Arseny Turbin,de 16 anos,foi preso em 2023 após protestar contra o regime de Vladimir Putin na Rússia — Foto: Reprodução/ Acervo pessoal
GERADO EM: 05/12/2024 - 17:03
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Em uma manhã fria de novembro,Irina Turbina prepara malas recheadas com comida,produtos de higiene e livros para seu filho de 16 anos,Arseny. A viagem de dois dias até Moscou reflete uma rotina dolorosa: a cada duas semanas,ela se desloca para um centro de detenção onde vê o garoto,um dos prisioneiros políticos mais jovens da Rússia,condenado a uma sentença de cinco anos.
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Arseny foi preso em 2023 após desabafar sobre sua decepção com o presidente Vladimir Putin e criticar a propaganda estatal em sua escola durante um programa matutino de TV,e de protestar em Livny,sua cidade natal,contra o líder russo. Ele então foi acusado pelo Kremlin de supostamente se envolver com a Legião da Liberdade da Rússia,um grupo paramilitar que luta contra o regime de Putin na Ucrânia. Embora tenha mantido contato com o grupo,ele nega que tenha se juntado a ele. Sua mãe acredita em sua inocência.
— A última vez que o abracei foi em 20 de junho,no dia em que o veredicto foi pronunciado — contou Turbina em uma entrevista por telefone à CNN. — Ele me abraçou,chorou,e então os guardas vieram imediatamente e o levaram embora.
Nas cartas que Arseny envia para a mãe,ele descreve os horrores da prisão: perda acentuada de peso,episódios de violência e um ambiente extremamente hostil.
"Por favor,peço-lhe que faça tudo o que puder para garantir que eu seja libertado”,implorou Arseny a ela em uma carta escrita antes de uma audiência de apelação no mês passado e compartilhada com a CNN. "Sonho com o dia em que serei libertado e poderei abraçá-la."
Arseny não é um caso isolado. Pelo menos 35 menores foram acusados de crimes políticos na Rússia nos últimos 15 anos,com 23 desses casos surgindo após a invasão da Ucrânia,em fevereiro de 2022,conforme dados da OVD-Info,uma organização de monitoramento independente.
Sergei Davidis,diretor do Programa de Apoio a Prisioneiros Políticos do Memorial Human Rights Center,destaca a escalada da criminalização de jovens por expressarem oposição ao governo. Segundo ele,a Rússia possui leis que permitem julgar menores de 14 anos por crimes graves,como terrorismo e traição,o que tem sido utilizado para reprimir aqueles que se opõem ao regime de Putin.
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Capital ucraniana mantém um movimento normal nas ruas e o comércio funcionando até meia-noite,quando se impõe o toque de recolher que termina às 5 da manhã.
Em 2023,outro caso de destaque foi o de Kevin Lick,um jovem de origem russo-alemã,preso aos 17 anos e condenado a quatro anos de prisão por traição ao Estado. Lick foi acusado de fotografar objetos militares com a intenção de passar as imagens à inteligência estrangeira,algo que ele nega.
Durante sua prisão,Lick enfrentou confinamento solitário e abusos físicos. Embora tenha sido libertado como parte de uma troca de prisioneiros entre a Rússia e países ocidentais,ele afirma que o sistema prisional russo deixou cicatrizes profundas.
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Reunido com sua família na Alemanha,ele agora defende os direitos dos prisioneiros políticos ao lado de outros exilados. Para ele,há muitos jovens,como Arseny,que enfrentam a repressão no país por se oporem à guerra e ao regime de Putin.
— Eles não são apenas estatísticas — afirmou à CNN,enfatizando a importância de lutar pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos na Rússia.
Além de jovens como Arseny e Lick,o caso de Alexey Moskalev,um empresário russo,expõe a crueldade da repressão a famílias inteiras. Moskalev foi condenado a quase dois anos de prisão por "desacreditar o Exército russo",depois que sua filha de 12 anos,Masha,fez um desenho em que representava a bandeira russa e a ucraniana,respectivamente,com as inscrições “Não à guerra” e "Glória à Ucrânia" ao lado de uma mulher protegendo seu filho de mísseis disparados da Rússia.
A imagem chamou a atenção das autoridades escolares. Moskalev foi inicialmente multado e depois encarcerado por suas próprias publicações online críticas à guerra,enquanto Masha foi temporariamente colocada em um orfanato. Libertado em outubro,Moskalev saiu da prisão magro e vestindo um uniforme de prisão fino e desbotado. Imagens de vídeo o mostraram abraçando sua filha aos prantos.
Esses casos ilustram o crescente número de detenções por motivos políticos na Rússia,um reflexo de uma repressão sistemática que se intensificou desde a invasão da Ucrânia. Em 2023,cerca de 20.070 pessoas foram detidas por se opor ao regime de Putin,com 9.369 casos de “desacreditar o Exército” registrados,incluindo publicações em redes sociais e manifestações contra a guerra,disse Dmitry Anisimov,porta-voz da OVD-Info,à CNN.
Organizações de direitos humanos denunciam a violação dos direitos fundamentais das crianças,que são tratadas como inimigas do Estado,principalmente quando suas manifestações são vistas como uma ameaça ao governo. A OVD-Info e o Memorial documentam esses abusos,mas o Kremlin nega a existência de prisioneiros políticos,afirmando que todas as detenções são baseadas em violações legais.
Especialistas destacam que a repressão tem como objetivo moldar a juventude,tornando-a cúmplice do regime russo,e evitar qualquer forma de dissidência. Para Nina Khrushcheva,professora de assuntos internacionais da New School,em Nova York,e bisneta do ex-líder soviético Nikita Khrushchev,o governo tenta,desde a infância,garantir que as futuras gerações sigam a linha oficial e apoiem as políticas do Kremlin.
— Porque eles pensam que se fizerem uma lavagem cerebral da maneira correta desde pequenos,aos 16 anos eles dirão "sensacional,Putin é ótimo" — afirmou.
Apesar da repressão,muitos jovens continuam a se levantar contra o regime,desafiando as autoridades e os limites impostos à liberdade de pensamento.
— É melhor ir para a prisão do que ser uma máquina de matar na Ucrânia — concluiu Lick.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro