A Main Reading Room,principal sala de leitura da Biblioteca do Congresso,uma das atrações imperdíveis de Washington DC — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Com a proximidade de mais uma eleição presidencial nos Estados Unidos,os holofotes de todo o mundo se voltam para Washington DC. Seus imponentes prédios neoclássicos,estátuas de heróis nacionais e memoriais que podem ser vistos a quilômetros de distância servem de pano de fundo para os embates cada vez mais quentes de democratas e republicanos. Mas para quem visita esta capital monumental,o que encanta mesmo são os detalhes.
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Os desenhos que cobrem o teto da maior biblioteca do mundo,as caricaturas de presidentes marcadas na parede de um restaurante,o pôr do sol de frente para o rio ou o tempero de um chili preparado pela mesma família há décadas são dessas coisas que até poderiam passar despercebidas numa visita “padrão” pela cidade. Mas que,quando combinadas com monumentos,parques e museus,deixam a capital federal americana mais interessante.
Os detalhes de Washington encantam,mas a melhor maneira de começar a explorar a cidade é pelo macro. E o lugar onde se tem o panorama mais amplo possível é no National Mall,uma combinação de prédios públicos,centros culturais,museus,monumentos,parques e jardins que ocupa uma área equivalente a 405 campos de futebol no coração da cidade.
O National Mall,área que reúne museus,parques e monumentos em Washington DC,com o Capitólio ao fundo,visto do alto do obelisco — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Praticamente no meio do eixo central do National Mall,um retângulo que se estende por 23 quarteirões,está o Washington Monument,o famoso obelisco de 169 metros de altura,visível de diversos pontos da cidade. Para subir até o topo,basta reservar um bilhete pela internet,a US$ 1 (recreation.gov),ou retirar de graça,no dia,sujeito à lotação.
Lá do alto,é possível mapear a região e identificar os principais pontos de interesse. A oeste,o Lincoln Memorial e o espelho d’água Reflecting Pool. A leste,o Capitólio,a Biblioteca do Congresso e uma seleção de museus imperdíveis. Ao sul,o lago artificial Tidal Basin e o Thomas Jefferson Memorial. E ao norte,a Casa Branca,endereço dos sonhos de Kamala Harris e Donald Trump.
O Martin Luther King Jr. Memorial é um dos destaques do National Mall,em Washington DC,capital dos Estados Unidos — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Não importa a direção que se tome ao descer,em algum momento o visitante se vê subindo as escadas do Lincoln Memorial para ver de perto a famosa estátua do 16º presidente dos Estados Unidos. Parte do monumento está em obras de melhorias,que devem estar concluídas em 2026,quando o país comemorará os 250 anos de sua independência. Apesar dos tapumes,é possível encontrar,no penúltimo degrau,a inscrição “I have a dream”,marcando o local exato de onde Martin Luther King Jr. proferiu seu mais famoso discurso,em 28 de agosto de 1963,durante a Marcha para Washington.
O ativista,símbolo dos movimentos pelos direitos civis,também tem um monumento para chamar de seu. Representando uma de suas frases memoráveis (“Da montanha de desespero,surge uma pedra de esperança”),o Martin Luther King Jr. Memorial fica de frente para a Tidal Basin,numa das áreas das famosas cerejeiras presenteadas pelo Japão e que colorem de rosa clarinho o parque por alguns dias na primavera.
Visitantes refletidos nas paredes de mármore do memorial em homenagem aos combatentes americanos mortos na Guerra do Vietnã,nos EUA — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Em contraste com o pacifismo de Dr. King,o National Mall tem uma grande quantidade de memoriais para lembrar a participação dos EUA em diversos conflitos militares ao longo do século XX. Não faltam estátuas,monumentos e paredes repletas de nomes para lembrar os soldados e oficiais mortos em combates da Primeira Guerra Mundial ao Vietnã. Em breve,um novo memorial,dedicado à Guera ao Terror,nos primeiros anos deste século,deve ganhar um espaço na região.
Do lado oposto ao Lincoln Memorial está o Capitólio. E longe dos manifestantes violentos de 6 de janeiro de 2021,é possível visitar este símbolo do poder na maior paz. A entrada também é gratuita,e é recomendável agendas pelo visitthecapitol.gov.
De dentro da Rotunda,o hall central do Capitólio,é possível ver a decoração no teto da cúpula,com fundadores dos Estados Unidos interagindo com deuses gregos no Olimpo — Foto: Eduardo Maia / O Globo
O tour,de 45 minutos,passa por alguns salões históricos do prédio,como as antigas câmaras do Senado e dos deputados,e pela Rotunda,o espaço sob a cúpula de 88m de altura e 29m de diâmetro. Nas paredes,pinturas de John Trumbull contam a história da Revolução Americana. E,no teto,o afresco “A apoteose de Washington”,do greco-italiano Constantino Brumidi,mostra os “pais fundadores” sendo recebidos no Olimpo por deuses greco-romanos.
Um túnel leva do Centro de Visitantes do Capitólio à Biblioteca do Congresso (loc.gov/visit,entrada grátis). Reserve ao menos uma hora para este programa,porque certamente gastará longos minutos apenas observando a beleza do hall central do edifício Thomas Jefferson. As colunas,escadas,estátuas de bronze,vitrais e pinturas nos tetos,representando as artes e as ciências,remetem à opulência da “Era Dourada” americana,na virada do século XIX para o XX.
O hall central do Thomas Jefferson Building,um dos três prédios que integram a Biblioteca do Congresso,a maior do mundo,em Wasington DC,nos EUA — Foto: Eduardo Maia / O Globo
O título de maior biblioteca do mundo se justifica pelos mais de 164 milhões de itens guardados ali,entre livros,fotos,documentos,gravações,mapas,obras de arte. Uma pequena fração desse acervo está exposto em galerias ou no próprio salão principal,como é o caso de uma das únicas três Bíblias originais de Gutenberg e o primeiro mapa-múndi a mostrar o continente americano.
Impactante também é a Main Reading Room,a sala de leitura principal da biblioteca,mais um espaço redondo sob uma cúpula de deixar os arquitetos do Panteão de Roma orgulhosos. Com paredes ricamente decoradas por pinturas,esculturas e outros elementos,o salão tem um conjunto de de estátuas representando gênios das artes e ciências,como Beethoven,Heródoto,Platão e Shakespeare. Para visitar,há uma pequena fila,e o tempo lá dentro é curto,de não mais de dez minutos. O silêncio é obrigatório porque,afinal de contas,essa beleza ainda funciona como uma biblioteca de verdade.
A bela arquitetura do National Museum of African American History and Culture,o mais recente a ser inaugurado no National Mall,capital dos EUA — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Pode-se dizer que Washington está para o turismo cultural como Orlando está para os aficionados por parques temáticos. Com uma pequena diferença: no Distrito de Colúmbia,as maiores emoções são de graça. Não se paga nada para entrar nos principais museus da cidade,quase todos sob o guarda-chuva do Smithsonian Institution,uma organização que administra uma série de atrativos culturais,entre eles 11 museus que ficam no National Mall ou nos arredores.
O mais recente deles é também um dos imperdíveis desta lista. Aberto em 2016,o National Museum of African American History and Culture leva o visitante a uma viagem por seis séculos,da África dos 1400,antes do início da escravização transatlântica,até a eleição de Barack Obama.
Parte da exposição do National Museum of African American History and Culture,no National Mall,em Washington DC — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Combinando interatividade e objetos históricos,a exposição permanente se espalha por seis andares abordando temas como os métodos de trabalhos nos latifúndios do Sul do país,a participação dos negros nas guerras de Independência e Secessão,o período da segregação racial,os movimentos pelos direitos civis e a presença na vida cultural dos Estados Unidos e,por que não dizer,do mundo.
Entre os demais museus,há opções para todo tipo de viajante. Famílias com crianças não devem deixar passar os fósseis e reproduções de animais do National Museum of Natural History,e os tesouros da corrida espacial (como o módulo de comando da Apollo 11) do National Air & Space Museum.
Módulo de comando da Apollo 11,nave que levou os astronautas na missão do primeiro pouso à Lua,em 1969: peça é um dos destaques do National Air & Space Museum,em Washingon DC — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Os amantes das artes poderão gastar dias inteiros nas galerias na National Gallery of Art (e seu espaço para esculturas,ao ar livre),na National Portrait Gallery (só de retratos de pessoas) e no Hirshhorn Museum (dedicado à arte contemporânea,e que terá uma exposição dos brasileiros Osgemeos de 29 deste mês a 25 de agosto de 2025).
Já o National Museum of American History tem um amplo recorte da história do país,exibindo tanto uma das primeiras representações do Tio Sam quanto os sapatinhos de cristal de Dorothy,de “O mágico de Oz”.
Lobby do hotel cinco estrelas The Willard,o mais antigo de Washington DC,capital dos EUA — Foto: Eduardo Maia / O Globo
A poucos metros da Casa Branca (que em setembro abrirá uma nova experiência em seu centro de visitantes),o Willard InterContinental Washington,ou apenas The Willard,é o hotel mais antigo da capital. Vizinho do poder desde 1818,quando surgiu a partir de um combinado de casas,ele já recebeu uma lista interminável de chefes de Estado e representantes de governos internacionais,e até presidentes eleitos às vésperas da posse. Foi assim,por exemplo,com Abraham Lincoln,que passou dez dias no Willard antes de se mudar para seu último endereço,na mesma Pennsylvania Avenue.
Depois de muitos altos e baixos,o cinco estrelas Willard continua em atividade,preservando um estilo clássico e um serviço cinco estrelas. Mesmo quem não está hospedado ali pode viver um pouco desse clima tomando um drinque no classudo The Round Robin Bar,apelidado de “Salão Oval dos bares”,ou pedindo panquecas no café da manhã do Café du Parc. Ou apenas apreciando o lobby,onde,reza a lenda,teria nascido o termo “lobista”,em referência aos políticos e empresários que viviam por ali em conversas nem sempre republicanas.
Desenhos com os rostos dos últimos presidentes dos EUA (e atual vice-presidente Kamala Harris) numa das paredes do restaurante The Palm,em Washington DC — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Poucos metros dali está outra testemunha ocular da História. Em funcionamento desde 1856,o Old Ebbit Grill é tido como o mais antigo restaurante da capital. A decoração requintada pode enganar,mas seu status de atração turística popular fez dele um ambiente bem relaxado para o almoço ou o jantar. Para quem quiser se aventurar além do cardápio tipicamente americano,há boas opções de frutos do mar,especialmente envolvendo caranguejo e ostras.
Um lugar historicamente frequentado por gente influente é o The Palm,restaurante nas proximidades do agitado Dupont Circle que oferece cortes de carne de boa qualidade,generosos pratos italianos e uma longa carta de vinhos. O tom sóbrio e elegante do salão,no entanto,é quebrado pelas paredes,cobertas por incontáveis caricaturas de políticos,artistas,jornalistas que já comeram por lá. Num canto específico há uma galeria de desenhos de todos os presidentes (e suas respectivas primeiras-damas) desde 1972,quando o restaurante abriu as portas. Estão lá,sorridentes e lado a lado,Donald Trump e Kamala Harris,representando a disputa de momento.
Combinado de pratos do restaurante peruano-asiático China Chilcano by José André,em Washington DC — Foto: Reprodução / Facebook
Nem só de restaurantes “históricos” vive a região central de Washington. Dominada por prédios de órgãos governamentais,empresas de todo tipo e apartamentos de alto padrão,a área é rica em opções gastronômicas das mais variadas influências. Um bom lugar para matar a fome e a curiosidade é a 7th Street,especialmente na região de Penn Quarter-Chinatown.
Ali é possível encontrar casas que refletem a confluência de culturas de que Washington tanto se orgulha. Um exemplo é o China Chilcano by José Andrés,um dos oito restaurantes do chef-celebridade espanhol na cidade. A casa combina a culinária tradicional peruana com referências gastronômicas da China e do Japão,com um resultado instigante e saboroso.
Michelle e Barack Obama são destaque no mural que enfeita a lateral do prédio original do Ben's Chili Bowl,na U Street,em Washington DC — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Por baixo da 7th Street passam duas linhas do bom sistema metroviário de Washington. Uma delas,a Green Line,leva o viajante direto para uma das instituições gastronômicas da cidade. Descendo na estação U Street,uma das primeiras coisas que se vê é o sobrado colorido que abriga,desde 1958,o Ben’s Chili Bowl.
O lugar até hoje é administrado pela família dos fundadores,Ben e Virginia Ali. Os herdeiros preservam as receitas originais do half smoke,a salsicha meio bovina,meio suína,servida com pão e chili,que se tornou um prato-símbolo de DC. É possível também pedir o chili sozinho,acompanhado de arroz,ou sobre uma porção generosa de batatas fritas.
As fachadas coloridas das casas fazem parte da paisagem da região nos arredores da U Street,em Washington DC — Foto: Eduardo Maia / O Globo
O salão,com ares dos anos 1960,é decorado com fotos de celebridades que já bateram ponto ali. Mas nenhuma com tanta popularidade quanto o casal Obama. Barack e Michele,aliás,são as estrelas do mural que cobre a lateral do prédio,ao lado de outras figuras de destaque da comunidade negra americana.
Depois de provar as delícias da família Ali,aproveite para fazer a digestão caminhando pela U Street e arredores. A região,conhecida também como Black Broadway de DC,tem uma forte ligação com comunidade negra desde o fim da Guerra Civil,na década de 1860. Até hoje tem uma vida noturna animada,herança das casas de show e bares que viveram seu auge no começo do século XX.
Casarão em Georgetown,bairro histórico de Washington DC,onde John e Jackie Kennedy moravam quando ele foi eleito presidente dos Estados Unidos — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Quando Washington foi fundada,em 1790,o que hoje é o bairro de Georgetown já existia há quatro décadas e até 1871 permaneceu independente da capital. Por esse histórico,e pelo cenário,composto por casarões e sobrados de ricos comerciantes e produtores de tabaco (produzido nas Virgínias,no outro lado do Rio Potomac),Georgetown parece até outra cidade,e faz do lugar um passeio imperdível.
Suas ruas tranquilas e arborizadas são ótimas para caminhar sem muita pressa. A agitação praticamente se resume a duas ruas: Main Street e Winsconsin Avenue,que concentram boa parte das lojas,cafés e restaurantes,como o Martin’s Tavern. Frequentado por políticos há gerações,é especialmente conhecido por ter sido o lugar onde o então jovem John Kennedy,um ex-aluno da Georgetown University,pediu Jackie (então Bouvier,futuramente Onassis) em casamento na mesa número 3 — é claro que há uma placa identificando o local exato. Há,todo um roteiro específico baseado no casal mais popular da política americana,já que a família manteve residência no bairro até pouco tempo depois do assassinato de JFK.
Visitantes aproveitam o pôr do sol no píer de atividades náuticas,parte do calçadão do The Wharf,área revitalizada em Washington DC,às margens do Rio Potomac — Foto: Eduardo Maia / O Globo
Georgetown tem também um agradável parque às margens do Potomac,onde fica um dos pontos do Water Taxi,um barco turístico que conecta o bairro a The Wharf,uma área revitalizada ao redor do mercado de peixe mais antigo da cidade,fundado em 1805. Nos últimos dez anos,a região passou por uma profunda transformação,ganhando prédios modernos que abrigam hotéis e condomínios sofisticados,restaurantes de todo tipo,marinas de luxo,uma popular casa de espetáculos e um píer para atividades náuticas. Mas a grande graça é caminhar pelo calçadão no fim da tarde,de preferência num fim de semana,e ver o sol se pondo no outro lado do rio,quando todo resto vira detalhe.
Eduardo Maia viajou a convite do Destination DC
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro