O presidente russo,Vladimir Putin,na abertura da cúpula do Brics em Kazan — Foto: AFP
GERADO EM: 25/10/2024 - 04:30
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A cúpula de chefes de Estado e governo do Brics realizada esta semana na cidade russa de Kazan,capital da República do Tartaristão,começou com a Rússia,país anfitrião,tentando “tratorar”,segundo fontes do governo brasileiro,para aprovar uma nova ampliação do grupo,incluindo até mesmo a Venezuela de Nicolás Maduro. A tentativa de tratoraço russo não agradou nem um pouco ao Brasil,membro pleno e fundador do Brics,que não apresentou propostas de novas incorporações. O medo do governo brasileiro,assumido por fontes em Brasília,é de que o Brics acabe se transformando num novo G77,que hoje tem 130 membros e pouca relevância global.
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O Brasil assumirá em breve a presidência do Brics com grandes desafios. O grupo é importante do ponto de vista estratégico,mas faltam a ele projetos,iniciativas comuns,em suma,um horizonte que permita ver ações práticas e resultados concretos. O número de países cresce,entre membros plenos e parceiros,mas o rumo do Brics é incerto.
Esta semana,uma frase circulou de forma insistente entre analistas internacionais: o Brasil não tem como sair do Brics,mas ficar também é difícil. O risco,admitiram fontes diplomáticas,é que o Brics acabe se transformando “num foro político” identificado com o mundo antiocidental. Na cúpula de Kazan,o ministro das Relações Exteriores,Mauro Vieira,deixou claro que o “o Brasil é um país ocidental”,frisando uma diferença em relação aos principais sócios do país no grupo.
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O encontro em Kazan foi dominado pela tentativa da Rússia de derrubar a teoria ocidental do isolamento do país em consequência da invasão da Ucrânia. O Brasil,como deixou claro o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,tem outros interesses. Lula falou em políticas comuns de combate às mudanças climáticas e à fome. Como discutir proteção do meio ambiente com a Rússia,ou Irã? Uma dúvida legítima.
A China já teria expressado interesse em aderir à proposta brasileira de criar uma Aliança Global contra a fome,pilar da presidência brasileira do G20. Mas o tema não tem relevância na agenda do Brics. A reforma do sistema de governança global faz parte,em grande medida por pressão do Brasil,dos debates,e foi incluído na declaração final. Mas o Brasil,até hoje,não recebeu o respaldo de países como a China para sua aspiração de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
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Na visão do assessor internacional da Presidência,Celso Amorim,“o Brics é um patrimônio a ser preservado”,e uma das razões principais é “a importância do grupo para fortalecer o G20”. O Brics,frisa Amorim,“é importante para mostrar que existem outras realidades”.
Mas pertencer ao grupo já não é tão interessante como antes. O Brasil deve lidar com as ambições globais de Rússia e China,principalmente,um desafio para a autonomia da política externa brasileira. Como fortalecer o multilateralismo,pilar dessa política externa,com parceiros que têm suas próprias agendas de poder global? Outra dúvida. Fontes do governo brasileiro argumentam que o Brasil “tem conseguido se impor”. Mas o desgaste é evidente.
Finalmente,ficou difícil para o Brasil compatibilizar sua agenda regional com as novas incorporações do Brics. A Argentina de Javier Milei pulou fora; a Venezuela é uma dor de cabeça,e a Colômbia,que era de enorme interesse para Lula,não pediu para entrar.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro