Justice: de volta aos holofotes — Foto: André Chémétoff
Foram oito anos de distância entre os dois últimos álbuns de estúdio Justice,duo de música eletrônica formado pelos franceses Xavier de Rosnay e Gaspard Augé. Apesar do hiato entre os trabalhos,o último lançamento da dupla,de nome "Hyperdrama",saiu em abril deste ano e já começa a dar frutos,a exemplo do novo EP de remixes e mais um videoclipe da faixa "Neverender" gravada em parceria com o ícone do indie Tame Impala. Com o retorno às criações,a dupla (agora quarentona e com quase duas décadas desde o lançamento do primeiro álbum) também voltou à rotina de shows. E jura ter encontrado um público diferente na audiência.
— Observamos alguns fãs mais 'hardcore' na plateia,mas a maioria é composta de gente bem jovem. Aliás,notamos inclusive mais mulheres e meninas no público,é interessante ver como a audiência tem evoluído. Acho que ter gente de 20 anos na plateia é prova de que fizemos algo bem certo nesse álbum — comenta Gaspard,o mais reservado da dupla. — Claro que amamos nossos fãs que têm a mesma idade que a gente,mas gostamos de estar num panorama contemporâneo da música.
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Apesar da tenra idade dos fãs,os artistas garantem que os celulares onipresentes na plateia não impedem que se estabeleça uma conexão de qualidade com a audiência ao longo do show. Embora até mesmo Bruno Mars peça para a turma que o assiste deixar o aparelhinho no bolso e curtir o momento.
— Foi só uma ou duas vezes que notamos que as pessoas estavam filmando no lugar de viverem o momento. E olha que fizemos algo como 30 shows. Ainda há uma grande energia,as pessoas estão absorvida por ela. O que é muito legal — diz Xavier. — É um pouco estranho para nós ainda subir ao palco,estamos encontrando um meio para nos sentir confortáveis tocando ao vivo.
A dupla,mesmo após o longo hiato que quase chegou a uma década,ainda segue focada em misturar elementos do rock (em sua vertente mais alternativa) e a música dançante,mais especialmente a disco music. Em 2007,quando surgiram com seu trabalho de estreia,o elogiado Cross,o ritmo da noite estava mergulhado no eletrônico do tipo house,algo que não mudou tanto assim,eles avaliam.
— Não somos especialistas em música eletrônica,mas parece que (o cenário) não evoluiu o suficiente. Sentimos que a música eletrônica deveria ser um espaço de inovação e exploração. E não mudou tanto assim nos últimos 20 ou 40 anos — diz Xavier. — Claro isso sem esquecer que existe uma cena underground que tem feito coisas diferentes.
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Talvez a análise mais sintomática dessa "paradeira" na área eletrônica da música seja sentida quando os franceses enumeram suas principais referências musicais. Quase nada de eletrônico vem à mente dos dois,que têm uma apresentação marcada para a Colômbia para o ano que vem,mas ainda não tem planos de voltar ao Brasil,onde estiveram pela última vez há mais de uma década.
— A música eletrônica é o que nos traz as menores influências. Gostamos de glam rock,de música clássica,e de Gabber (uma vertente de tecno). A gente gosta de música que tenha algum tipo de apelo emocional e,até certo ponto,a música eletrônica de grande alcance hoje,para nós,carece de conteúdo musical e emocional. É algo muito linear e muito previsível. Por isso,estamos sempre tentando colocar algum tipo de elemento disruptivo na música que estamos fazendo — dispara Gáspard.
O que une o Justice à música eletrônica,diz Gáspard,é o meio em que é produzida: os sistemas de computadores. Porque,ao fim do dia,eles dizem que se veem como uma banda de disco com certo som futurista (o que não é lá uma descrição muito fora da realidade do que se pode ouvir em Hyperdrama).
Uma das faixas mais radiofônicas do disco,aliás,é justamente "Neverender",que conta com a colaboração dos australianos do Tame Impala e que foi revisitada em quatro mixagens diferentes no EP lançado nesse mês.
— Quando entramos em contato com o Kevin (Parker,o fundador do Tame Impala) para trabalhar nas faixas já tínhamos feito uma espécie de demo das músicas e achamos que,pelo menos para uma delas,ele seria perfeito. E assim foi com a faixa 'Neverender',para nós segue como uma faixa de discoteca,bem moderna —diz Xavier. — Ele também está na faixa "One Night/All Night". A voz dele deixou a música mais triste,bela e sensível. As participações,porém,não mudam a direção do álbum,quando os convidamos já sabemos qual seria o tom do trabalho.
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Tantas opiniões severas sobre a música,é claro,refletem como forma de um perfeccionismo mordaz para ambos os artistas. A ponto de,por vezes,não curtirem o show que está em sua frente diante da obsessão de fazer tudo perfeitamente calculado.
— É tudo muitíssimo organizado,tentamos fazer tudo (no show) na hora certa e no lugar certo,mas isso nunca acontece. Às vezes perdemos o panorama geral (da apresentação) porque estamos focados em muitos detalhes. Terminamos pensando: 'ah,não,estraguei tal parte",o que pode levar a um desapontamento de vários dias — confessa Xavier. —Talvez devêssemos relaxar um pouco. Porque há uma boa aura ao redor do show e do álbum. A ideia é abraçar isso em vez de pensar naquilo que não estava funcionando ou naquela parte que não tocamos bem ou qualquer outra coisa. Estamos todos num momento muito positivo.
© Reportagem diária do entretenimento brasileiro