha o artista,aos 91 anos. — Faço apenas o que os médicos me pedem: andar e respirar. E assim vou indo,sem pressa: andando e andando... Se tenho que resolver algo na rua,também vou lá e faço,porque aí já conta como um exercício físico. Não me entrego ao ócio. Pelo contrário! Joguei o ócio no porão e não quero saber dele por enquanto. Prefiro deixar isso para depois.
Othon Bastos,aos 91 anos,na peça 'Não me entrego,não!' — Foto: Divulgação/Beti Niemeyer
Rosto,corpo e voz de um dos maiores fenômenos teatrais da atualidade no país,o artista até vislumbra um descanso “um pouquinho mais prolongado” a partir de 8 de dezembro,quando encerrará a temporada de sucesso da peça “Não me entrego,não!”,em cartaz desde junho no Teatro Vannucci,na Gávea. As férias,porém,serão curtas. É que o solo biográfico com dramaturgia e direção de Flávio Marinho — em que Othon repassa as próprias memórias — retornará aos palcos cariocas no início de janeiro. E mais. O espetáculo já tem data confirmada para estrear em São Paulo,a partir de maio de 2025. Antes disso,haverá também apresentações pontuais,em novembro,em Brasília e no Recife. O artista quer seguir assim,realizando o monólogo onde for possível e até que haja gente na plateia.
— Quem prorroga o espetáculo é o público. Não temos patrocinadores até hoje. Então,quem está nos patrocinando são os espectadores no boca a boca. Surpreendo-me muito com isso,porque jamais pensei que as pessoas tinham tanto interesse por mim — diz,reconhecendo que a ausência de apoio institucional é reflexo de uma situação mais abrangente no país. — Cultura não existe no Brasil. Cultura,por aqui,é “curtura”: é tão curta que não existe. É uma loucura isso.
Com o sucesso recente no teatro,Othon tem recebido alguns convites para trabalhos no cinema. Por ora,ele quer se dedicar por inteiro à peça (“Não acho bom fazer 20 coisas ao mesmo tempo”,justifica). O recém-lançado “O voo do anjo”,que chegou ontem às telonas do país,foi rodado no primeiro semestre deste ano.
O filme dirigido por Alberto Araújo acompanha a história de um homem (papel de Emílio Orciollo Neto) afetado pela perda da filha,vítima de um acidente,e que tem a vida radicalmente transformada após um encontro inspirador com um desconhecido,um professor de física aposentado (interpretado por Othon),de quem se torna um grande amigo.
— Há uma mensagem importante,nessa narrativa,sobre o poder do diálogo. Hoje em dia ninguém escuta ninguém! A luta da vida,para mim,é esta: ser uma pessoa compreensiva. Para cultivar afetos,é importante ouvir e entender as pessoas — destaca o ator,casado há quase seis décadas com a também atriz Martha Overbeck,de 86 anos. — A gente se dá muito bem só porque a gente se escuta muito. O que digo é mesmo verdade: é preciso amar e escutar.
Othon Bastos e Emilio Orciollo Neto em cena do filme 'O voo do anjo' — Foto: Beto Gerolineto/Divulgação
O artista dá uma risadinha rouca quando ouve que esbanja vitalidade. Além dos cuidados básicos com o corpo (“Na minha idade,não dá para ficar sentado ou deitado o dia todo”,ele brinca),não há tanto segredo para tal vigor,como ele pondera.
Na infância,o baiano da pequena cidade de Tucano (BA) leu a reprodução de um poema da americana Emily Dickinson,numa edição da revista “Seleções”,e cristalizou na mente um dos versos: “Eu nasço contente todas as manhãs”. A frase é um mantra que ele repete praticamente todo dia.
— Essa é a imagem que sempre regeu a minha vida. Para viver,é preciso ter alegria. Sem isso,não se vive. E acho que nós,em geral,estamos ficando cada vez mais carrancudos,perdendo o dom de rir. Mas é a alegria que impulsiona a vida — assevera. — Sobre a minha vitalidade,bem... Vitalidade rima com vontade. E eu tenho vontade. É a vontade fazer um espetáculo. É a vontade de conversar. É a vontade de provocar as pessoas para que elas não percam a esperança. Isso a gente não deve deixar,jamais,que alguém tire da gente.
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Chico Diaz e Enrique Diaz são irmãos — Foto: Reprodução/Instagram
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Os atores Daniel Dantas e Andréa Dantas são irmãos. Na foto de 2002,eles aparecem com o pai,o também ator Nelson Dantas — Foto: Cristina Granato
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Visto recentemente em "Elas por elas",Francisco Vitti é irmão de Rafael Vitti — Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
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Tato Gabus Mendes e Cassio Gabus Mendes são irmãos — Foto: Reprodução/Instagram
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Bia Comparato e Lorena Comparato são irmãs — Foto: Reprodução/Instagram
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Camila Pitanga e Rocco Pitanga são irmãos — Foto: Reprodução
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Juan Aguiar é irmão de Arthur Aguiar — Foto: Reprodução
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Felipe e Rodrigo Simas são irmãos de Bruno Gissoni por parte de mãe — Foto: Reprodução/Instagram
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Titi,Tuti e Tainá Müller são irmãs — Foto: Reprodução/Instagram
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Cauã Reymond é irmão de Pavel Reymond,que fez a novela "Um lugar ao sol" — Foto: Reprodução/Instagram
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Os artistas Ana Terra Blanco (Malhação),Daniel Blanco (Malhação) e Lua Blanco (Rebelde) são irmãos — Foto: Reprodução/Instagram
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Os atores Ricky Tavares e Juliana Xavier são irmãos — Foto: Reprodução/Instagram
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Kieran Culkin,de ‘Succession’,é irmão de Macaulay Culkin — Foto: Reprodução
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Gustaf Skarsgård (de série "Vikings"),Bill Skarsgård ("It - A coisa") e Alexander Skarsgård ("Succession") são irmãos — Foto: Reprodução
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Liam Hemsworth ("Jogos vorazes"),Chris Hemsworth ("Thor") e Luke Hemsworth ("Westworld") são irmãos — Foto: Reprodução/Instagram
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Os atores de Hollywood Jake e Maggie Gyllenhaal são irmãos — Foto: Reprodução/Instagram
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Damon Wayans ("Eu,a patroa e as crianças") é irmãos dos atores Marlon e Shawn Wayans,do filme "As branquelas" — Foto: Reprodução/Instagram
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Intérprete de personagens marcantes na história do cinema,do teatro e da TV — entre os quais o cangaceiro Corisco,de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964),de Glauber Rocha,e o sertanejo Paulo Honório,de “São Bernardo” (1972),de Leon Hirszman —,Othon se sente habitado por um sem-número de homens diversos. Todos os tipos para quem já deu vida povoam a pele do ator. Aliás,o ânimo com que encara o tempo presente (e sobretudo o futuro) também surge daí. A preservação minuciosa da memória — esta,sim,talvez a grande protagonista da peça “Não me entrego,não!” — é o que o impulsiona a continuar andando,andando,andando. Sem grandes pausas para a preguiça ou o ócio.
— Para ser um bom ator é necessário carregar uma multidão dentro de si. Tem-se que viver,mas mantendo a lembrança de tudo o que já foi feito. Sempre. Essa é a coisa mais importante na vida. Todos os personagens que interpretei estão dentro de mim,sentados à mesa com a minha alma — frisa. — E,olha,é imensa a satisfação que eu tenho de poder,fazer um espetáculo de mais ou menos 1h30,debruçando-me sobre as coisas pelas quais passei,mas nunca com rancor. Como faço tudo com alegria,sei que as pessoas também recebem esse sentimento. Fico muito feliz de ouvir o público me agradecendo por transmitir lucidez e esperança. Viver é mais importante do que a posteridade,entendeu?
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro